Mestre do cinema que explora o lado mais obscuro da alma humana, Michael Haneke em ‘’A fita branca’’(2009), quer pesquisar “as raízes do mal”, conforme declarou em uma entrevista sobre o filme.
Acostumado a ser o centro de escândalos a cada obra sua, Haneke, que estudou filosofia e psicologia em Viena, mas adora o cinema e sempre quis ser diretor, diz:
“As pessoas não gostam de encarar a realidade.”
E acrescenta que o seu cinema existe em função do cinema que temos hoje em dia. Em sua opinião,um cinema que “doura a pílula” para vender e fazer dinheiro.
Nascido em Munique na Baviera, esse alemão nascido em 1942, alcançou sucesso internacional com ‘’A professora de piano’’(2001). Nesse filme, Isabelle Huppert protagonizava cenas de sado-masoquismo para o horror de alguns.
Com “Caché”(2005), Haneke ganhou o prêmio de melhor diretor em Cannes. E agora, muitos prêmios depois, em 2009,”A fita branca” levou a Palma de Ouro como o melhor filme do prestigiado festival francês.
Rodado em magnífico preto e branco, quadros suntuosos da natureza do norte da Alemanha revezam-se com cenas em matizes de cinza, envolvendo as várias famílias que vão protagonizar pequenos e grandes dramas.
Estamos em 1913 quando o professor da aldeia começa a contar, retrospectivamente, com a voz de um velho, aquilo que presenciou entre as crianças e os adultos do lugar, até o eclodir da Primeira Guerra Mundial.
Atos maldosos atingem o médico da aldeia, uma camponesa, o filho do barão e o menino retardado. Mas quem praticou essas crueldades? Ninguém viu, ninguém sabe…
O que vemos, quando se aprofunda o que acontece entre as pessoas, é a dura brutalidade que reina nas relações entre adultos e crianças, homens e mulheres da aldeia.
“- Não agüento tanta inveja, mentiras e vinganças”, desabafa a baronesa, uma das raras mulheres da aldeia que ousa pensar e sentir.
No centro de tudo isso parece existir uma ambigüidade fatal entre o que se ensina às crianças e como agem os adultos. Como educar para o bem e a moral quando o educador não pratica aquilo que prega?
Haneke diz sobre o filme:
“Crianças são doutrinadas e se tornam juízes dos outros. Justamente daqueles que empurram sua ideologia “goela a baixo”dessas crianças.”
Inocentes se tornam assassinos.
Castigos injustos e desmedidos levam os torturados a se tornarem piores que os torturadores. A severidade desproporcional aos atos cometidos leva a vinganças perversas.
O diretor do filme, que diz não ser um educador mas um cineasta, adverte para o perigo das ideologias extremistas, tanto de direita quanto de esquerda. Sem esquecer dos fanatismos religiosos. Diz:
”Por causa de uma idéia que lhe parece bela, você se torna um assassino.”
A fita branca, emblema de uma pureza inatingível, adorna o braço de um menino louro, de olhos azuis que, vinte anos depois, marchará à sombra das suásticas.
Mas Haneke adverte que seu filme não é só uma condenação ao nazismo.
As raízes do mal encontram-se fatalmente na natureza humana.
E, por isso,”A fita branca”é uma advertência: alimentada no coração das crianças, a barbárie pode começar a destruição em todo e qualquer lugar desse mundo a qualquer momento.
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