12 Mar, 2010
"Preciosa - uma história de esperança” - “Precious”, Estados Unidos, 2009
Direção: Lee Daniels
Oferecimento
Pior do que ser negra, obesa e analfabeta é não ter a menor ideia de como mudar o que se passa à sua volta.
É uma vida de pesadelo interminável.
Para se defender ela se fecha em um automatismo desolado. Às vezes consegue devanear sobre o que seria uma vida melhor: certamente não ser ela mesma.
Esse é o trágico pano de fundo da vida da jovem de 16 anos que mora no Harlem, Nova York, em 1987, com uma mãe perversa e violenta. Está grávida de seu segundo filho, todos os dois frutos de incesto.
Clareece “Precious” Jones não conseguiria nada nesse mundo se não encontrasse a professora Blu Rain. Expulsa da escola onde não aprendia nada, na escola alternativa para a qual é enviada, ela finalmente, é tratada com cuidado e respeito.
A professora consegue atravessar as defesas monolíticas de Preciosa e tocá-la como ser humano. Começa assim o resgate de uma vida.
O roteiro do filme, premiado com o Oscar de roteiro adaptado, é baseado no livro “Push” de 1996 da escritora negra Sapphire que contou em uma entrevista que quase tudo é real nessa história de “Preciosa”. Ela escutou diversos relatos de meninas negras carentes quando era professora e baseou-se neles para escrever o livro.
Atriz estreante, Gabourey Sidibe que é a Preciosa, vive aos 26 anos o oposto do que foi o destino de sua personagem. Como em um conto de fadas, foi indicada para o Oscar de melhor atriz, concorrendo com monstros sagrados como Meryl Streep.
Dirigido por Lee Daniels, o primeiro negro a ser indicado para o Oscar de melhor diretor, “Preciosa” tem um ótimo elenco de atores negros e hispânicos. Paula Patton é a amorosa professora Blu Rain, Mariah Carey a assistente social e Lenny Kravitz o enfermeiro simpático.
Mo’Nique faz a mãe monstruosa com tal realismo que ganhou o Globo de Ouro e levou o Oscar de atriz coadjuvante, para o qual era a favorita em todas as listas.
O filme ainda concorreu ao Oscar do melhor filme do ano e na véspera foi premiado com cinco Spirit, o Oscar dos independentes: melhor filme, direção, roteiro adaptado, atriz (Gabourey Sidibe, a Gabby) e atriz coadjuvante (Mo’Nique).
Não é fácil assistir ao filme “Preciosa” porque ele trata de questões que a maioria das pessoas gosta de ignorar por puro sentido de auto-preservação.
Mas, se você é uma pessoa que já ultrapassou essa barreira e tem interesse em observar o processo de humanização, encare “Preciosa”. Talvez o filme ensine a você uma ou duas coisas importantes.
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8 Mar, 2010
Vamos começar pelo final?
“Guerra ao terror” levou seis das suas nove indicações.
Um tremendo sucesso para Kathryn Bigelow, a primeira mulher a ganhar um Oscar de direção.
Barbra Streisand, adivinhando o resultado só aceitou entregar o prêmio por causa disso.
Bonita, forte, em um vestido simples e sem jóias ofuscantes, essa talentosa mulher subiu ao palco do Oscar para agradecer o prêmio visivelmente emocionada. Foi aplaudida de pé com palmas e gritos de alegria. Dedicou seu prêmio aos militares que arriscam sua vida todos os dias e pediu que eles voltassem sãos e salvos para casa.
E quando Tom Hanks anuncia o melhor filme do ano, ela volta ao microfone, agora mais trêmula e diz que também dedica seu filme aos bombeiros, equipes de emergência, enfim todos aqueles que nos socorrem nos momentos em que precisamos de ajuda.
Bela vitória para um filme de baixo orçamento que só começou a ser visto pelas plateias do mundo todo quando começou a ganhar prêmios. E foi uma enxurrada que culminou com os Oscars de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original, melhor edição, melhor edição de som, melhor efeitos sonoros.
“Avatar” de James Cameron, que já foi marido de Kathryn Bigelow, o outro filme que conseguiu nove indicações, ficou com três: melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor efeitos visuais. Foram prêmios merecidos.
Essa guerra de bastidores foi na verdade vencida pelo cinema, a arte que tanto inclui vencedores de bilheteria como pequenos filmes de autor.
Enquanto Bigelow faz a gente se sentir mal na cadeira do cinema tanto é real a sensação de opressão e medo que o filme dela passa, Cameron maravilha o nosso olhar e nos faz escapar da realidade do planeta Terra para torcer pelos seres azuis de Pandora ameaçados pela ganância dos mercenários humanos.
Uma coisa os dois filmes tem em comum: falam da paz enquanto encenam a guerra.
Tanto o povo iraquiano quanto os Na’avi de Pandora lutam por sua terra, querendo expulsar um inimigo invasor. Nesse sentido os dois filmes têm uma mensagem pacifista, que é a que melhor combina com uma postura contemporânea.
A melhor atriz foi Sandra Bullock pelo filme “Um sonho possível”. É seu primeiro Oscar e aos 40 anos foi indicada pela primeira vez.
O engraçado foi que na véspera ela recebeu o prêmio Framboesa de Ouro que é dado à pior atriz do ano por sua atuação em “Maluca paixão”.
O melhor ator foi Jeff Bridges por “Coração louco”. Venceu o favorito, tantas vezes indicado e que nunca tinha levado um Oscar para a casa. O filme ganhou ainda o Oscar para a melhor canção original.
“Preciosa” ganhou dois Oscar: melhor roteiro adaptado e melhor atriz coadjuvante. Mo’Nique que faz a mãe monstruosa no filme ganhou todos os prêmios do ano por sua fabulosa interpretação. Era a favorita.
“Bastardos inglórios” ganhou um Oscar que foi para o favorito ao prêmio de melhor ator coadjuvante, Christoph Waltz, que interpretou com talento o infame “caçador de judeus”.
“Up-altas aventuras” da Disney levou dois Oscars: melhor animação e melhor trilha sonora original.
“Young Victoria” que ainda não vimos no Brasil ganhou o Oscar de melhor figurino.
E o prêmio de melhor filme estrangeiro foi uma das únicas verdadeiras surpresas do Oscar. O filme argentino “O segredo dos seus olhos” levou a melhor sobre o favorito de todas as listas “A fita branca”.
Quanto à cerimônia em si foi bem austera. Claro que havia os inevitáveis cristais, luzes e lustres. Mas nesse ano o foco foi mais sobre os atores e atrizes que fazem cinema do que um espetáculo como em outros anos passados.
Na abertura homens de fraque e mulheres seminuas com leques de plumas tipo Lido de Paris fizeram fundo para a chegada de Steve Martin e Alec Baldwin que desceram do teto. Mas foi só.
A maior novidade foi colocar os indicados nas primeiras filas o que propiciou à câmara focalizar todas as expressões enquanto os mestres de cerimônia faziam gracinhas com eles.
Meryl Streep foi a que se saiu melhor, rindo das piadinhas que brincavam com o fato dela ter sido a mais indicada ao Oscar e também a que mais perdeu. George Clooney fazia caras de enfado.
Houve um número de dança com 70 dançarinos e alguns bons “street dancers”. Mas o figurino era de dar dó.
No mais algumas atrizes estavam bem bonitas, outras elegantes e nenhuma destoou completamente. Aliás quase todas, menos Meryl Streep (de branco e mangas longas), usaram tomara-que-caia nas cores dourado,cinza ou rosa cor de carne.
Sandra Bullock vestiu Marquesa dourado, Helen Mirren estava de lilás Bagdley Mishka, Jennifer Lopez usava um Armani imponente de brocado lilás com cauda longa, Sarah Jessica Parker (mais magra do que nunca) desfilou Chanel amarelo com flores prateadas delineando o decote e Kate Winslet escolheu um Saint Laurent cinza prata.
Ano que vem tem mais.
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