Água para Elefantes

“Água para Elefantes”- “Water for Elephants”, Estados Unidos, 2011

Direção: Francis Lawrence

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Antigamente, circos sempre davam um bom cenário para belas histórias no cinema. “O Maior Espetáculo da Terra”, 1952, dirigido por Cecil B. de Mille, ganhou o Oscar de melhor filme, com um triângulo amoroso de trapezistas. Ciúme e perigo, vôos fatais.

“Água para Elefantes” retoma esse cenário e o mesmo tema mas de uma forma mais sombria, tendo como pano de fundo o período da Grande Depressão nos Estados Unidos, nos anos 30.

A história é contada pelo protagonista, já muito velhinho (o maravilhoso Hall Halbrook), lúcido e nada desmemoriado.

Defrontado por acaso com uma foto de 1931, ele relembra aquilo que tinha sido a grande aventura de sua vida e também o mais famoso desastre da história dos circos.

“- O senhor estava lá no incêndio? “, pergunta um rapaz.

O velho se emociona e conta, num grande “flashback”, a sua vida no Circo dos Irmãos Benzini.

Tudo começa quando, durante seu último exame na Universidade de Cornell para se tornar veterinário, fica sabendo da morte de seus pais, poloneses imigrantes, num acidente de carro e ouve que não tem mais nada. A casa fora hipotecada para pagar seus estudos.

Desorientado, pega um trem em movimento e, sem querer vai parar no Circo Benzini.

Admira o trabalho dos homens que batem estacas fazendo a lona se abrir, majestosa. Animais selvagens em jaulas estreitas o sensibilizam. Ele acaricia a girafa.

De repente, Marlena aparece. De malha branca bordada e uma tiara brilhante na cabeça, examina preocupada o seu cavalo branco.

Jacob Jankowski, o veterinário(Robert Pattison) e a bela amazona(Reese Whiterspoon) se aproximam pelo amor que ambos tem pelos animais. Eles ainda não sabem mas formou-se o triângulo e surgiu o perigo.

August, dono do circo, (o sempre magnífico Christoph Waltz) é casado com Marlena e dirige homens e animais com mão de ferro e sem piedade. É perverso e covarde. Vai haver confronto.

Entretanto, o melhor do filme, para mim, é a presença enorme e mágica da elefanta Rosie, de 53 anos que é Tai na vida real. É através dela que os mais tocantes momentos do filme acontecem.

A gente se emociona quando sua tromba carinhosa enlaça o veterinário com delicadeza ou quando ela se deixa levar com graça por Marlena. Corta o coração do público quando, por causa do maldoso dono do circo, ela jaz por terra semi-morta. Mas nos aliviamos quando sobrevive para mostrar o que significa “memória de elefante”.

Ela é a estrela maior, sem sombra de dúvida.

O ex-vampiro Robert Pattison está cada vez mais bonito e se diz aliviado por poder representar, finalmente, um ser humano. Mas o casal não consegue passar encantamento. Reese Whiterspoon, com cabelos à Jean Harlow e muito magrinha, não faz a câmara se enamorar por ela.

O filme é bem cuidado e tem figurino, maquiagem e direção de arte impecáveis. A fotografia de Rodrigo Prieto, que já fez “Biutiful”, “Abraços Partidos”e “Babel”, cria um clima pesado e condizente com a direção que a história toma. E consegue beleza, apesar disso.

Adaptado do livro de 1996 da escritora canadense Sara Gruen, o filme “Água para Elefantes” estimula o espectador que gosta de ler a descobrir o texto original (Editora Aguadeiro).

Não é sempre que um filme consegue dar conta de um livro.

Mas “’Água para Elefantes” não vai decepcionar quem vai ao cinema para se distrair.

É bom que assim seja e que haja filmes para todo tipo de público.

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A Minha Versão do Amor

“A Minha Versão do Amor”- “Barney’s Version”, Estados Unidos, 2010

Direção: Richard J. Lewis

Um charuto no cinzeiro, um copo de uísque sobre a mesa e um homem de meia idade no telefone.

“- Chame minha esposa!”, diz com voz pastosa.

“- São 3 da manhã. Ela não vai falar com você”, respondem do outro lado da linha.

“- E aquelas fotos dela nua, quando era bem novinha? Você não vai querer ver?”, pergunta o homem com ironia maldosa.

Assim somos apresentados a Barney Panofsky, 65 anos, quase careca e muitos quilos a mais em seu corpo atarracado e envelhecido.

A filha dele pergunta no dia seguinte:

“_ Por que telefonou às 3 da madrugada para o marido de minha mãe?”

Parece que Barney não se conforma com essa separação.

Ele tem uma produtora de TV que faz filmes classe B, a “Totally Unnecessary Productions”. O nome diz tudo.

Está encrencado com um delegado de polícia por causa de algo que aconteceu no passado e pior, sua lucidez começa a falhar. Vive perdendo o carro.

É aí que vamos começar a ver o desfile de suas memórias, em “flashbacks”. A versão de Barney sobre sua vida.

Essa história vai girar em torno às suas mulheres. Ou melhor, ex-mulheres, porque à esta altura já percebemos que ele está só e desconsolado.

Assim, vamos a 1974. Na Roma boêmia, Barney, cercado de amigos farristas, ainda com cabelos crespos e mais magro, se casa com uma pintora pornô, uma linda judia ruiva, desequilibrada e auto-destrutiva ( Rachelle Lefevre). Ela está grávida e pensa que o filho é dele. O final é trágico.

Já em 1979, no Canadá, Barney casa-se uma segunda vez com outra linda judia, desta vez morena, rica e faladeira (Minnie Driver).

É a ocasião de vermos um legítimo casamento judaico com muita dança, comida a granel, famílias emperiquitadas e muita alegria.

Só o noivo parece macambúzio, bebendo muito e até acompanhando um jogo de hóquei no bar com os amigos.

Será nessa festa de seu casamento que Barney vai conhecer aquela que ele diz ser a mulher de sua vida (a suave Rosamund Pike). Ela vai ser a mãe de seus dois filhos e, com ela, ele vive um romance atrapalhado pelos seus ciúmes e egoismo, mas intenso e correspondido.

Barney Panofsky é um personagem que vai nos conquistando ao longo do filme. Narcisista, ególatra e machista, sofre transformações por conta das “trombadas” que leva pela vida e acaba por nos comover. É um veiculo sensacional para a atuação de Paul Giamatti, que interpreta com paixão e sinceridade esse homem por vezes detestável.

Dirigido com competência por Richard J. Lewis, com roteiro de Michael Kanyves, o filme é a adaptação para o cinema do livro “A Versão de Barney” (Cia das Letras), de Mordechai Richter (1931- 2001), a quem o filme é dedicado.

Considerado um dos mais famosos escritores canadenses, ele retrata em seu último livro de 1997, com amor e ironia, o meio em que viveu: os judeus do Québec.

Os diálogos são ótimos e quem entende “idish”, o dialeto dos judeus da Europa Central, se delicia com as palavras enxertadas nas frases em inglês.

O humor judaico do filme é inteligente e peculiar. O toque picante fica por conta das cenas que envolvem o pai de Barney, um policial aposentado, mal educado e vulgar. Dustin Hoffman encarna essa figura, tão hilariante quanto inconveniente, com o talento de sempre.

“A Minha Versão do Amor” é um filme que quer divertir e consegue, fazendo com que a gente ria e também se emocione nas situações mais melodramáticas. Prende o espectador nem tanto pelo riso mas com a humanidade dos tipos que aparecem na história.

Vá ver e pense como a vida é contada sempre como uma narrativa subjetiva. A verdade, nesse mundo, só existe como a versão de cada um.

Nas histórias que contamos sobre a nossa vida sempre valerá o dito “Assim é, se lhe parece”. Concordam?

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