Vejo Você no Próximo Verão
“Vejo Você no Próximo Verão”- “Jack Goes Boating”, Estados Unidos, 2011
Direção: Philip Seymour Hoffman
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A primeira imagem do filme mostra Jack (Philip Seymour Hoffman), um sujeito gordo, ainda jovem, deitado em sua cama, de pijama, pensando.
Seu rosto mostra que ele imagina algo agradável, braços cruzados atrás da cabeça.
No dia seguinte, vamos ver o que Jack faz na vida. É chofer de limusine, empregado do tio.
Seu rosto tem uma expressão plácida, bovina, usa gorro na cabeça grande e fones de ouvido, quando não está escutando “reggae” bem alto no rádio do carro.
Imediatamente, o personagem nos comove. Sentimos nele uma necessidade de se defender do mundo, cabeça e ouvidos bem tapados.
“- Você pensou a respeito?“, pergunta o amigo Clyde (John Ortiz).
O oposto de Jack, Clyde é seu melhor e único amigo, latino, falador, extrovertido.
Trabalham juntos e, parece que o que Jack tem na cabeça, é um convite de Clyde e sua mulher Lucy (Daphne Rubin-Vega). Querem que conheça Connie (Amy Ryan), solteira também como ele e que trabalha com Lucy numa empresa de serviços funerários.
Enquanto os dois amigos conversam no estacionamento da empresa de limusines, o perfil distante de New York conta que esses personagens não são glamurosos como os que vivem em Manhattan. Estão à margem. Suas histórias comuns vão ser contadas. Mas de um modo delicado e empático.
O roteiro de Robert Glaudini, que é o autor da peça que inspirou o filme, e a direção de Philip Seymour Hoffman, que estréia auspiciosamente nessa função, nos mostram aos poucos, episódios das vidas dessas quatro pessoas, nada atraentes a um primeiro olhar, mas que, ao longo do filme, vão ensinar algo sobre o amor.
Sim. “Vejo Você no Próximo Verão” é uma história de amor. Ou amores. Porque vamos presenciar um relacionamento que perde o rumo e outro que desabrocha.
Os latinos, casados há algum tempo, enveredam por um caminho de jogos sadomasoquistas que leva a um rancor cada vez maior entre eles. Os dois acreditam que casamento é assim mesmo, não tem outro jeito.
Mas, estranhamente, projetam felicidade para o amigo Jack e Connie, revelando que, no começo, o amor deles pode ter sido uma coisa boa.
Jack, com todas as suas defesas engatilhadas para se defender do mundo, fala muito pouco mas observa atentamente as pessoas à sua volta.
Uma cliente diz a frase que o leva a dar o primeiro passo na busca de aumentar sua auto-estima, para que possa estar à altura do encontro com o amor, que ele tanto teme quanto almeja: “Dress to win!” Ou seja, a aparência precisa melhorar para que se consiga o que se quer.
E lá vai Jack à procura de gravata e camisa para o jantar com Connie na casa dos latinos. E assim se sente com mais coragem.
Aprender a nadar e cozinhar, vão ser outros passos que Jack vai dar para mudar sua atitude e revelar para o mundo potencialidades que ele vai desenvolver. Seu alvo é agradar à Connie.
Por sua vez, ela que tanto fala de sexo, parece temer a aproximação dos homens, que estariam sempre atrás dela com más intenções. Prestem atenção na sequência do metrô.
Connie vai ser flagrada em uma cena sem palavras que diz tudo: aquilo que se teme com horror, é quase sempre o desejo mais forte e reprimido…
As fantasias sexuais são perigosas quando atuadas cegamente, por impulso, mas podem ser prazeirosas com o parceiro certo.
“Vejo Você no Próximo Verão”, sem ser um grande filme, tem seu charme e é uma oportunidade para ótimos atores se mostrarem em cena.
Philip Seymour Hoffman, que ganhou o Oscar de melhor ator pelo seu extraordinário “Capote” (2005), parece que pode ampliar seu leque de funções no cinema como diretor, conquistando assim, novos territórios para o seu enorme talento.