O Principe do Deserto

“O Principe do Deserto”- “Black Gold”, França /Itália / Tunisia, 2011

Direção: Jean-Jacques Annaud

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O deserto, com todas as suas cores e sua beleza natural, é o prato principal do último filme do francês Jean- Jacques Annaud de “A Guerra do Fogo” (1981) e “O Nome da Rosa” (1986).

Filmado na Tunisia e no Catar e baseado na história do escritor Hans Ruech, “South of Heart”, “O Principe do Deserto” foi produzido por Tarak Bem Ammar que guardou os direitos do livro por mais de trinta anos. Ele sempre acreditou na força dessa história.

Mas o filme, que é um épico do começo do século XX, só foi realizado graças ao apoio da princesa do Catar, Mayassa Bint Hamad Al- Thani, que criou a Doha Films, inaugurando no Catar uma indústria cinematográfica.

Quando o filme começa, estamos na península arábica, dividida entre tribos inimigas.

Seus principais líderes, o emir Nesib (Antonio Banderas) e o sultão Ammar (Mark Strong), decidem solucionar o conflito que envolve a disputa do território conhecido como Faixa Amarela, à moda antiga. O sultão Ammar entrega seus dois filhos ao emir, como garantia de que não irão brigar pela posse daquelas terras.

Os rapazes são Saleeh ( Akin Gazi), guerreiro que gosta de caçar com o seu falcão e Auda (Tahar Rahim, que fez o filme elogiadíssimo, “O Profeta”) e que vive na biblioteca do palácio e troca olhares apaixonados com a princesa Leyla (Freida Pinto), filha do emir, bela morena com olhos aveludados.

“- Ser árabe é ser um garçom no banquete do mundo…” queixa-se o emir Nesib, ambicionando o que ele considera ser o verdadeiro modo de se viver, o ocidental, com luxos e tecnologias que o Oriente Médio desconhece.

Quando chegam os americanos do Texas ao seu reino, dizendo que a Faixa Amarela contém petróleo, da melhor qualidade que há no mundo, Nesib não hesita em entregar o “ouro negro” a eles, em troca de dinheiro para comprar tanques de guerra blindados e um arsenal de armas, além dos luxos que cobiçava. Ele sabe que vai ter que confrontar-se com o sultão Ammar com quem assinou o tratado que respeitava aquele território, que agora se mostra muito valioso.

Astuciosamente mata o primogênito do sultão, que vivia sob sua proteção e casa o filho menor, Auda, com sua filha Leyla.

Com esse casamento, Nesib pretende que não haja guerra entre as tribos, já que formam agora uma só família.

Mas a guerra é inevitável e é o melhor momento para o diretor Jean-Jacques Annaud mostrar o que faz tão bem. Cenas aéreas, milhares de figurantes, camelos, cavalos, guerreiros em belas roupas azuis e vermelhas do exército do príncipe Auda, combatem os tanques do emir Nesib. O sol implacável do deserto é um personagem terrível a ser enfrentado por homens e animais.

É a tradição, com seus costumes milenares, contra o que se chama de progresso no mundo ocidental. E muitos dos que habitam essa região, se negam a adotar tal modo de vida.

O filme é bonito e bem cuidado. Mas não chega a ser imperdível para quem gosta de conhecer as tramas políticas, das quais ficamos sabendo bem pouco. Tudo é visto de relance, sem que o filme se aprofunde em nada…

“O Principe do Deserto” é um filme para quem gosta de distrair-se com belas paisagens e não se importa muito com o que aconteceu depois. Esses vão descansar com prazer os olhos nas dunas do deserto e nos horizontes azuis.

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As Neves do Kilimanjaro

“As Neves do Kilimanjaro”- “Les Neiges du Kilimandjaro”- França, 2011

Direção: Robert Guédiguian

Muitos anos separam as histórias de “Les Pauvres Gens” ou “Os Pobres”, conforme a tradução do poema de Victor Hugo (1802-1885), do filme “As Neves do Kilimanjaro”. Mas algo no poema, mexeu com o diretor de cinema francês, Robert Guédiguian e ficou em sua memória. Um dia, ele resolveu criar um roteiro que trouxesse para um filme seu, um final semelhante ao imaginado pelo grande escritor francês do século XIX. E conseguiu.

Guédiguian e Victor Hugo tem muito em comum. “Les Misérables” ou “Os Miseráveis”, o grande romance francês, tem um tema que é explorado também pelo cineasta com ideias políticas de esquerda, em “As Neves do Kilimanjaro”, mas que são compartilhadas com os humanistas em geral, já que são valores que não podem desaparecer de nossa cultura.

O personagem principal de “Os Miseráveis”, Jean Valjean, um homem bom mas que ficou muito tempo na prisão, é perdoado por um roubo praticado em nome de uma necessidade premente e isso o coloca no rumo certo de sua vida.

“As Neves do Kilimanjaro” é um filme simples, direto e aparentemente comum. Mas há algo novo aqui. O filme discute com sobriedade a ética pessoal. Os valores que guiam a conduta de cada pessoa e que podem mudar ao longo da vida.

Na história, em Marselha, o sindicato dos pescadores faz um trato com os patrões e resolve sortear os empregados que serão demitidos por causa da crise financeira.

Michel (Jean-Pierre Darroussin, excelente), o diretor do sindicato que poderia ter retirado seu nome da lista, mas não o faz, é sorteado e demitido. Como ele está perto de se aposentar, será difícil encontrar um novo emprego.

A sorte dele é que sua mulher Marie-Claire (a ótima Ariane Ascaride) trabalha e não vai faltar nada para essa família, com filhos crescidos e que tem vida própria.

O casal comemora as bodas de prata e todos do sindicato comemoram com um grande bolo de “profitérolles” e uma surpresa: passagem e dinheiro para gastar em uma viagem à Tanzânia, sonho do casal, que adorava a música de Pascal Daneli que canta, numa balada romântica, as neves do monte Kilimanjaro.

Mas um roubo faz soçobrar esse sonho…

E vamos ver as diferentes reações das pessoas que são prejudicadas. Alguns reagem com raiva e querem justiça rigorosa, outros vão se abrir à compaixão, exercer a solidariedade amorosa e desfrutar da gratidão.

É certamente um filme que faz pensar e nos aproxima de uma esperança: a descoberta do amor ao próximo.

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