Xingu

“Xingu”- Brasil, 2011

Direção: Cao Hamburger

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Andar por terras em que ninguém andou… Esse era o sonho de três irmãos, nos anos 40, que vai mudar o destino de muita gente que vive ainda no coração do Brasil.

Eles são os descendentes dos donos da terra que Cabral descobriu para os portugueses mas nunca tinham sido respeitados. Eram milhões, morreram muitos no contato com os brancos mas, agora, graças aos Villas Bôas, os índios tem um território só deles, o Parque do Xingu.

“Eles nunca tiveram fronteiras mas agora, fronteira era a melhor coisa que eles poderiam ter”, escreve Orlando Villas Bôas no livro que conta a história dos irmãos, “A Marcha para o Oeste”.

O filme “Xingu”,inspirado nesse livro, mostra com beleza e emoção, o que foi a vida dos três irmãos que, um dia, resolveram ir atrás de uma aventura, a primeira expedição que levaria homens brancos ao Roncador- Xingu. Era 1943 e Getulio Vargas estava à frente do governo.

Claudio (João Miguel), Orlando (Felipe Camargo) e Leonardo (Caio Blat), juntaram-se a peões e garimpeiros analfabetos e seguiram de avião de hélice rumo à floresta para fazer contato com os índios.

E, após o primeiro encontro, vencidos o medo e a estranheza, Orlando escreve:

“Para mim eles não era selvagens. Eu, simplesmente estava diante de outra civilização. O encontro mudou as nossas vidas para sempre.”

Cao Hamburger ( “O Ano em que Meus Pais Sairam de Férias” 2006) dirigiu “Xingu”acompanhando os irmãos defensores dos índios, fazendo com que os brasileiros que nunca tinham ouvido falar deles ou muito vagamente, fizessem essa descoberta.

Fazer contato era a missão deles. Com suas canoas a remo, cruzavam os rios de Mato Grosso, à procura de povos indígenas que nunca tinham visto um homem branco.

Mas os impecilhos, as decepções, a falta de apoio do governo, as lutas com os homens que cobiçavam as terras dos índios e pagavam para vê-los exterminados e as brigas entre os irmãos por causa das condições de vida que estavam longe da aventura sonhada inicialmente, são o recheio do filme.

Estamos num pedaço virgem do Brasil e o que restou dos povos da mata, amparados pelos Villas Bôas, iniciou em 1961 (ano em que terras da reserva são doadas por decreto do presidente Janio Quadros), um trabalho que irá culminar com a solidificação do Parque Nacional do Xingu, hoje uma realidade.

Cao Hamburguer, o diretor do filme diz:

“- Queria muito ter o ponto de vista dos índios nessa história, por isso fiz questão que participassem da pesquisa, contribuíssem no roteiro e trabalhassem como atores.”

Cao Hamburguer conseguiu com isso que o filme tivesse uma autenticidade necessária para dar peso à epopéia que é contada. E também chamar a atenção para a causa defendida.

Depois de “Xingu”, além da admiração pelo trabalho dos irmãos Villas Bôas, indicados ao prêmio Nobel em 1971, outro ponto importante é levantado: a questão dos povos indígenas ainda precisa ser mais amplamente discutida pelos brasileiros.

Como integrar o índio de maneira sensata, ao mesmo tempo respeitando sua cultura? É uma tarefa difícil, mas necessária, para a nossa geração e as futuras.

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Espelho, Espelho Meu

“Espelho, Espelho Meu”- “Mirror, Mirror”- Estados Unidos 2011

Direção: Tarsem Singh

A conhecida história da Branca de Neve dos livros de nossa infância e do desenho inesquecível de Walt Disney (1938), ganha roupagens novas em “Espelho, Espelho Meu” mas, no fundo continua a mesma fábula.

“Espelho, Espelho Meu” tem os ingredientes necessários para ensinar que toda donzela tem um pai que é uma fera, que a mãe pode ser madrasta na adolescência da menina, que beleza apenas não põe a mesa, como diz o ditado e que um príncipe é sempre muito bem-vindo, mesmo que seja só bonito e bobo.

À beira de um lago azul, cercado de florestas verdes, em cima de uma coluna negra de rocha, de frente para o abismo, lá está o castelo onde vive prisioneira a princesa (a lindinha Lily Collins, uma mistura de Audrey Hepburn e Leslie Caron) e a madrasta má (a ótima Julia Roberts) tão inteligente e bela quanto voraz e onipotente.

A conhecida rivalidade e a inveja entre as gerações femininas é o centro da história e sempre será.

E então entra em cena a magia que, negra ou branca, todos temos dentro de nós mesmos.

Em belíssimas cenas escurecidas, Julia Roberts mergulha no espelho líquido do seu quarto e vai para um lugar onde outro espelho, outro reflexo dela, aconselha a ter cuidado com esse plano de fazer Branca de Neve desaparecer.

Do alto de sua arrogância, ela não ouve a si mesma e vai se dar mal. No fim, vai ter que provar do próprio veneno.

O diretor indiano Tarsem Singh conta a história antiga com sabores novos. Há um humor afiado que, às vezes, se perde na tradução e, decididamente, há uma guinada na imagem dócil e caseira de Branca de Neve. Aqui ela veste calças para lutar e defender os seus direitos.

Mas não deixou de ser meiga e solidária. Os passarinhos foram substituídos pelos pobres súditos da rainha má, que Branca, politicamente correta, salva da expoliação que sofrem naquele reino.

É hilário o “spa”da rainha, que ironiza o que algumas mulheres passam para parecer uns anos mais jovens e, nem sempre conseguem. Muitas risadas com as abelhas-botox picando os lábios de Julia Roberts, as máscaras malcheirosas e as ferroadas do escorpião para tirar a celulite.

Os anões, que agora são ladrões, brincam com a ideia do politicamente incorreto, bancando os marginalizados que se revoltam e retribuem maldade com maldade.

E os figurinos? Roubam a cena. São tão lindos e pomposos os vestidos de Julia Roberts, com menção especial ao vestido de noiva, todo em pétalas brancas, que distraem os nossos olhos do resto.

Branca de Neve de cisne, no baile à fantasia em que conhece o príncipe (Armie Hammer) e com a gueixa revisitada do vestido que usa no seu casamento, é simplesmente uma visão. Isso para não falar dos intrincados figurinos da corte, feitos com uma incrível imaginação.

Eiko Ishioda, a figurinista quem o filme é dedicado, morreu em janeiro último. “Espelho, Espelho meu” foi o seu último trabalho. Grande perda para a fantasia no cinema.

E, no final, Hollywood se inclina perante Bollywood. Branca de Neve canta e todos dançam como se estivessem em Mumbai. Sinal dos tempos.

“Espelho, Espelho Meu” tem lá os seus encantos. Quem ainda é ou já foi uma garota, vai apreciá-los.

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