Bem Amadas

“Bem Amadas”- “Les Bien-Aimés” França/ Inglaterra/ República Tcheca, 2011

Direção: Christophe Honoré

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Paris, 1964. Pessoas bem vestidas passeiam pelas ruas, admirando as vitrines. Ouve-se, em francês, a música “These boots are made for walking”, enquanto acompanhamos uma vendedora da loja de sapatos Roger Vivier, esconder em sua saia rodada um par vermelho de salto alto.

A loja está fechando e a dona dispensa a garota loira que, quando se vê longe, descalça as sapatilhas e experimenta os sapatos roubados em frente a uma vitrine que lhe serve de espelho.

Nesse momento, um rapaz a confunde com uma “profissional” de rua e oferece dinheiro pelos seus serviços. E ela aceita, no impulso.

Ouvimos uma voz feminina que comenta em “off ”:

“- Se Roger Vivier nunca tivesse feito sapatos, mamãe e papai nunca teriam se encontrado.”

A mãe Madeleine, quando jovem, é Ludivine Sagnier e Catherine Deneuve, quando mais velha. E a filha Véra é Chiara Mastroianni, na vida real filha de Deneuve e Marcelo Mastroianni. Ela puxou a beleza dos pais mas, como atriz, deve ser difícil ser comparada a dois dos mais talentosos “monstros” do cinema.

No filme, o pai de Véra é um tcheco alto e bonito, o sérvio Rasha Bukvic, um cliente que se enamora de Madeleine e a leva para Praga.

E começam assim, as histórias de amor e dor que todos os personagens do filme vão viver seja em Praga, Londres, Paris, Montreal ou Nova Iorque, durante um período de 40 anos.

O amor e seus percalços é o tema de “Bem Amadas”, uma tradução que não tem nada a ver com o espírito do filme, nem com o titulo em francês, já que nele, tanto homens como mulheres vão viver seus momentos de bem amados.

É o segundo musical do diretor francês de 42 anos Christophe Honoré, que já tinha feito “Canções de Amor” em 2008. Ele segue uma tradição antiga francesa, que todo mundo que gosta de musicais adorou, quando viu Catherine Deneuve, mocinha, em “Guarda-Chuvas do Amor”- “Les Parapluies de Cherbourg” de 1964, de Jacques Démy, que ganhou Oscar de melhor filme estrangeiro, Palma de Ouro em Cannes e Globo de Ouro.

Como manda essa tradição, as músicas do filme, escritas por Alex Beaupain, são cantadas sem grandes orquestrações, nem coreografias. As palavras são entoadas de maneira natural, sem exageros.

O diretor tcheco Milos Forman, Louis Garrel, Michel Delpech e Paul Schneider vão contracenar com as mulheres do filme e também terão que se ver às voltas com tudo que o amor sempre traz para quem se apaixona.

Como diz o refrão da última canção: “Posso viver sem você, mas não posso viver sem te amar.”

Uma reflexão que se impõe é a comparação do que era o amor livre nos anos 60 e o que é amar agora, com tudo de pesado que a sexualidade pode trazer hoje em dia para as pessoas. A descontração versus a paranoia e o perigo real dos tempos de AIDS.

Há quem irá reclamar de “Bem Amadas” e dizer que o filme é longo e meloso e que as músicas não são nada demais. Estes, já estão avisados. Evitem.

Porque “Bem Amadas” é para pessoas que gostam de experimentar um cinema diferente do habitual, que são muito românticas e admiram Catherine Deneuve, um ícone das telas.

E, pode apostar, que não são tão poucos assim não.

 

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Na Estrada

“Na Estrada”–“On the Road”, França / Inglaterra/ Estados Unidos / Brasil, 2012

Direção: Walter Salles

Mesmo que a relação da maioria do público com o assunto seja distante, quase todo mundo já ouviu falar do escritor americano Jack Kerouac, que viveu de 1922 a 1969 e que escreveu o livro “On the Road” em 1957. Ele foi o poeta ícone da geração “beat” que lia Proust, Rimbaud e James Joyce.

É importante saber que essa geração “beat” influenciou muita gente, inclusive os “hippies”, que se consideravam seus herdeiros.

Kerouac defendia uma escrita livre e espontânea, um jeito de escrever que marcou a literatura que apareceu depois dele.

Politicamente, os escritores dessa geração “beat” identificavam-se com ideias anarquistas e de esquerda, mas seu principal foco era o auto-conhecimento, que eles achavam que viria através da adoção de um comportamento transgressivo que ia contra os valores moralistas da época. Vale lembrar que nesse momento do pós Segunda Guerra, os Estados Unidos viviam a era do macartismo, como ficou conhecida a campanha liderada pelo senador McCarthy, de perseguição política aos considerados comunistas e desrespeito aos direitos civis. Foi o tempo da “caça às bruxas”.

O novo filme de Walter Salles, “Na Estrada”, retrata a vida desses escritores, numa adaptação que parecia impossível de ser feita, do livro “On the Road”.
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