Frankenweenie

“Frankenweenie”- Idem, Estados Unidos, 2012

Direção: Tim Burton

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Uma família anos 60 sentada no sofá com filho ecachorro. Todos com óculos 3D. Victor Frankenstein, o menino talentoso, é o
autor do filminho que diverte pai e mãe. O personagem principal é Sparky, o seu “pet”, um monstro do bem no filme caseiro.

A mãe, preocupada, comenta que Sparky é o único amigo deVictor. E a tragédia vai acontecer. O menino vê o cãozinho ser atropelado e
morto.

Como muitas outras crianças, Victor vai ter que prantearseu amiguinho e deparar-se pela primeira vez com a morte. O luto vai fazer parte
do processo de crescimento e a perda, inevitável, dos entes queridos, é uma experiência que geralmente se inicia com a morte de um bichinho
amado.

Não foi diferente com o diretor Tim Burton, 54 anos, queperdeu seu poodle muito querido quando era criança. Ele inspirou-se em sua
própria história de vida para fazer “Frankenweenie”.

Aliás, a animação que usa a técnica “stop motion”, jáusada por Burton em “A Noiva Cadáver”de 2005, teve uma primeira versão como um
curta metragem com atores em 1984, considerada muito impressionante para crianças pelo Estúdio Disney, que vetou a distribuição do filme e despediu Burton.

Certamente os filmes de Tim Burton continuam a assustar crianças e até alguns adultos. Mas há uma beleza sombria e fascinante em seus
filmes como o “Batman”de 1989 com Jack Nicholson como o Curinga, “Edward Mão deTesoura” de 1990 com Johnny Deep, “Peixe Grande”de 2003, “Alice no País das Maravilhas”com Mia Wasiskowa, Helena Boham Carter e Anne Hathaway.

“Frankenweenie” rodado em preto e branco e 3D tempersonagens incríveis como o estranho e carinhoso professor de ciências,
inspirado em um ídolo de Tim Burton, o ator de filmes de terror, Vincent Price.Todas as crianças tem olhos redondos e olheiras e um dos garotos é dentuço e corcunda.

E, depois das experiências científicas que revivem bichos mortos, o cãozinho Sparky vira um Frankenstein todo costurado, Mr
Whiskers, o gato que tem sonhos com presságios, transforma-se num horrível gato vampiro, a tartaruga morta há anos torna-se um monstro pré-histórico gigante à maneira dos desenhos animados japoneses e chama-se  Shelley, homenagem a Mary Shelley criadora do
personagem Frankenstein.

O menino que passava horas lendo Edgar Allan Poe e vendo filmes de terror, transformou-se em um diretor de cinema original e
talentoso.

Porém, apesar do final comovente e educativo de“Frankweenie”, que é bom entretenimento para jovens e adultos, Tim Burton
continua não recomendado para crianças, a não ser as mais parecidas com o diretor quando tinha a idade delas.

 

 

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Elefante Branco

“Elefante Branco”- “Elefante Blanco" Argentina/ Espanha 2012

Direção: Pablo Trapero

Numa cena intrigante, em close, um homem está cercado de aparelhos que giram em torno dele. Aos poucos vamos deduzindo que ele faz um exame médico. Parece uma tomografia da cabeça. Tem barba e cabelos grisalhos e olhos azuis (Ricardo Darin, um dos atores mais extraordinários do cinema).

Na próxima cena, estamos na selva à noite e um homem chora, enquanto vê, escondido, uma matança.

Soldados gritam em espanhol com os ainda vivos:

“- Cadê o estrangeiro?”

No dia seguinte, esse homem anda entre os corpos e as cinzas da aldeia indígena. Parece desesperado e ferido.

Logo, um barco singra um rio, levando pessoas deitadas em redes. Em seguida, uma canoa a remo leva um homem a um precário hospital na selva.

Chega-se a um leito onde jaz alguém e diz:

“- Nicolás? Sou eu, Julian. Vim te buscar.”

E vemos o amigo Julian ( Darin), amparar e consolar o outro (o ótimo ator belga Jérémie Renier).

De chofre, estamos em uma cidade. Uma morena jovem (Martina Gusman, mulher do diretor Trapero) conduz um carro na chuva. Os dois resgatados da selva estão com ela.

Chegam a uma zona pobre, casinholas desajeitadas, poças de água na lama, cachorros vira-latas. É uma favela.

Os homens entram em uma casa muito simples com goteiras. Deitam-se e dormem. Parecem esgotados. Acordam no meio da noite com o som de tiros. O perigo ronda e assusta.

Julian foi buscar Nicolás na selva porque precisa do amigo para ajudar na Paróquia de Jesus Operário, que ele dirige. A moça morena é assistente social e auxilia o padre Julian no amparo quotidiano aos moradores da favela, que vivem em condições desumanas, em meio ao perigo dos tiroteios entre os grupos que guerreiam entre si pelo domínio do tráfico.

Os padres servem de escudo entre os moradores, os donos da droga e a policia.

O sonho do padre Julian é transformar um hospital imenso, abandonado inacabado desde os anos 30, em moradia para centenas de famílias. O “Elefante Branco” teria finalmente um uso. Mas é dura e inglória essa luta diária para conseguir dar alguma dignidade aos moradores da favela chamada A Oculta.

Pablo Trapero é o diretor argentino que se interessa pelo lado mais difícil da vida do ser humano, a miséria no sentido de falta e no sentido moral. Não para arrogantemente dar lições de como fazer (mesmo porque, sabe que ninguém tem tais respostas prontas), mas para denunciar e fazer com que pensemos em algo que é difícil alguém querer parar para pensar.

“Elefante Branco” é uma homenagem ao padre Carlos Mujica, que trabalhava nessa mesma favela e foi assassinado em 1974 em circunstâncias ainda não esclarecidas.

O filme tem como extras os moradores das favelas argentinas, o que dá uma emoção especial e realidade ao roteiro escrito por Trapero e colaboradores.

“Elefante Branco” coloca as perguntas certas sem demagogia nem medo de constatar difíceis verdades, envolvendo inclusive a Igreja Católica, a quem os padres Julian e Nicolás devem obediência.

É um filme que faz doer as almas dos homens justos. Os outros não vão se interessar pelo filme.

 

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