Paris/Manhattan

“Paris/Manhattan”- Idem, França 2012

Direção: Sophie Lellouche

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Quem não gosta de Woody Allen vai detestar esse filme.

Quem gosta, pode detestar também. Mas por outros motivos. Explico. Podem pensar: como é que essa menina tem a coragem de fazer um filme homenageando Woody Allen? E, além de tudo, em seu primeiro longa? Quem ela acha que é?

Dá inveja mesmo.

E Sophie Lellouche (nenhum parentesco com o outro, sem o “e” final no nome) é audaciosa. Convida o próprio homenageado e ele aceita vir para Paris, fazer uma ponta no filme dela.

E esse é o ponto alto do filme, claro. Todo mundo faz “oh!” no cinema quando ele aparece e se deleita com aquele jeito que Woody Allen tem de conquistar platéias no mundo todo.

Mas inteligência só não basta, é preciso ter charme também. E o filme de Sophie Lellouche tem pequenas coisas que seduzem como a luz de abajur no filme que deixa tudo no lusco-fusco, aquele toque francês de “vaudeville” com personagens que entram e saem, quase sempre se encontrando com surpresa, pequenos nadas na decoração, velas e sapatilhas de ballet, roupas de elegância despreocupada e aquele jeitinho de falar que só as parisienses tem.

Alice Taglioni, que faz a personagem principal, Alice, além de ser bela, loura, magra e alta, porta-se diante das câmaras com a naturalidade de uma atriz tarimbada e o talento de uma “top model” e às vêzes, parece muito jovem. Ela esbanja um “je ne sais quoi” que algumas mulheres tem e que vem de um lado menina que ela guardou em sua personalidade e que dá um brilho especial no jeito com que ela fala e se movimenta na tela.

Sophie Lellouche, a diretora e roteirista, também tem essa característica infantil e assim conduz seu filme, o que permite que ela imite Woody Allen, seu idolo, até no modo como são mostrados os créditos iniciais.

Claro que o roteiro é uma historinha sem pretensões e explora o fato da personagem principal contar tudo o que se passa com ela ao poster gigante de Woody Allen que trona em seu quarto.

É o seu guru, que responde a ela com frases de “Manhattan”.

Alice é farmacêutica e gosta tanto de cinema que, ao invés de remédios, receita DVDs para os seus clientes, conforme a queixa. Cuidadosamente guardados entre os produtos da farmácia, as prateleiras com os filmes são a atração maior, de que todos se beneficiam. Até mesmo o ladrão, que um dia rouba o dinheiro da caixa registradora, no episódio mais divertido do filme.

Ela é solteira e o pai, ao invés da mãe judia, quer que ela se case e procura chamar a atenção dos rapazes, distribuindo cartões dela aonde quer que vá.

Um dia ela encontra alguém (o charmoso Patrick Bruel) mas só aceita o rapaz com a aprovação de Woody, com Ella Fitzgerald cantando “Bewitched”no fundo.

“Paris/Manhattan” é um bom divertimento. E vamos ficar de olho em Sophie Lellouche. Afinal, este é só o seu primeiro filme.

 

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NO

“NO”- Idem, Chile, França, Estados Unidos, 2012

Direção: Pablo Larraín

 

As sangrentas ditaduras que maltrataram a América Latina a partir de meados do século passado, tiveram seu fim decretado pela pressão popular.

No Chile, o presidente socialista Salvador Allende foi derrubado por um golpe militar, em 11 de setembro de 1973, que colocou no poder o general Pinochet (1915-2006).

Todos conhecem as histórias tristes de mortos, torturados e desaparecidos sob esse governo ditatorial.

Uma das imagens mais fortes da época, mostra o estádio de futebol de Santiago lotado de presos políticos.

O filme chileno “NO”conta a história de um plebiscito de 1988, encomendado pelo regime militar para fazer face à pressão internacional e mostrar que o Chile estava indo de vento em popa. Com direito à exibição da campanha na televisão estatal, os partidários do “SI” contavam com uma vitória certa.

Foi um tiro que saiu pela culatra.

Com roteiro de Pedro Peirano que inspirou-se na peça de teatro “Plebiscito” de Antonio Skármeta, o inédito de “NO” é que foi filmado como se tudo fosse um documentário rodado nos anos 80, misturando cenas reais com cenas de ficção. Para isso usaram câmaras Ikegami de 1983 que não deixam perceber diferença entre as cenas. Com isso, o filme ganhou força de realidade. Mas é ficção. Seus personagens são “arquétipos” das pessoas que viveram aquele contexto, menos Saavedra.

Em uma história de Davi e Golias, Gael Garcia Bernal, o ator mexicano simpático e bonito, bem conhecido do público (foi o Che Guevara de Walter Salles em “Diários de Motocicleta” 2004), faz René Saavedra, o publicitário que volta do México, onde estava com os pais, exilados políticos, para comandar a campanha do “NO”.

Com seu jeitinho de garoto, andando de skate pelas ruas de Santiago, Saavedra revolucionou o campo da publicidade política inventando o que, depois dele, foi copiado por todo o mundo.

Ele intuiu, acertadamente, que uma campanha para barrar o general Pinochet de suas intenções de ganhar democraticamente o posto usurpado usando o plebiscito, tinha que ser uma campanha alegre, jovem, exigindo com firmeza mas também com bom humor, que os chilenos acordassem de uma letargia de 15 anos e se empolgassem pela causa do “NO”, destronando Pinochet.

Saavedra soube ler no não manifesto ainda, que o povo queria um outro futuro para o seu país mas havia muito medo em expressar essa opinião. Tanto temiam o retrocesso anunciado pelos militares, como a força da ditadura que calava à força os opositores. Conquistou os amedrontados com a alegria contagiante da campanha do famoso arco-íris, canções divertidas e depoimentos emocionantes cheios de esperança pelo futuro melhor para todos.

O “NO”ganhou com 56% dos votos.

O terceiro longa do diretor Pablo Larraín, ganhou o prêmio “Art Cinema Award” em maio de 2012 na Quinzena dos Realizadores no último Festival de Cannes e o prêmio de melhor filme do público na última Mostra de Cinema de São Paulo, que foi inaugurada com a exibição de “NO”. E já está entre os nove estrangeiros dos quais sairão cinco para os indicados a melhor filme estrangeiro no Oscar.

Quem assina a produção de “NO” é Daniel Dreifuss, nascido na Escócia mas que se considera brasileiro. Ele é filho do cientista político René Dreifuss (“1964- a conquista do Estado”). Foi ele que conseguiu o dinheiro americano para o projeto.

Filme político? Filme comercial? As opiniões divergem mas uma coisa é certa: “NO” é original.

 

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