Antes da Meia Noite

“Antes da Meia Noite”- “Before Midnight”, Estados Unidos, 2013

Direção: Richard Linklater

Oferecimento Arezzo

O amor nunca vem para ficar, ao contrário do que se quer acreditar.

Para um casal ficar junto é preciso trabalhar, lutar, ceder, ter paciência, ser criativo e escolher amar novamente aquela pessoa, muitas e muitas vezes.

Vemos isso claramente na trilogia sobre o amor que agora se fecha com o filme “Antes da Meia Noite”, que tem seu roteiro escrito pelos próprios atores, Julie Delpy, 43 e Ethan Hawke, 42 e o diretor Linklater, 52 anos.

No primeiro filme, “Antes do Amanhecer” (1995), a francesa Céline e o americano Jesse, ambos com 20 anos, se conhecem quando viajam num trem pela Europa. Conversam, conversam pelas ruas de Viena, apaixonam-se mas, no fim, cada um volta para a própria vida.

No segundo, “Antes do Por do Sol” (2004), há um reencontro em Paris, onde ele lança seu livro, que conta a aventura em Viena. Conversam sobre o que aconteceu naquele meio tempo com os dois e se separam de novo.

No terceiro, o atual, Céline e Jesse finalmente casados, estão na Grécia, de férias com o filho dele do primeiro casamento e as gêmeas, filhas do casal. Os dois estão na faixa dos 40 e as conversas amadureceram.

O filme começa com Jesse levando o filho de13 anos ao aeroporto porque ele tem que voltar para os Estados Unidos onde mora com a mãe.

Essa separação deixa o pai frustrado e Céline vai transformar isso num conflito interno, sentindo-se culpada por privar Jesse da companhia do filho. Mas quando o marido a convida para morar em Chicago, para todos estarem juntos, ela se revolta porque não quer perder sua vida em Paris.

“- Você acendeu a bomba que vai destruir nossa vida. Estamos em contagem regressiva”, diz ela.

Após 18 anos do primeiro encontro, o amor entre eles é dificultado por quase nadas e decisões importantes.

Céline, conversando na cozinha, enquanto ajuda a preparar o almoço entre amigos, conta às mulheres que pensou que a Grécia, milenar e berço das grandes tragédias, poderia ser o cenário de algo terrível na vida dela. Há um clima de suspense se criando.

O casal fala sem parar durante todo o filme. Mas as conversas mais amenas ao ar livre, sob o sol da Grécia, entre as oliveiras e velhas pedras, vão se tornar duras, claustrofóbicas e depressivas quando o casal vai para o quarto de um hotel, onde deveriam se amar. A briga começa na cama.

Um dos temas que aparece é a culpa pelas decisões que eles não tomaram no passado. Claro. Vidas paralelas são muito atraentes porque não foram vividas e podem ser objeto de idealizações românticas.

Já a vida real pede criatividade e paciência para que o amor permaneça vivo. Vale a pena?

É quando mais brigam que Céline e Jesse fazem transparecer o elo sólido que os une. Mas até quando?

Outros casais certamente vão sair do cinema conversando muito sobre o que viram e ouviram. O filme é envolvente e nós nos identificamos com os personagens que tem uma boa química e coragem para enfrentar o que muitos de nós evita, achando que assim protege a relação. Será?

Ler Mais

Além do Arco – Íris

“Além do Arco-Íris” – “Au Bout Du Conte”, França 2013

Direção: Agnès Jaoui

Todas as meninas gostam de contos de fadas. Meninos também mas depois preferem os super-heróis dos quadrinhos. Claramente, as crianças procuram modelos para entender o que virá no futuro. Ali há material para sonhar.

Será que é pela mesma razão que os adultos se impressionam com profecias, augúrios, videntes, cartomantes?

É com essas questões que brinca o filme “Além do Arco-Íris”.

A mocinha Laura, na escola onde as crianças se preparam para fazer o espetáculo de fim do ano, conta para tia Marianne, vestida de fada, o sonho que teve com um homem desconhecido que a levava para voar:

“- Nunca amei ninguém como nesse sonho…”

“- Você tem muito tempo para isso”, responde Marianne, “pé no chão”, aflita para chamar a atenção das crianças e fazer com que a peça aconteça.

Já no cemitério, Pierre, homem de meia idade semblante depressivo, enterra o pai. Mas diz que não sente nada.

“- Eu sinto” diz a ex-mulher, “ele sempre foi muito bom com o Sandro”.

O neto Sandro chora mas disfarça quando o pai chega onde ele está. Não se dão bem.

“- Lembra daquela mulher que previu o dia de sua morte?”, diz a ex.

“- Uma louca que fazia horóscopo para todo mundo…” responde Pierre aborrecido.

“- Pode ser… Mas isso marca”, insiste a ex.

Com quem eu vou me casar? Em que dia vou morrer? O amor faz com que a morte seja esquecida? O romantismo é uma fuga da realidade?

Laura (Agathe Bonitzer) e Pierre (Jean- Pierre Bacri) vão viver suas angústias de forma diferente. Estão em etapas distintas da vida. Ela sonhadora, ele desiludido.

Outras histórias vão se cruzar com essas duas.

Assim, Marianne (a diretora de 48 anos, Agnès Jaoui) quer ser livre para ser atriz, o bom rapaz Sandro (Arthur Dupont) quer amar e ser compositor, o “bon vivant” (Benjamin Biolay) quer todas as mulheres do mundo, a menina Nina se agarra na religião porque não quer pensar na separação dos pais. E tem ainda os pais de Laura, o marido de Marianne, a mãe de Sandro e a namorada de Pierre.

Ou seja, muitos personagens, muitas angústias diferentes, muitas situações que se entrelaçam num roteiro que tem pontos altos e baixos. Os roteiristas, Agnès Jaoui e Pierre Bacri, casal na vida real e pais adotivos de duas crianças brasileiras, escreveram roteiros para ninguém menos que Alain Resnais. E ela dirigiu quatro filmes, inclusive “O Gosto dos Outros” (2000), indicado para Oscar de melhor filme estrangeiro. Percebe-se o talento deles nas questões que o filme propõe.

Mas os contos de fada, ancoragem interessante, servem apenas para ilustrar um triângulo amoroso e uma relação mãe/filha, com referências a Branca de Neve, Cinderela, Chapéuzinho Vermelho e A Bela Adormecida. Mas é verdade que contribuem para a estética dos cenários e figurinos do filme, muito originais.

“Além do Arco-Íris” diverte, faz perguntas mas fica faltando uma maior coesão na costura das histórias e no aproveitamento dos contos de fadas.

Talvez seja até de propósito.Temos a mania de querer tudo arrumadinho, digerido, pronto para esquecer. E “Além do Arco-Íris”, cujo titulo original é “No Fim do Conto”, pede para que os espectadores pensem e duvidem de finais felizes estereotipados.

Pode ser uma boa novidade.

Ler Mais