Truque de Mestre

“Truque de Mestre”- “Now You See Me”, França/ Estados Unidos, 2013

Direção: Louis Leterrier

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Você se lembra da primeira vez que ouviu alguém dizer “abracadabra” e o coelho branco que tinha sumido da caixa apareceu na cartola negra? Os mágicos habitam nossas memórias de infância e tem ainda o poder de nos encantar.

A antiquíssima arte da magia seduz multidões desde os tempos de Houdini (1874-1926), o maior mágico e ilusionista de todos, o primeiro que soube usar a mídia para promover sua reputação. Virou lenda.

Pois “Truque de Mestre” brinca com essa ideia da criança em nós e do poder de sedução que a magia tem. Além disso, o filme procura mostrar a diferença entre o engano que o mágico habilidoso provoca para obter aplausos e a enganação de charlatães, usada apenas para prejudicar os outros, o truque sujo.

Quatro ilusionistas, jovens e talentosos, são reunidos através de um convite escrito em cartas do tarô, por um alguém misterioso. Saberemos depois que esse personagem, que ninguém sabe quem é, quer fazer justiça e castigar pessoas inescrupulosas.

Dois homens que não são o que aparentam ser, vão aprender uma lição severa mas de maneira divertida para quem vê o filme. Michael Caine e Morgan Freeman, atores tarimbados e bem conhecidos do público, estão ótimos e conferem credibilidade à trama.

Cada um dos quatro jovens escolhidos tem uma especialidade e tudo vai ser usado em três grandes espetáculos. Daniel Atlas (Jesse Eisenberg) é mestre com cartas de baralho. Merrit (Woody Harrelson) usa a hipnose para adivinhar segredos e influenciar pessoas. A bela Henley (Isla Fisher) consegue escapar de algemas e correntes. E Jack (Dave Franco) é um exímio larápio que usa técnicas ilusionistas.

Os quatro juntos intitulam-se “Os quatro Cavaleiros” e vão aprontar um espetacular e anunciado roubo a banco durante um show diante de milhares de pessoas.

E por isso atraem a atenção do FBI (o agente é Mark Ruffalo) e da Interpol, que manda uma linda e loura parceira (Mélanie Laurent). Os dois querem saber o que há por detrás desses espetáculos dos mágicos e desconfiam que boa coisa não é.

Muita ação, reviravoltas e surpresas no roteiro de “Truque de Mestre”, dirigido com competência por Louis Leterrier, que realmente cativa a atenção do espectador, mantendo um ritmo alucinante o tempo todo.

Mas não se esqueçam de levar dentro de vocês aquela criança que se lembra do coelho branco na cartola do mágico. Ela vai se encantar e não vai deixar você fazer muitas perguntas para que tudo fique bem explicadinho, porque senão o filme perde a graça.

E por que estragar um bom divertimento?

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A Espuma dos Dias

“A Espuma dos Dias”-“L’Écume des Jours”, França, 2013

Direção: Michel Gondry

 

Se você acha graça na criação de um universo surrealista onde pernas de mesa usam patins, a comida se mexe no prato onde é servida, alguém apara as pálpebras com tesoura porque cresceram demais, um rato mora em seu buraco que é igual ao apartamento do dono da casa, visita-se Paris em uma nuvem artificial e coisas assim, então você vai se encantar com o mundo de Boris Vian (1920-1959), escritor do livro que deu origem a esse filme, e que era engenheiro, escritor, poeta e amante do jazz. Tocava numa banda no famoso “Le Tabou” e lançou Juliette Grecco, a musa do existencialismo.

Talvez, para gostar desse filme, você tenha que abrir mão do que está acostumado a ver: um faz-de-conta que quer parecer real. Porque em “A Espuma do Dias”, o diretor Michel Gondry (que fez nos Estados Unidos “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” de 2004), quer que as coisas malucas da cabeça de Boris Vian possam se materializar como coisas loucas mesmo. Estamos num mundo onde tudo é possível.

Fala-se de amor, vida e morte, política, filosofia, religião, poesia mas de uma maneira diferente à que estamos habituados.

O herói é Colin (Romain Duris) que vive num apartamento onde tudo foge à lógica da razão. Seu cozinheiro e conselheiro é Nicolas (o talentoso ator Omar Sy de “Intocáveis”) que prepara as tais comidas vivas e que conversa com um chef que às vezes está dentro da geladeira.

O amigo de Colin é Chick (Gad Elmaleh), operário que é vidrado no filósofo Jean-Bol Bartre (irreverência com Jean-Paul Sartre, claro).

Um dia, Colin conhece Chloé (a maravilhosa Audrey Tautou), uma moça sensível como ele e os dois se apaixonam e se casam.

A vida era feliz com idas à patinação no gelo, festas onde as pessoas dançam danças impossíveis que exigem pernas que se alongam e corpos que se equilibram de maneiras estranhas e passeios por Paris.

Até que Chloé fica doente. Uma terrível e estranha doença que faz uma flor crescer em seu pulmão. Colin rodeia Chloé com muitas flores, único remédio para tentar salvá-la. Isso faz Colin conhecer o outro lado da vida.

O apartamento que era cheio de luz, escurece e se contrai, sob o peso das angústias que passam a ser vividas.

A crítica acusou o diretor Michel Gondry de pecar por excesso. Seu filme seria um exagero, difícil de suportar.

Ora, surrealista e anarquista como o autor do texto, Gondry homenageou de Bunuel a Chaplin, Tanguy e Dali, passando pelo cinema americano de Jean Negulesco, “Papai Pernilongo-Daddy Long Legs” de 1955, Peter Pan e muito mais.

Deixou-se literalmente levar pela imaginação mais louca, os truques são antiguinhos e perfeitos (nada de tela azul) e se cercou de bons atores para sair do comum, do já visto.  E conseguiu isso com o que a crítica chamou de excessos…

Para quem gosta de mudar de tom e se espantar, “A Espuma dos Dias” pode agradar e muito. Os conservadores e os que detestam o “non-sense” do surrealismo e metáforas fabulosas, abstenham-se.

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