Instrumentos Mortais – Cidade dos Ossos

“Instrumentos Mortais – Cidade dos Ossos”- “The Mortal Instruments: City of Bones”, Alemanha, 2013

Direção: Harald Zwart

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Se você é uma jovem ou um jovem ligado em livros, deve ter ouvido falar dessa nova saga que empolga a turma que gosta de aventuras, mistérios, mundos paralelos e romance.

Cassandra Clare, a autora dos seis livros, que começaram a ser traduzidos no Brasil em 2010, sabe do que essa galera gosta. Aberta a lacuna com o fim dos livros e filmes do bruxinho Harry Potter e também dos vampiros de “Crepúsculo”, abram alas para Clary, que vive em Nova Iorque e descobre um mundo oculto, com muitos sustos e figuras sinistras.

Ela (Lily Collins, a Branca de Neve de “Espelho, Espelho Meu”) é bonita, morena de pele muito clara, ajuizada e mora com a mãe. No dia de seu aniversário, programa ir a uma leitura de poemas com os amigos e depois para uma boate, dançar e comemorar.

Mas, mal sabe ela, que naquela noite, sua vida vai mudar, radicalmente.

Presságios, como o símbolo que aparece para ela, insistentemente, no bloco do telefone, no capuccino, na porta da boate, numa escrita que ela não entende, antecedem ao assassinato que Clary presencia mas que, estranhamente, envolve garotos que só ela vê.

O que está acontecendo? O amigo Simon (Robert Sheeham) pensa que ela tomou alguma droga. A própria Clary desconfia da sua sanidade. Chamar a polícia como? Se o corpo desapareceu?

Em casa, a mãe (Lena Hadey) e seu companheiro, parecem preocupados com ela. Há algo que ela precisa saber.

“- Você tem que falar com ela.”

“- Ela ainda não está pronta”, responde a mãe.

E, no dia seguinte, uma surpresa espantosa assusta Clary. Seu quarto está forrado com papéis com aquele estranho símbolo. Ela põe alguns na mochila e sai correndo para mostrar para Simon.

A mãe, que queria falar com a filha, não a encontra mas fica impactada com aquele quarto repleto de símbolos que parece que ela conhece.

E a história vai seguir, porque a mãe de Clary é sequestrada por tipos estranhos e ela, corajosamente sai à sua procura.

Caçadores de Sombras, demônios e anjos, lobisomens e vampiros. Esse é o mundo oculto de “Cidade dos Ossos” que me fez lembrar de “As Brumas de Avalon”, da saga do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, onde as mulheres também eram corajosas e poderosas.

Os temas, no subtexto de “Cidade dos Ossos”, são conhecidos de todos que lidam com adolescentes. Assim temos a procura da identidade, descoberta do sexo, medo, insegurança, idealização e tentação com drogas.

O filme prende a atenção não só de adolescentes. Bem feito e sem a crueldade explícita, empapada de sangue, como é o habitual, diverte com a imaginação e as lutas entre os Caçadores, ajudados por lobisomens, contra a legião de demônios, que é imensa.

Jonathan Rhys Meyers (de “Tudors”) e Jared Hamis, que são figuras/chave da trama, vivem com muita garra seus personagens, acrescentando o elemento desconhecido masculino à vida de Clary.

Se você é fã da saga nos livros, não perca. Se ainda não é, descubra.

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Frances Ha

“Frances Ha”- Idem, Estados Unidos, Brasil, 2012

Direção: Noah Baumbach

Ela parece um pássaro migratório. Busca a casa mas vai parando pelo caminho. Porém, diferente dos pássaros, guiados pelo instinto, Frances (Greta Gerwig) se guia pelas emoções. Ela é um ser caloroso.

Por isso, os momentos de afeto verdadeiro são preciosos para ela. A melhor amiga, Sophie (Mickey Sumner, que é filha do músico Sting), é como um porto seguro para ela, do qual não quer partir. Fica até difícil entender a sexualidade de Frances. Sua agarração a Sophie seria uma expressão de um amor homossexual? Talvez não, se pensarmos que ela é tão infantil que mais parece uma menina agarrada à melhor amiguinha. Onde uma vai, a outra vai atrás. Quase que respiram juntas, tal a sincronia.

Mas, a tristeza é que Sophie amadurece e seu amor por Frances é deixado de lado. Arranja sua vida longe dela.

O ninho das duas tem que ser desmanchado.

Momento de crise para Frances, a bailarina muito alta, que vai viver com dois rapazes.

Para ela, parece que a vida é assim. Viver o presente. Embarcar em convites por impulso. Deixar rolar.

Frances pertence a uma geração, onde muitos não querem crescer. Há um apego à infância, a uma vida sem responsabilidades, um narcisismo intenso que prejudica a avaliação que Frances faz do mundo.

Sua depressão leva à bebida e aí fica tudo mais complicado.

O que falta a ela? Aos 27 anos, talvez a vida ainda lhe ensine quem ela é e aí Frances poderá dar uma direção à sua busca.

Quando visita os pais em Sacramento, Frances (atuando com os pais verdadeiros da atriz) tem uma primeira intuição de que a infância já passou e que ela já não é mais a mesma menina de antes. Há dor mas também uma primeira aceitação de quem ela é.

Há momentos no filme que são pura fruição do prazer. Inesquecível a cena onde ela dança pelas ruas de Nova York, dando “jetés” na faixa de pedestres, giros e passos de uma dança que flui livre, ao som de “Modern Love” de David Bowie.

Noah Baumbach, 44 anos, diretor de “Lula e a Baleia” de 2005, escreveu o roteiro a quatro mãos com a atriz Greta Gerwig, que é sua namorada desde 2011.

Em preto e branco, com uma câmara que capta ângulos originais, ele mais parece fazer um documentário sobre essa moça de 27 anos, bailarina, que não consegue dar um rumo à sua vida.

O problema de Frances parece ser o amadurecimento, que precisa ser atingido para que ela possa fazer algo que seja o que ela é, que a faça expressar-se artisticamente com sinceridade e perseverança.

Muitos dessa geração dos 1990 vão identificar-se com Frances, uma personagem de carne e osso, muitas aspirações, tendência à depressão e um certo auto-centramento que impede uma visão mais ampla do mundo.

Mas ela é adorável.

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