As meninas do meu tempo liam esse livro escondido, surrupiado da prateleira mais alta da biblioteca das mães. Era considerado um texto impróprio para menores. Mas claro que todas as curiosas liam, e adoravam, essa trilogia de volumes avantajados, cujo primeiro título, “O Continente”, fora editado em 1949 e o segundo, “O Retrato” em 1951. O terceiro, “O Arquipélago”, as meninas, já mocinhas, compraram em 1961.
Érico Verissimo (1905-1975) foi um dos autores preferidos do meu tempo de garota. “Clarissa”, “Olhai os Lírios do Campo”, “Música ao Longe” e outros, passavam de mão em mão no colégio.
“O Tempo e o Vento” foi vária vezes adaptado para o cinema e a televisão. Ainda me lembro da novela de 1967 na TV Excelsior, dirigida por Dionísio de Azevedo, com Carlos Zara e da minissérie de 1985, direção de Paulo José, na Globo, com Tarcisio Meira e Glória Pires. Marcaram época e divulgaram a obra do autor do sul do Brasil.
Jayme Monjardim, com seu apurado senso estético e dom para captar minúcias na interpretação dos atores, nos traz uma nova versão de “O Tempo e o Vento”, seu segundo longa. A história é centrada na memória afetiva da personagem Bibiana, às portas da morte, para quem o marido, Capitão Rodrigo, nunca morreu.
Não é preciso dizer que Fernanda Montenegro arrepia a plateia, de tanta emoção que passa, tanto em seus silêncios quanto em suas falas, com seus olhos turvos embevecidos, mirando seu marido que volta em sonhos para ela. Ele é Thiago Lacerda, másculo, tão bonito e carinhoso, com aquele sorriso carismático de sempre.
A escolha dos atores não poderia ser melhor.
A Bibiana jovem de Marjorie Estiano, interpretada com doçura e paixão, mostra claramente as raízes desse amor que atravessa a vida e penetra na morte.
A história sofre com sua adaptação para duas horas de cinema? Tavez. Mas parece que o roteiro de Leticia Wierzchowski e Tabajara Ruas, que levou cinco anos para ser escrito, teve a intenção de centrar-se nos personagens principais e mostrar sua história romântica. A do sul do Brasil, serve de pano de fundo para a vida dos personagens.
A fotografia de Affonso Beato, um mestre do belo no cinema, ajuda a mostrar o pampa em sua imensidão verde, seja sob a luz de um sol soberano, seja sob um teto de estrelas.
“O Tempo e o Vento” é um filme bonito, bem realizado e que emociona a plateia.
Façam como as meninas da minha época. Além de ver o filme, leiam o livro que nos encantou e que acaba de ser relançado em sete volumes pela Companhia das Letras.
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