Jovem e Bela

“Jovem e Bela”- “Jeune et Jolie”, França, 2013

Direção: François Ozon

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A sexualidade de uma linda garota, Isabelle (na pele da ótima Marine Vacth, 23 anos), é o centro das atenções no novo filme do diretor e roteirista François Ozon, que faz muitas perguntas, nos envolve sempre em seus mistérios e nos deixa pensando em questões abertas e impactantes. Ele intriga o público para que as pessoas saiam do cinema levando o filme na cabeça.

O mundo de Isabelle é desconcertante. Seu corpo bonito, seu jeito sensual, os olhares de admiração que a seguem, convivem com uma adolescente que acabou de fazer 17 anos e que parece fria porque não expressa seus sentimentos. Ela é distante e reservada. Mas há lampejos certos de infelicidade em seu olhar.

Conhecemos Isabelle no verão, na praia com seu biquini estampado. Olha para os lados e tira a parte de cima. Um binóculo segue todos os seus movimentos.

Ela se exibe e gosta disso.

Chega o irmão (Fantin Ravat), garoto de uns 12 anos, a pessoa com quem ela tem mais proximidade. E Isabelle escolhe um garoto alemão, alto e louro, para perder sua virgindade.

Parece que a experiência só serve para libertá-la para uma outra vida. Desdobrada, como se num espelho, ela assiste a tudo que se passa consigo mesma, de pé, na praia e vestida. Distante de si mesma.

Voltando a Paris, retoma a escola e começa a se prostituir em segredo.

Por que Isabelle faz isso?

Seus parceiros, que a escolhem na internet, são homens mais velhos, que nem sempre a tratam com delicadeza como Georges (Johan Leysen), que se torna seu cliente preferido.

Ela não precisa do dinheiro que ganha e guarda numa bolsinha escondida no armário. A mãe (Géraldine Pailhas) e o padrasto (Frédéric Pierrot) dão a ela tudo que precisa. Portanto, o dinheiro só pode ter outro significado.

Aos poucos, vai se delineando a figura de um pai distante, que manda dinheiro para ela no Natal e no aniversário. Ela cobra 300 euros dos homens com quem faz programa. É dessa forma que ela conhece o seu valor?

Então é por causa do pai que tudo isso acontece com Isabelle?

Pode ser. Mas tem mais. É sempre com a blusa cinza de seda, que roubou da mãe, que ela sai para as noites de sexo pago. A mãe tem uma sexualidade adulta e livre. Mas não conversa com Isabelle. É afetiva mas a intimidade entre elas não existe.

Ao longo das quatro estações do ano e ao som das canções de Françoise Hardy, vamos acompanhar Isabelle em sua vida dupla. A câmera percorre seu corpo esguio, desvendando, com certo pudor, a dança que ela executa nas camas dos hotéis, aparentemente muito pouco envolvida com esses homens que a desejam. Mas ela gosta disso.

Exibir-se e fazer sexo é mais fácil para Isabelle do que sentir seus próprios sentimentos. Tem medo disso.

É preciso que aconteça uma tragédia para Isabelle parar para pensar.

E uma conversa com uma mulher mais velha, vivida por Charlotte Rampling (musa de Ozon), parece que a redime desse jeito “Belle de Jour” de ser.

Será?

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Juan e Evita – Uma História de Amor

“Juan e Evita – Uma História de Amor”- “Juan y Eva”, Argentina, 2011

Direção: Paula de Luque

Na tela em “close” um operário fala de sua vida difícil, em preto e branco. No rádio, uma estrela brilha narrando a história de Carlota, a Imperatriz do México. E, no “club” de San Juan, Argentina, os cristais tilintam sinistramente, anunciando o terremoto que arrasaria a região em 1944.

É nesse cenário que a atriz Eva Duarte (Julieta Diniz) conhece o coronel Perón (Osmar Núnez), vice-presidente da República, Ministro da Guerra e Chefe da Secretaria do Trabalho e Provisões.

E presenciamos o primeiro momento de intimidade de Juan e Eva. Ela cochicha ao ouvido de Perón, que parece ficar feliz com o que ouve, durante uma apresentação no Luna Park, em benefício da população vitimada pelo terremoto.

Contam que ela teria dito:

“ – Obrigada por existir!”

Depois do espetáculo, na mesa de militares, onde é a única mulher, perguntam:

“- Como explica o sucesso de Carlota do México?”

“- A morte prematura eterniza os romances”, responde Eva (1919-1952), sem saber que falava de seu destino.

Mas não foi só isso.

O filme de Paula de Luque conta em cenas simples e pontuais, mas belas e trabalhadas, como a intimidade crescente do casal se torna paixão, acompanhando a ascensão política de Juan Domingo Perón.

A câmera se insinua na cama dos dois, e, com elegância, registra o amor, o fogo sensual que os invade. Aquela bela mulher vai ver crescer sua influência sobre o homem bem mais velho que ela e mulherengo.

Eva, de personalidade forte e inteligente, afasta uma a uma, as mulheres que gravitavam em torno ao coronel viuvo, até tornar-se a única. Só não consegue conquistar a elite social de Buenos Aires e militares conservadores que não a perdoam por ser filha ilegítima, atriz, proletária e viver com Perón sem ser casada.

Mas os trabalhadores amavam Perón e Eva se torna a imagem mais brilhante do peronismo.

Baseado no livro de Jorge Coscia, “Juan y Eva – El Amor, El Odio y La Revolución” , o filme se ocupa o tempo todo do casal mais famoso da América Latina e de como o coronel Perón, que depois foi eleito três vezes Presidente da República, tornou-se o lider de um movimento com o seu nome, importante polícamente, ainda hoje.

Paula de Luque mistura cenas em preto e branco que simulam um documentário, na última parte do filme, com cenas reais. É impressionante ver a Praça de Maio no dia 17 de outubro de 1945, lotada por uma multidão que acena lenços brancos para Perón, que discursa para 300.000 com os dois braços ao alto, gesto seu característico.

A diretora resume seu filme numa frase:

“- É um grande romance de duas pessoas que, depois, transcende as quatro paredes de sua casa e derrama-se sobre o povo, tornando-se parte do universo público.”

Muito interessante e bem cuidado, o filme consegue unir romance e política, ensinando a história da Argentina de uma forma eloquente e, claro, com admiração pelo homem e pela mulher que a escreveram.

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