Ela Vai

“Ela Vai”- “Elle S’en Va”, França, 2012

Direção: Emmanuelle Bercot

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Vemos ao longe uma mulher que caminha ao longo do mar, sob um sol talvez não de inverno mas de outono. A câmera se aproxima dela porém não vemos seu rosto. Ela está de costas para nós. O cabelo louro brilha e balança com o vento.

Surge uma foto em preto e branco de uma bela jovem, depois dos títulos em vermelho, enormes.

“Ela Vai” parece gritar na tela e reconhecemos Catherine Deneuve na foto, mocinha.

Ela é Bettie, 60 anos, dona de um pequeno restaurante que dá muito trabalho e pouco retorno, numa cidadezinha da Bretanha, no norte da França. Mora com a mãe e as duas se dão bem.

Mas Bettie, que foi Miss Bretanha, passou por tristezas em sua vida. Percebe-se isso na expressão de seu belo rosto que não sorri e o ar de enfado.

É viúva e tem um amante. A gota d’água que vai entornar o copo dela vai ser a notícia de que Etiènne, o amante, largou da mulher por uma moça de 25 anos e nem deu explicações para ela:

“- Você teve tantas oportunidades de refazer sua vida, mas foi se grudar no Etiènne…”, lamenta a mãe ao dar a notícia.

Entre desesperada e furiosa, Bettie procura um cigarro escondido e vai fumar na cozinha.

A mãe não dá trégua:

“- Voltou a fumar? Estou sentindo o cheiro.”

Infeliz, Bettie fuma com a janela do quarto aberta.

Dia seguinte, olhos inchados, cara amassada (mas bela, porque é sempre Catherine Deneuve de quem se trata), Bettie diz que já volta, pega o carro e sai sem rumo. Chora, esbraveja, desabafa no carro, aquele espaço só dela.

Precisa comprar cigarros mas não acha nada aberto e vai em frente pela estrada.

Quando vê, está muito longe de casa e já é noite.

Bettie vai encontrar gente pelo caminho, vai beber, fumar, dançar, amar.

Mas quando o celular toca e é a filha, com quem mal se dá, e que precisa dela para cuidar do neto que ela também mal conhece, Bettie vai enveredar por um outro caminho e vai ter a chance de refazer laços e experimentar novas oportunidades na vida.

A diretora Emmanuelle Bercot centra seu filme em Catherine Deneuve, o ícone francês que tem 70 anos e continua bela, sem querer parecer ser jovem. Ela tem aquele porte elegante que sempre teve, um cabelo cobiçado e um rosto inesquecível.

O roteiro é leve e mistura doses de alegria e tristeza.

Uma menção especial para Nemo Schiffman, que faz o neto. Ele combina bem com a Deneuve. Mas quem não se encantaria em trabalhar com ela?

 

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A Grande Beleza

“A Grande Beleza”- “La Grande Bellezza”, Itália/França, 2013

Direção: Paolo Sorrentino

Frases pessimistas de Céline na tela. Um coro canta “a capella” numa das belas fontes de Roma. Turistas tiram fotos e… um japonês cai, sem vida.

De chofre, o filme de Paolo Sorrentino, 43 anos, introduz sua temática: a vida e a morte. A arte e a beleza como criações do homem que dão sentido à vida? O que buscamos?

Corte para cenas da festa de 65 anos de Jep Gambardella (Toni Servillo, perfeito no papel), escritor de um só livro, mas de sucesso e jornalista bisonho. Ele é principalmente o rei das colunas sociais romanas. Chic e esnobe. Em seu rosto, sempre um sorriso irônico. Olhando bem de perto, a melancolia paira sobre sua figura, companheira do sarcasmo.

Sua festa, no enorme terraço do apartamento deslumbrante com vista para o Coliseu, reúne a fauna local. A mistura de tipos é a regra. Seus convidados, entre eles ex-atrizes fora de forma e representantes da aristocracia romana decadente, bebem muito e dançam ao estilo dos anos 70. Ridículos, simulam juventude e alegria.

No meio de todo esse cenário humano inóspito, Jep confidencia para a plateia:

“- Desde cedo eu estava destinado à sensibilidade.”

Desfilando com uma elegância que não combina com a cafonice ao redor, ele busca algo que não sabe ainda o que é mas se distrai no sexo com uma desconhecida.

A beleza e a arte cercam a todos em Roma. Praças, pontes, fontes, igrejas, castelos, monumentos, esculturas e pinturas estão em toda a parte. Para não falar da luz sem igual e da natureza. Esse exagero de beleza faz com que os romanos se esqueçam dela.

A certa altura, Jep sentencia:

“- As melhores pessoas de Roma são os turistas.”

A eles a contemplação da cidade.

Mas parece que Jep vai sair de seu entorpecimento. Numa noite cruza com Fanny Ardant, interpretando a si mesma, vislumbre da beleza esquecida para Jep.

Volta para casa, como sempre já de manhã, com algo e conversa com a empregada na cozinha e vai para a cama.

Olha o teto e vê o mar. Mergulha no azul e começa a lembrar-se de momentos do seu passado. O “voyeur”, viciado em olhar para fora, descobre em sonhos e devaneios, os encontros com a grande beleza, que dá sentido à vida.

Pouco a pouco, Jep revive, às custas das epifanias esquecidas que, relembradas, revigoram. Compreende que a beleza, assim como a felicidade são fugidias, fugazes, mas são tudo que vale nessa vida.

Para nós, espectadores, é oferecida uma travessia do Tibre, ao por do sol dourado. E saímos do cinema levando um pouco de “grande beleza” conosco. Apaziguados.

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