Clube de Compras Dallas

“Clube de Compras Dallas”- “Dallas Buyers Club”, Estados Unidos, 2013

Direção: Jean- Marc Vallée

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Todo mundo que viveu nos anos 80, sabe que havia um temido “cancer gay” que dizimou muita gente de uma geração. Depois, descobriu-se o virus HIV que produzia a doença, a AIDS.

Esse filme é a história do eletricista e cowboy de rodeio, Ron Woodroof, que teve sua vida virada de cabeça para baixo, quando escutou, em julho de 1985, o diagnóstico:

“- Seu exame de sangue deu positivo para o virus HIV que causa AIDS. O senhor usa drogas injetáveis? Tem relações homossexuais sem proteção?” pergunta o médico.

“- Está brincando? Não conheço nenhum viado! Misturaram meu sangue com outro (sua fala é recheada de palavrões)”, responde Ron, bravo e assustadíssimo.

“- Sinto muito. Testamos seu sangue várias vezes”, diz a médica (Jennifer Garner).

“ – Lamento. Dadas suas condições de saúde, o senhor tem 30 dias de vida. Sugiro que se organize.”

Ele ouve tudo isso e sai xingando:

“- Não tem nada nesse mundo que mate Ron Woodroof em 30 dias!”

Em pleno estágio de negação da doença e da morte, ele bebe todas, cheira cocaína e promove orgias em seu “trailler” mas tosse muito e não consegue levantar-se do sofá. Em sua mente só existe a imagem da folhinha na parede marcando os 30 dias.

Daí em diante, lembra-se de uma noite fatal e, na fase de aceitação do diagnóstico, ele procura a médica atrás do AZT, que ele sabe, através de suas pesquisas, que é a droga que fornecem aos aidéticos em experimentos financiados pelos laboratórios farmacêuticos que fabricam a droga, não aprovada ainda pelo FDA.

Implora à médica pelo remédio, oferece dinheiro mas ela é inflexível e explica que só os doentes que estão no experimento tem acesso à droga e que, mesmo assim, um grupo toma placebo e outro o AZT. Nem os médicos sabem quem toma o quê.

“- Então vocês dão pílulas de açucar aos moribundos?” pergunta sarcásticamente Ron.

E ele segue em frente, montando um esquema pessoal para obter a droga, que se transforma depois no “Clube de Compras Dallas”, onde os sócios podiam ter acesso aos medicamentos, contrabandeados do mundo inteiro.

Seu encontro com o travesti Rayon, que também está doente, vai mudar seu jeito de ser.

O filme tem uma história real, com atores brilhantes nos principais papéis.

Mattew McConaughey emagreceu 21 quilos para interpretar Ron Woodroof. Mas o que ele faz na tela, assusta. É como se ele estivesse mesmo doente e desesperado. Seu olhar esgazeado lembra o dos touros de rodeio, que a câmara mostra, antes de entrar na arena. Ganhou o Globo de Ouro e é o preferido pelos críticos para o Oscar.

Jared Leto impressiona fazendo o travesti Rayon. Sua feminilidade é de alma, mesmo que vestido com um terno quando visita o pai. Também foi indicado ao Oscar.

Dois grandes atores, uma história real e exemplar, uma direção sem frivolidades do canadense Jean-Marc Vallée e um roteiro bem escrito e seco (Craig Barten e Melisa Wallock, indicados ao Oscar) fazem de “Clube de Compras Dallas”, seis indicações ao Oscar, um filme obrigatório.

Mas será lembrado principalmente pela comovente e corajosa interpretação de seus atores principais.

Impossível não se emocionar com eles.

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12 Anos de Escravidão

“12 Anos de Escravidão”- “12 Years a Slave”, Reino Unido, 2013

Direção: Steve McQueen

Na tela, homens negros, pobremente vestidos, nos olham num misto de medo, raiva e censura. Dentre eles,  Salomon Northup. Ele era um homem livre que vivia em Saratoga, Nova York, em 1841, com mulher e filhos e foi sequestrado por gente sem moral mas com muita ambição e vendido como escravo para trabalhar na lavoura. Através de “flash backs”, começamos a conhecer sua história, que é real.

Ele tocava violino e essa foi a sua desgraça, pois valia mais, num mercado que pedia negros saudáveis, que, se tivessem algum talento, tanto melhor para os seus senhores.

Os malfeitores que o enganaram, o embriagam e, à custa de surras num porão imundo, Salomon é obrigado a abrir mão de sua identidade verdadeira para tornar-se um negro fugido, recapturado para ser vendido para os donos das plantações de cana e algodão no sul do país.

Logo, ele entendeu que o matariam se negasse ser um escravo. Mas sua mente consegue cicatrizar essas feridas e não o deixa esquecer-se de quem ele é. Por 12 anos Salomon Northup serviu como escravo, até libertar-se e contar sua história em um livro.

O filme é uma adaptação desse livro, feita por John Ridley, indicado ao Oscar, e que nos envolve com a vida de Salomon, vivido com intensidade por Chivetel Ejiofor,  britânico, que ganhou o Bafta inglês, também indicado ao Oscar, como melhor ator.

Michael Fassbender, outra indicação ao Oscar de coadjuvante, interpreta com nuances bem trabalhadas, um fazendeiro alcoólatra e perverso. Esse homem doentio e atormentado por culpa, tem uma paixão pela bela negra Patsey, na pele da talentosa atriz nigeriana Lupita Nyong’o, mais uma do elenco com indicação ao Oscar de atriz coadjuvante.

São cenas de cortar o coração e indignar nosso senso de humanidade, que percebe nesses negros maltratados, irmãos de outra cor, como diz o personagem de Brad Pitt, numa ponta.

“12 Anos de Escravidão”, do diretor inglês, 44 anos e negro, Steve McQueen ( “Shame” 2011), parece ser o primeiro filme a mostrar profundamente o horror da escravidão, sem medo de descortinar um cenário de horrores e injustiças.

McQueen é um conhecido ativista pelos direitos civis dos negros e seu filme é um libelo chocante que homenageia um homem negro que, conseguindo se libertar de 12 anos de escravidão ilegal, colocou sua pena a serviço da libertação de todos os negros dos Estados Unidos, o que aconteceu em 1865.

Nove indicações ao Oscar, inclusive melhor filme e melhor diretor, coroaram “12 anos de Escravidão”, que ganhou o Globo de Ouro de melhor filme/drama e o Bafta de melhor filme e ator.

Mesmo se não ganhasse prêmio nenhum, o filme serviu para mostrar a atrocidade da escravidão, baseada na crença da superioridade de alguns seres humanos sobre os outros. Uma falsidade repugnante.

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