A Menina que Roubava Livros

“A Menina que Roubava Livros” – “The Book Thief”, Estados Unidos/Alemanha, 2013

Direção: Brian Percival

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 Quem gosta de ler, sabe como um bom livro é uma excelente companhia. Com ele na mão, esquecemos as horas e ampliamos nossos horizontes.

“A Menina que Roubava Livros” é uma adaptação para o cinema, do livro do australiano Markus Zusak, de 2006. O roteiro de Michael Petroni conseguiu recriar o clima que o autor do livro, lido por milhares de pessoas, imaginou.

É uma história contada pelo anjo da Morte (na voz de Roger Allan) que, ao buscar um menino num trem, na Alemanha de 1938, se sente atraído pela irmã, que ele poupa. Ela será a protagonista da história.

É o ano da nefasta “Noite de Cristais”, que prenunciou o que viria a ser o Holocausto. Em seguida vem a Segunda Guerra e muitos vão conhecer a morte de perto. A intenção do autor do livro parece ser a de mostrar como a guerra é dura e cruel para todos que passam por ela, seja de que lado estejam.

Liesel Meminger (a canadense Sophie Nélisse) vai ser adotada por um casal de alemães, já que sua mãe verdadeira é comunista e, perseguida, não pode ficar com os filhos.

O primeiro roubo de Liesel não é exatamente um roubo. A menina pega do chão, um livro que caíra do bolso do coveiro, durante o enterro do irmão dela. Ela o guarda consigo, apesar de não saber ler, aos 10 anos de idade. O livro torna-se a única coisa que ela possui e uma lembrança da vida com o irmão e sua mãe.

Levada à casa dos Hubermann, Hans e Rosa, Liesel vai sofrer perguições na escola porque não sabe ler, diferente dos outros alunos. Mas ganha um amigo, Rudy Steiner  (Nico Liersch, adorável). Ele é bonito, tem cabelos claros e é apaixonado por corridas e Jesse Owen, americano negro que ganhou as Olimpíadas de 1936 na Alemanha, para o horror dos nazistas que projetaram um espetáculo que mostrasse ao mundo a superioridade germânica.

O pai adotivo, interpretado com doçura e humor por Geoffrey Rush, vai ensinar Liesel a ler, começando pelo “Manual do Coveiro”, o livro que ela trouxera consigo para a sua nova casa. No porão, ele pinta o alfabeto e incentiva Liesel a escrever as palavras que vai aprendendo.

A mãe (Emily Watson), aparentemente rude e fechada, mostra para Liesel um lado que luta pela sobrevivência, preocupada que ela é com a alimentação daquela pequena família, que cresce quando acolhem em segredo o judeu Max (Ben Schnetzer).

Liesel e Max se tornam amigos e ela lê para ele nos momentos difíceis, em que o porão gelado é seu único refúgio. E rouba livros da biblioteca do prefeito e até mesmo de uma fogueira nazista.

A fotografia é bela e usa cores neutras que realçam as suásticas e o medo que elas impunham, o vermelho no fogo das lareiras e nas bombas caindo e o branco cobrindo a aldeia no inverno. Fica na nossa retina a linda cena no lago com a floresta de outono.

O diretor, Brian Percival, mais conhecido pela série da TV “Downton Abbey”, faz o seu trabalho sem grandes novidades e a trilha sonora, indicada ao Oscar 2014, é do maestro John Williams (“A Lista de Schindler”), que acrescenta mais emoção às cenas que mexem com o coração.

“A Menina que Roubava Livros”, sem ser nada de excepcional, faz um elogio à amizade, emociona e ensina que um bom livro faz milagres, ajudando a sobreviver a acontecimentos difíceis.

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Trapaça

“Trapaça”- “American Hustler”, EstadosUnidos, 2013

Direção: David O. Russell

Será que é preciso trapacear sempre, nessa vida, para sobreviver? Alguns pensam assim.

Um deles é Irving Rosenfeld (Christian Bale). Ele engana até no visual. Numa cena inacreditável de “Trapaça”, o vemos lidando com a calvície no alto da cabeça com um aplique colado à careca e toda uma técnica para esconder o cabelo falso. Muito laquê depois. A quem ele engana?

Parece que Irving engana muita gente desesperada.

Quando encontra Sidney Prosser (Amy Adams, com decotes até o umbigo o filme todo), ouvimos ele dizer em “off”, mais ou menos assim:

“- Ela era uma mulher especial. Veio de um lugar onde as opções eram poucas ( na tela aparece ela meio nua, dançando numa espelunca). Como eu, ela sobreviveu e queria um futuro elegante. Como eu, ela sabia que precisava ter um sonho. Ela veio para Nova York. Queria um lugar na Cosmopolitan. Era inteligente e sabia das coisas.”

E, também em “off”, ela diz:

“- Ele não estava em boa forma e tinha esse problema de cabelo mas tinha confiança em si mesmo. Eu estava sem dinheiro e queria me tornar uma pessoa diferente de quem eu era.”

Quando ele conta como ganha a vida com falsos empréstimos, além da rede de lavanderias e a venda de quadros falsificados, ela comenta:

“- Na lama todos se cruzam em desespero. E você está lá, esperando por eles.”

E, como ela era também uma pessoa que sabia trapacear, tornam-se parceiros na cama e nos negócios, apesar de Irving ser casado com Rosalyn (Jennifer Lawrence, com penteados rocambolescos mas sempre linda) e adorar o filho da esposa, que ele adotara.

Ouvimos Irving falando em “off”:

“- Pelo que sei, todo mundo trapaceia para conseguir o que quer. Trapaceamos até a nós mesmos, de um jeito ou de outro, para conseguir sobreviver.”

Essa é então a motivação dos personagens de “Trapaça”, filme que vem ganhando prêmio atrás de prêmio, 10 indicações para o Oscar.

Como ficou bem claro aqui, há muita falação. Diálogos prolixos e longas digressões em “off”. Isso cansa o espectador.

Fora isso, há uma trapaça complicada por conta do agente do FBI, Richard DiMaso (Bradley Cooper, bonitinho sedutor) que quer usar a dupla de golpistas para pegar políticos corruptos e mafiosos, em troca de liberdade. A história é baseada em acontecimentos reais dos anos 70/80 nos Estados Unidos.

David O. Russell, 58 anos (“O Vencedor”2010, “O Lado Bom da Vida”2012), dirigiu e co-escreveu o roteiro, que não é o ponto forte do filme, prolixo e com uma sensação de “déjà-vu”.

Mas no elenco, principalmente Amy Adams e Jennifer Lawrence, estão muito bem. Esta última faz uma louca cafona e é sempre dona da cena. Com o vestido branco colado no corpão, nem aquele cabelo esquisito consegue derrubá-la.

E, claro, todo mundo vai reconhecer Robert De Niro no papel do mafioso, charmoso como sempre.

A reconstituição de época, figurinos e a trilha sonora só merecem aplausos.

Mas é só. Muito pouco para ser o melhor filme do ano.

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