Instinto Materno

“Instinto Materno”- “Pozitia Capilului”, Romenia, 2013

Direção: Calin Peter Netzer

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O que se esconde por trás de uma mãe possessiva e controladora?

Cornelia Keneres, 60 anos, antipática e cheia de si (a excelente Luminita Gheorghiu), sempre vestida com casacos caros, bolsas vistosas e muito ouro nas mãos, punhos, dedos e orelhas, não tem uma boa relação com seu único filho, Barbu (Bogdan Dumitrache), de 30 e poucos anos.

O mimado filho de Cornelia vive com uma moça divorciada, que ela desaprova. Rica e manipuladora, ela comenta com sua melhor amiga:

“- Ela nem ao menos colocou um bebê no colo dele!”

Cornelia pertence a uma classe social que se acha dona de todos os direitos que compra com dinheiro, ganho não se sabe bem como. Na Romenia, país saido de uma ditadura cruel e onde as relações sociais ainda não são democráticas, quem tem dinheiro age dessa forma insolente e autoritária. Essa classe usa a linguagem da corrupção, como se tudo estivesse à venda.

Na verdade, sabemos que não é só na Romenia que existem pessoas como Cornelia. E, por isso, o filme passa a ser emblemático de uma situação universal.

Quando um trágico acidente acontece, Cornelia vê nele, o melhor momento para recuperar o filho afastado dela.

Um menino de 14 anos, pobre, morador da periferia de Bucareste, morre por causa da imprudência do filho de Cornelia, que queria ultrapassar um carro em alta velocidade, numa zona onde deveria desacelerar o carro.

Sabendo-se culpado, Barbu foge sem prestar socorro à vítima.

Cornelia, uma pessoa onipotente e arrogante, muito bem relacionada, vai usar de seu poder de suborno para comprar a liberdade do filho, intrometendo-se na investigação policial. Ela aproveita da situação para recuperar o filho perdido e culpado, aconchegando-o sob suas asas protetoras.

Em nenhum momento essa mãe egoista pensa na perda da outra mãe por culpa da negligência e irresponsabilidade de seu filho.

Porém, a vida vai aproximar essas duas famílias, em tudo diferentes mas iguais no sofrimento.

O cineasta Calin Peter Natzer, 39 anos, que também co- escreveu o roteiro, vale-se da esplêndida atuação da atriz Luminita Gheorghiu para extrair desse drama familiar tudo que a história pode oferecer, em termos de reflexão sobre o ser humano e as condições sociais que o cercam.

O novíssimo cinema romeno, super premiado, já tem em “Instinto Materno – Child’s Pose”, um excelente representante de seu vigor. O filme foi o vencedor do Urso de Ouro e do Prêmio da Crítica de Melhor Filme no Festival de Berlim 2013.

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Sem Escalas

“Sem Escalas”- “Non-stop”, Estados Unidos/França, 2014

Direção: Jaume Collet-Serra

Liam Neeson, 61 anos, irlandês, marcou sua presença como ator no filme “Lista de Schindler”, Oscar para Steven Spielberger em 1993. Rosto expressivo, físico imponente, voz atraente rouca, não dá para esquecer dele. Pena que agora, ele só faz filmes de ação.

O último que eu me lembro de ter visto com ele foi “Chloe” 2009, quando ele viveu um drama na vida real. Sua mulher, Natasha Richardson (filha da atriz Vanessa Redgrave e do diretor Tony Richardson), sofreu um banal acidente de ski e morreu dois dias depois. O marido abandonou a filmagem e ficou ao lado dela no hospital.

Na ressaca do Oscar, resolvi vê-lo em “Sem Escalas”, sem ter lido nada sobre o filme.

O começo do filme é atraente. Estamos dentro do carro dele, que bebe uisque num copo descartável. Disfarça o cheiro com um “spray” para a boca. Desce do carro, atende ao celular mas só entendemos ele dizer:

“ – Pode confiar em mim…” e passa um avião fazendo muito barulho.

Ele está com o rosto crispado e o vemos fumando na porta do aeroporto. Sentimos tensão nele e a câmara está um pouco desfocada, como se fosse o seu olhar. Chove e as cores são escuras.

Ele examina os passageiros sentados na porta de embarque para o mesmo voo que ele vai pegar. Entre eles, reconhecemos Julianne Moore. Há um homem com roupa étnica árabe.  Sem querer, esbarra num negro que reclama e ele nota no chão um brinquedo de criança.

Quando os passageiros embarcam, ele traz o boneco perdido e convence a menina relutante a entrar no avião.

Ele está na executiva e o negro, que empurrou sem querer, está ao seu lado. Mas não por muito tempo porque Julianne Moore pede para sentar na janela e o negro cede o seu lugar.

Lado a lado, ele não consegue disfarçar o medo durante a preparação para a decolagem. Ela conversa para distraí-lo e pede dois gim-tônica. Mas a aeromoça (Michelle Dockery de “Downton”) só traz um e dá para ela, que segura a mão dele, que está apavorado.

E o avião decola.

Nada como o interior de um avião para passar um clima claustrofóbico. Pior ainda quando, relaxando do medo que tem da decolagem, Liam Neeson, o agente federal aéreo Bill Marks, que deveria zelar pela segurança do voo, começa a receber mensagens ameaçadoras no seu celular. Um dos passageiros parece conhecê-lo bem e insiste que vai matar uma pessoa a cada 20 minutos, se U$150 milhões não forem depositados em uma conta.

Um grande acerto foi colocar em português as mensagens dos celulares que aparecem na tela. Se fossem usados os letreiros, não daria para acompanhar a história, que depende que as mensagens sejam lidas pela plateia.

O diretor espanhol Jaume Collet-Serra consegue impor um ritmo febril nos acontecimentos a bordo e, com isso, fisgar a nossa atenção.

O problema é que o roteiro é falho em explicar bem o que está acontecendo. Depois do filme, o espectador tem que ficar ligando as pontas soltas por si mesmo.

Lupita Nyong’o é uma outra aeromoça que entra muda e sai calada. Mas reconhecemos sua bela imagem.

Bom entretenimento, “Sem Escalas” é um filme que tem um final meio apressado e chocho.

Ficou devendo.

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