Caçadoresde Obras Primas

“Caçadores de Obras Primas”- “Monuments Men”, Estados Unidos/Alemanha, 2014

Direção: George Clooney

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Em 1943,  homens arriscam suas vidas para salvar obras de arte da sanha do 3º Reich. Derrotados, os nazistas querem deixar destriuição atrás de si. O decreto Nero de Hitler era explícito. Muito mais que o “après moi le déluge” de Luis XV (1710-1774), o nada, depois dele, era o desejo do “fuhrer”.

Esse assunto palpitante e pouco conhecido poderia ter dado um ótimo filme. Mas, George Clooney, que o dirigiu, co-escreveu o roteiro e interpretou o lider da missão, fez tantas mudanças nos fatos reais para conseguir ter nas mãos um filme-exaltação dos americanos na Segunda Guerra, que o tiro saiu pela culatra.

Sim, porque não foram sete homens que levaram adiante essa empreitada de risco. E a missão não acabou logo após a derrota dos alemães. Foi bem mais do que isso.

Entre 1943 e 1951, 350 homens e mulheres, de várias nacinalidades, arquitetos, curadores de museus, historiadores e críticos de arte, foram mesmo atrás das obras de arte roubadas pelos alemães e ameaçadas pela presença dos russos no cenário do pós-guerra, que clamavam por indenização pela morte de 20 milhões de russos.

As fotos reais nos créditos finais do filme mostram a realidade, não a história de Clooney que reduziu o número dessas pessoas para sete, cinco americanos, um inglês e um francês, para dar maior agilidade à narrativa.

Assim, Frank Stokes (George Clooney), James Granger, curador do Metropolitan em Nova York (Matt Damon), Richard Campbell, arquiteto (Bill Muray), Walter Garfield, escultor (John Goodman), Jean-Claude Clermont, francês (Jean Dujardin), Preston Savitz, arquiteto (Bob Balaban), Donald Jeffries, inglês (Hugh Bonneville de “Downton Abbey”) e Sam Epstein (Dimitri Leonidas) são os homens que, não treinados para a guerra, vão enfrentar o perigo.

Os bons atores, que tem poucas cenas juntos porque o grupo é dividido em pares para atuar em pontos diferentes da Alemanha, esforçam-se para dar corpo a personagens que não chegamos a conhecer como pessoas com suas motivações para fazer o que fazem, graças a um roteiro que dá mais ênfase a situações de comicidade.

Além de tentar salvar obras que pertenciam ao patrimônio da humanidade, esses homens também procuravam resgatar coleções particulares de judeus, que deveriam ser devolvidas a seus verdadeiros donos. Pilhadas sistemáticamente, eram enviadas, junto às outras obras roubadas, para ornamentar o futuro Museu do Fuhrer em Linz ou para adornar paredes de oficiais nazistas.

E isso transparece de um jeito canhestro no filme, numa cena na casa de um sobrinho de um dentista que arranca um dente de Bill Muray.

Entretanto, nem tudo são falhas em “Caçadores de Obras Primas”. A personagem de Cate Blanchett é bem trabalhada pela atriz talentosa. Ela passa claramente a desconfiança de se esses homens iriam mesmo salvar  os tesouros roubados escondidos ou roubá-los também.

O jantar de Cate com Matt Damon é uma cena deliciosa que tem charme e sedução.

O resto é entretenimento razoável.

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A Gaiola Dourada

“A Gaiola Dourada”- Idem, Portugal/França, 2012

Direção: Ruben Alves

Maria e José são portugueses que imigraram para a França e se instalaram em Paris em 1979. Bons trabalhadores, fama desses estrangeiros cuja presença é sinal de dedicação e carinho no que fazem, tornam-se indispensáveis para seus patrões.

Os moradores do prédio de classe média alta em que trabalham como zeladores, sentem-se recompensados e sortudos por contarem com a família Ribeiro, na figura onipresente de Maria, principalmente (Rita Blanco).

Ela vai desde cuidar das crianças gêmeas que viu nascer, até ajudar Mme Reichert na confecção de um jardim primoroso, forte candidato num concurso de jardinagem.

Maria não se poupa e trabalha mais do que o esperado, não deixando os bonsais de M. Zu descuidados quando ele viaja e passando a ferro com delicadeza as roupas mais finas que Mme Reichert não se atreve a entregar a tintureiros.

José (Joaquim de Almeida), por sua vez, é mestre de obras de uma construtora, há mais de 30 anos, onde exerce sua arte de pedreiro e cuida que os outros empregados, quase todos portugueses como ele, cumpram os horários e as normas de segurança, evitando pesadas multas. Na verdade, é o faz-tudo da empresa.

Os filhos Pedro e Paula nasceram na França mas a cultura portuguesa faz parte de seu dia a dia.

Ruben Alves, português que mora na França há 40 anos, dedicou esse seu primeiro filme a seus pais. E acertou em cheio. “A Gaiola Dourada” é entretenimento de qualidade, divertido e cheio de quiproquós.

O fato é que o casal português não se dá conta de que são explorados por causa de sua boa fé e empenho em agradar. Os filhos são os primeiros e os únicos a falar nisso, porque os patrões deles estão bem contentes com a dedicação 24 horas por dia.

Mas a coisa muda de uma hora para a outra.

José e Maria que não pensavam em Portugal, recebem uma herança inesperada com a condição de que se mudem para lá. São vinhas de um bom Porto e uma bela casa, construida pelo pai de José, com sua ajuda.

E o conflito se instala no coração dos bons portugueses.

Sonham com a “terrinha” mas a família está em Paris, bem adaptada e os patrões acordam para a desgraça de perdê-los e os enchem de mimos e substancial aumento de salários, quando a notícia transpira. Ainda por cima, os filhos não querem ir com eles. O que fazer?

O uso de canções portuguesas, o fado, a cozinha onde impera o bacalhau, o jeito comunicativo e humilde dos imigrantes, são o pano de fundo para o desenrolar dessa comédia simpática, que não quer ditar moral para ninguém nem discutir sobre classes sociais.

Cabe ao espectador notar os detalhes e fazer as reflexões. E rir muito com o jeitão simples de falar palavrões e contar histórias que os portugueses tem, em contraste com os franceses tão diferentes deles, menos comunicativos mas que sabem o que é bom para eles.

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