Toque de Mestre

“Toque de Mestre”- “Grand Piano”, Espanha, 2012

Direção: Eugenio Mira

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Um bom filme de suspense precisa de alguns elementos essenciais: ritmo, segredos e perigo. E estão todos presentes no ótimo “Toque de Mestre”, dirigido pelo espanhol Eugenio Mira.

A nota “noir” aparece desce o princípio quando um piano de cauda é retirado de um depósito, empoeirado e escuro, por homens fortes:

“- Esse lugar me dá arrepios…”, diz um deles.

Mas não é só um piano que viaja. O pianista (Elijah Wood) viaja também. Assustado e preocupado, num avião, em meio a turbulências. Mas será que é só isso que o  assusta?

Liga no celular para sua mulher, assim que pisa em terra. Ela tenta sossegá-lo, enquanto se prepara num lindo vestido azul longo, frente ao espelho.

Ela é bela e elegante (Kerry Bishé) e eles fazem um casal charmoso e de sucesso. Ela atriz, ele o maior pianista de sua geração.

Mas, infelizmente, Tom Selznick não pisa num palco há cinco anos, desde aquele concerto em que não conseguiu terminar de tocar uma peça, composta por seu amigo e mentor, Patrick Godureaux.

“La Cinquette” ficou com a fama de composição maldita. Impossível de ser tocada.

No entanto, no concerto desta noite, no próprio piano do amigo, falecido há um ano, Tom tenta dar um recomeço em sua carreira.

Um mau presságio o assusta quando, minutos antes de entrar no palco, dá com a peça maldita no meio das partituras daquela noite. Joga-a no chão como se lhe queimasse os dedos.

A plateia vestida a rigor se agita. Vai começar.

Mas quando o maestro dá início ao concerto e a orquestra realça a execução brilhante do pianista, uma flecha em vermelho, mostrada em “close” na partitura, intriga a nós e ao pianista.

Segue-se uma ameaça direta escrita em vermelho:

“Erre uma nota e você morre.”

Nessa noite, Tom Selznick vai ter que tocar sob a pressão de um assassino.

E vítimas de um desatinado vão tombar.

“Toque de Mestre” prende o espectador porque consegue criar uma noite de suspense num único cenário, o teatro, onde os personagens estão por vontade própria mas sem saber que vão ser testemunhas de atos cruéis.

Celulares, um notebook e um piano de cauda vão ser os figurantes da trama. E John Cusak faz o contraponto com convicção.

Com um roteiro inteligente de Damian Chazelle e uma majestosa fotografia de Umax Mandia, o diretor Eugenio Mira acerta no tom à Brian de Palma que escolheu para contar essa história.

E o final é uma dedução lógica que revela uma idéia brilhante.

Vocês vão gostar.

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Noé

“Noé” – “Noah”, Estados Unidos, 2013

Direção: Darren Aronofsky

A Biblia da tradição cristã ou aTorah dos judeus, são livros, ou melhor, um conjunto de livros que contam histórias muito antigas sobre o homem.

Uma delas é a do patriarca Noé, no livro do Gênesis, que teria atendido a uma ordem do Criador: construir uma Arca que salvasse os inocentes, ou seja, todos os animais aos pares, ele e sua família, pois haveria uma destruição total da humanidade com a água, o dilúvio.

O Criador estava zangado com suas criaturas humanas que se desviaram da tarefa de cuidar da Criação, dada a Adão e Eva.

Essa história sempre fascinou Darren Aronofsky, 45 anos, que já nos deu “Requiem para um Sonho” 2000, “A Fonte” 2006, “O Lutador” 2008 e “Cisne Negro” em 2010.

Ele precisou de tempo para realizar esse sonho de infância com “Noé”, superprodução que custou U$130 milhões.

Em cenas grandiosas, vemos o patriarca levar adiante o pedido do Senhor.

Ajudado pelos anjos caídos, os gigantes de pedra que vemos no filme, Noé construiu a Arca e, quando chegaram as águas mortais, salvou a quem o Senhor ordenara que salvasse. Uma fumaça, que envolvia os animais na Arca, fazia com que dormissem durante todo o dilúvio.

Mas, longe de ser uma criatura sem conflitos, vemos  Noé, interpretado por Russell Crowe, debater-se em sonhos e mesmo acordado, com essa missão que levaria à morte toda a humanidade.

Ao longo do cumprimento dessa tarefa cruel, vemos ele usar de sua força e convicção, mas também transformar-se num fanático e depois em um ser atormentado pela culpa.

A família de Noé, no filme, mostra a bela Naameh (Jennifer Connelly) e seus filhos Shem (Douglas Booth), Cam (Logan Lerman) e Jafeh, além da filha adotiva de quem salvou a vida, Ila (Emma Watson). Eles ajudam Noé a cumprir sua promessa ao Senhor mas estranham quando ele assume o papel trágico de destruidor da humanidade. Assim Noé entendera a ordem do Senhor, que lhe falava em sonhos, por imagens.

Na tradição judaica, os estudiosos da Torah preenchem as lacunas das histórias com explicações mais detalhadas. São as “midrash”. O diretor Darren Aronofsky, judeu não religioso, valeu-se dessa tradição e incluiu na história de Noé alguns pontos que não estão no Gênesis, que traz uma narrativa curta sobre o dilúvio.

Por exemplo, o diretor criou para Noé uma família vegana, que não comia carne de nenhuma espécie e mostra o personagem como o primeiro defensor do meio ambiente.

Mas, em assim fazendo, também seguiu a tradição popular que dá muitas faces a Noé. Do velhinho bondoso das histórias infantis ao homem culpado que aparece em outras narrativas e no filme.

Russell Crowe disse em entrevista que o diretor Darren Aronovsky é um “ativista vegetariano” e que ele ama os animais. E acrescenta:

“Acredito que a forma como olhamos os bichos explica a nossa sociedade. Se mudarmos o jeito com que os tratamos, mudaremos também o modo como nos relacionamos.”

E essas posições, defendidas por muitos, mundo afora, faz de “Noé” um personagem contemporâneo.

Vá ver o filme e mergulhe nessas questões. Pense nelas porque são importantes.

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