Sob a Pele

“Sob a Pele”- “Under the Skin” Reino Unido, 2013

Direção: Jonathan Glazer

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Nossa pele nos cobre e nos veste. Debaixo dela somos todos semelhantes mas as aparências dadas pelos contornos e cor da pele, olhos e cabelos nos diferenciam.

O misterioso filme “Sob a Pele”, brinca com a idéia da pele como cobertura ou disfarce.

Um ser, vindo de uma estrela ou planeta longinquos, aparece por aqui, como uma luz intensa e se veste com uma pele humana, ou um simulacro dela e toma a forma de uma mulher bela e sedutora.

Scarlett Johansson, talentosa e única, parece ser uma linda mulher mas as aparências enganam. Ela é aquele ser que veio de um lugar distante.

Nas ruas e estradas da Escócia ela caça suas presas, homens solitários, enfeitiçados com a boca vermelha, os olhos claros, cabeleira escura e pele branca. O corpo escultural está semi-coberto por um casaco de pele barato.

Aquele furgão branco que ela dirige, pára muitas vêzes para recolher homens que vão segui-la para um lugar que será fatal para eles.

Mas por que ela faz isso? Não há nenhuma explicação. É uma predadora de homens que querem sexo com uma bela mulher anônima. Mas, também estranhamente, ela só aceita destruir solitários sem família.

Até que se depara com um homem que parece ter saido de um quadro de Francis Bacon. Com ele, ela começa a tocar e a se deixar ser tocada. E ele é o único que será poupado.

A partir daí, parece que ela fica seduzida pelo toque de uma outra pele. Experimenta sensações humanas pela primeira vez.

A bela, que não se sabe bela, olha-se no espelho e se admira com o que vê. Suas curvas atraentes, detalhadas pela câmara, são vistas e admiradas pelo ser que habita aquela pele.

E parece que vai querer experimentar também o que todos aqueles homens queriam e não tiveram.

E isso vai ser o seu fim.

O final faz lembrar das feiticeiras da Idade Média e seu triste destino.

Escuro, sombrio, intenso e curioso, o filme “Sob a Pele” atrai a atenção de quem gosta de mistérios. As lacunas terão que ser preenchidas pela imaginação de quem gosta de contar histórias.

As imagens belíssimas, o clima que vai sendo criado, a trilha sonora de Mica Levi que complementa o não dito, levam o espectador a ter vontade de conhecer o livro de Michel Faber no qual o filme se baseou.

Talvez para bucar respostas, que certamente não serão dadas. Afinal, quem possui o segredo do desejo?

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A Recompensa

“A Recompensa”- “Dom Hemingway”, Reino Unido, 2013

Direção: Richard Shepard

 

O palavrório inicial assusta os ouvidos mais delicados. Uma louvação machista e narcisista, em tom exagerado, apresenta o personagem central, Dom Hemingway, que está na cadeia há doze anos.

Jude Law, num papel bem diferente dos que costuma representar, é ame-o ou deixe-o. Grosseiro, desbocado, agressivo, irritante. Ele é tudo isso e um pouco mais.

“- Sempre tive problemas com a minha raiva, você sabe, Dickie. Tentei ioga, CDs, aulas na prisão, mas ela ainda está dentro de mim…” explica-se ele ao melhor amigo (Richard E.Grant) depois de quase ter matado de pancada o cara que vivia com a mulher dele, já morta, assim que sai da prisão.

“- Perdi a infância de minha filha…” e olha o retrato dela.

Pronto, até as almas mais escandalizadas com ele, marcam um ponto a seu favor.

Mas, como exagera em tudo, num pub em Londres, tenta recuperar os doze anos perdidos em três noites de bebedeira, cocaína e mulheres.

Com Dickie no trem que os leva ao sul da França, onde Dom vai cobrar uma dívida, ele comenta a ressaca:

“- São cossacos sodomizando o meu crânio!”

E o tom desbocado e agressivo, principalmente quando bebe, continua, mesmo frente ao chefão russo (Demian Bichir), que pode matá-lo com um gesto.

Mas ele ficou calado por doze anos na prisão, não entregou ninguém e merece uma recompensa. Infelizmente vai durar pouco a alegria de Dom. Um acidente de carro, filmado de uma maneira original, vai ser a volta para trás da roda da fortuna.

Mas será que quem salva uma vida vai ser recompensado pela sorte no momento em que mais precisa dela?

O personagem de Jude Law tem uma reviravolta na vida e tem que escolher entre o afeto e o dinheiro.

Ele está ótimo na pele de Dom Hemingway, dirigido por Richard Shepard, que fez um filme com um visual atraente, trilha sonora bem escolhida e  vontade de divertir a plateia.

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