Apenas Uma Chance

“Apenas Uma Chance”- “One Chance” Estados Unidos, Inglaterra, 2013

Direção: David Frankel

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É incrível a quantidade de transtornos que o tenor galês Paul Potts teve que enfrentar para que ele, enfim, aos 43 anos, pudesse realizar o sonho de sua vida.

O filme, que é baseado em fatos reais, começa em 1985, em Port Talbot, no País de Gales, na Inglaterra, com o ator James Corden, que faz Potts, dizendo em “off”:

“ – Desde que me lembro por gente, eu queria cantar. Cantar de verdade. Eu nasci com o que o mestre do coro chamava de “uma grande voz”. Uma voz que nasceu para cantar ópera.”

O menino gorducho, de olhos azuis no rosto redondo, pacífico por natureza, sofreu muito “bullying” na escola. Porque ele cantava o tempo todo.

“- E quanto mais eu cantava, mais eu sofria na mão dos meninos da escola. Quanto mais eu sofria apanhando, mais eu cantava.” E ele resume:

“- Foi um interminável drama, onde havia música e violência, romance e comédia. Como uma ópera. A ópera da minha vida.”

O filme “Apenas Uma Chance”, é dirigido por David Frankel (“O Diabo Veste Prada”2006 e “Marley e Eu”2008), que encontrou o tom emocional exato para contar uma história que emociona, sem cair na pieguice.

Em casa, a vida também não era fácil para Paul. O pai (Colm Meany) não via com bons olhos sua mania de ópera, nem sua gordura. Implicava com ele o tempo todo, dando a impressão de que não o considerava “macho” o suficiente para ser seu filho. Enquanto que a mãe, superprotetora, comungava com Paul a adoração pelas árias de Pavarotti e a certeza de que ele seria um dia, um grande tenor.

E, quando Paul começa a namorar Julz (a ótima Alexandra Roach, também gordinha de olhos azuis), encontra mais uma aliada para torcer por ele e ajudá-lo a realizar seu sonho.

O caminho foi longo e cheio de contratempos, alguns até mesmo trágicos, desde um apêndice que teve que ser operado às pressas na véspera de sua estreia na “Aida”, até um tumor na tireóide e um atropelamento que o deixou estropiado por mais de um ano.

Sem contar a decepção em sua passagem pela bela Veneza, quando não conseguiu cantar, de puro nervosismo, na frente de seu ídolo Pavarotti.

Ele não tinha nada a seu favor, a não ser sua voz e a confiança das mulheres de sua vida, mas ganhou o concurso da TV “Britain’s Got Talent”em 2007.

O filme é bem conduzido, os atores são ótimos e os acontecimentos levam os espectadores sensíveis muitas vêzes às lágrimas, identificados com os sofrimentos e o final feliz emocionante de Paul Potts.

Alíás é ele mesmo que dubla todas as árias que o ator James Corden finge cantar. Um presente para quem gosta de ópera.

Entretenimento gostoso, divertido, com momentos de verdadeira emoção, “Apenas Uma Chance” passa uma bela lição de persistência e apego a um sonho de uma vida toda.

 

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Como na Canção dos Beatles

“Como na Canção dos Beatles”- “Norwegian Wood”- “Noruwei no Mori” Japão, 2010

Direção: Tran Anh Hung

 

Melancolia e beleza delicada são traços presentes na cultura japonesa. Como coadjuvantes, a culpa e a vergonha engendram dramas onde a morte é a única solução. Nesse enredo, amores são impossíveis.

O franco-vietnamita Tran Ahn Hung fez um filme belo e triste que alguns vão achar que é muito lento. É preciso paciência para apreciar “Como na Canção dos Beatles”.

E é bom lembrar que esse cineasta de 54 anos concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1993, com seu primeiro longa, “O Cheiro de Papaia Verde”.

Por mais que nos queiramos distanciar da trama desse filme de 2010, ela nos arrasta, junto aos personagens. A música de violinos que choram e as paisagens bucólicas de uma natureza impassível perante o sofrimento humano, ajudam a pintar o quadro poético de um melodrama.

É 1967 num Japão onde estudantes saem às ruas para protestar contra a guerra do Vietnam. Mas Toru Watanabe (Kenichi Matsuyama) tem 20 anos e não se interessa por política e passeatas. Gosta de garotas. Só que quando chega o amor, o roteiro é pesado.

Watanabe ama Naoko (Rinko Kikuchi) mas um terrível acontecimento os separa. Tentam ficar juntos, Naoko perde a virgindade no seu vigésimo aniversário mas o segredo do passado paralisa os dois jovens amantes.

Eles habitam um exílio da vida e há um namoro com a morte, seduzidos pelo suicídio de Kisuki (Kengo Kora), ex namorado de Naoko e amigo de Watanabe.

É quase como se os dois contemplassem o abismo e se deixassem cair, lentamente, levados pela vertigem da melancolia.

Seja verão e as colinas estejam verdes, seja inverno e a neve os abrigue como um cobertor macio, eles tentam fugir do fantasma do amigo, torturados.

Naoko afunda na loucura enquanto Watanabe tenta libertar-se do apelo da morte.

Quando aparece Midori (Kiko Mizuhara) em sua vida, Watanabe sente-se atraído por ela, mais leve e coquete, mas ela também tem dores ocultas e um namorado.

O filme é uma adaptação do primeiro livro do famoso escritor japonês Haruki Murakami, de 1987, que dizem ser auto-biográfico.

A fotografia do filme, de Ping Bin Lee que fez “Amor à Flor da Pele” de Wong Kar-wai, é deslumbrante em cores frias. E a música de Jonny Greenwood faz o clima adensar-se mais e mais, até ficar sufocante.

A triste canção do título toca no final desse filme que tem uma poesia e beleza geladas e nos recordamos também de nossas dores de amores. Afinal quem as desconhece?

“Quando eu acordei, estava sózinho

O pássaro tinha voado.” (“Norwegian Wood” de Lennon-McCartney 1965)

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