O Melhor Lance

“O Melhor Lance”- “La Migliore Offerta” Itália, 2013

Direção: Giuseppe Tornatore

Oferecimento Arezzo

 

Ternos bem cortados, cabelo pintado, sempre de luvas negras no pódio da casa de leilões onde pontifica, Virgil Oldman (Geoffrey Rush de “O Discurso do Rei”) é arrogante, introvertido, odeia celulares e não tem amigos de verdade. Mas é sempre chamado para fazer avaliações de objetos, móveis e quadros preciosos. Sua opinião é considerada indiscutível. E ele só pensa em trabalho.

Em seu aniversário, janta sózinho e dispensa o bolo que o “chef” do grande restaurante traz em pessoa para ele:

“- Sou muito supersticioso. Meu aniversário é só daqui há 22 minutos. Faça de conta que aceitei.”

E deixa o bolo com vela intocado.

Virgil vive só, entre sedas, cristais e objetos de arte magníficos.

E tem um segredo. Atrás do armário de luvas, existe um quarto secreto onde sua coleção de retratos de mulheres, pintados por grandes mestres, espalha-se pelas paredes altíssimas. Uma única cadeira para um único apreciador de mulheres que ele nunca conheceu. Um esplendor guardado a sete chaves.

Quem o vê atuando nos leilões, não acreditaria no golpe de falsificações que ele maquina com o pintor copista Billy (Donald Sutherland), que o ajuda a aumentar sua coleção de mulheres por gênios da pintura a preços módicos.

Mas, a vida de Virgil Oldman vai virar de cabeça para baixo, quando é chamado para avaliar os pertences de uma família que tem uma única herdeira.

A vila é antiga, enorme e abriga milhares de peças jogadas pelos cantos, empoeiradas no chão, esquecidas.

Acontece que a jovem Claire Ibbteson (Sylvia Hoeks, bela atriz holandesa), a herdeira em questão, tem também um quarto secreto, onde se esconde do mundo. Traumatizada e fóbica, vai se tornar a obsessão do velho leiloeiro.

A história que Virgil e Claire vão viver terá um final surpreendente. Na cena derradeira, o olhar de Geoffrey Rush fica impresso na memória do espectador.

Giuseppe Tornatore, 58 anos, o cineasta de “Cinema Paradiso” 1988 e tantos outros filmes inesquecíveis, dirige e é o autor do roteiro de “O Melhor Lance”. Se este não é seu melhor filme, é certamente superior ao que se pode assistir hoje no cinema. E é a primeira vez que Tornatore filma uma história de suspense, saída de sua imaginação, num ambiente sofisticado, que joga com o tema da falsificação, seja na arte como na vida. No nosso ouvido fica soando a frase: “Há sempre algo de autêntico na falsificação”.

Com a música imbatível do maestro Ennio Morricone, 86 anos, “O Melhor Lance” ganhou quatro Davids Di Donatello, o Oscar italiano, inclusive  de melhor filme.

E somos brindados, além de tudo, com a visão de quadros que estão em museus, obras primas da arte do retrato feminino, de Goya a Picasso.

Um deleite.

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Viva a Liberdade

“Viva a Liberdade”- “Viva La Libertà”, Itália, 2013

Direção: Roberto Andò

 

Nas antigas fábulas, encontramos histórias de pessoas que trocam de identidade, como aquela chamada  “O Príncipe e o Mendigo”, que virou romance de Mark Twain (1835-1910).

No filme “Viva a Liberdade”, dirigido por Roberto Andò e baseado em seu livro “O Trono Vazio”, a história envolve esse mesmo tema mas aqui são irmãos gêmeos que trocam de lugar e identidade. Um é político famoso, o outro, filósofo, diagnosticado como psicótico.

Quando o secretário do partido de esquerda de oposição ao governo italiano, o senador Enrico Olivieri, vê-se no último lugar das pesquisas sobre os candidatos à próxima eleição para a presidência do país, ele entra em crise.

Deprimido, não consegue enxergar uma saída dessa situação humilhante. Além do público, o partido está claramente insatisfeito com o seu desempenho.

O que fazer? Ele foge para Paris, incógnito e vai passar uns tempos na casa de uma amiga da juventude, Danielle (Valeria Bruni Tedeschi), casada com um cineasta vietnamita.

Seu assessor, Andrea (Valerio Mastrandia), da noite para o dia, vê-se às voltas com esse problemão.

O que fazer? Ele então tem uma ideia que parece brilhante. Acontece que o senador Enrico tem um irmão gêmeo, Giovanni, filósofo, culto mas que acaba de sair de um hospital psiquiátrico.

Apresentado à ideia de trocar de lugar com o irmão, está pronto a colaborar. Em silêncio, porém, acrescenta o assessor. E, em total segredo.

Por um descuido do assessor, a imprensa, que tinha sido notificada da licença que o senador pedira, fica sabendo que ele está de volta e muito mudado.

Em uma entrevista exclusiva, o repórter pergunta:

“- Senador, o senhor está diferente. Seus cabelos estão grisalhos…”

“- Isso mesmo. Não pinto mais. E isso é um conselho aos italianos. Parem de se enganar. Se os políticos são medíocres, é porque os eleitores são também medíocres. Se são ladrões, é porque seus eleitores são também ladrões. Há sempre um momento na vida de um poderoso onde ele pode ser crucificado. O medo é a música da democracia!”

Entre feliz e amedrontado com o que ouvira, anota tudo e comenta com o assessor, que deixara Giovanni sózinho no restaurante e agora volta, apavorado com o que ouve:

“- Parece outro…Essa entrevista vai ser uma bomba!”

Anna (Michela Cescon), a mulher do senador Enrico, se assusta com a ideia do assessor:

“- Mas você está colocando o partido nas mãos de um louco!”

E claro que tudo muda. O “louco”, citando poetas e filósofos e com um discurso que soa sincero e corajoso aos ouvidos de um público ávido por uma liderança otimista, é ovacionado por onde passa.

Toni Servillo faz os dois papéis com todo o talento e humor que o roteiro pede.

É a melhor coisa do filme. Ele cria uma postura e um rosto diferente para cada um dos irmãos e, com tal maestria, que sempre podemos dizer quando é um e quando é o outro que está na tela.

O filme é divertido e atual mas o ator é genial.

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