Boyhood – Da Infância à Juventude

“Boyhood – Da Infância à Juventude”- “Boyhood”, Estados Unidos, 2014

Direção: Richard Linklater

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Prisioneiros do tempo, que segue sempre em frente, nossa vida movimenta-se em vários espaços, que se sucedem uns aos outros.Todo mundo vive assim.

“Boyhood” é um filme simples, porque é como a vida de cada um de nós, já que o ser humano é sempre o mesmo na base. Mas, ao mesmo tempo, o filme é muito sofisticado porque essa visão de um ser humano em perspectiva, através dos anos, é extraordinária.

Vemos desenvolver-se, perante os nossos olhos, acontecimentos escolhidos, com sensibilidade, da vida daquela família de mãe e seus dois filhos, com o pai aparecendo e desaparecendo, e ficamos íntimos daqueles personagens.

Mas claro que o menino é o centro. Mason ocupa o foco. A construção dele como pessoa vai se delineando com detalhes em nossa mente, durante as três horas do filme. Que, aliás, passam rápido como a vida.

Da criança de uns 6 anos, que olha o céu e pensa, não sabemos o quê, ao jovem que, mais apaziguado com os medos da adolescência, aos 18 anos, olha a câmara com um sorriso cúmplice, como se sorrisse para si mesmo, 12 anos se passaram. Não foi fácil em muitos momentos, mas assim mesmo ele chegou alí.

E sentimos uma ponta de pena de não continuar seguindo seus passos.

Richard Linklater tinha filmado “Before Sunrise – Antes do Amanhecer”em 1995 com Julie Delpy e Ethan Hawke, quando começou a pensar em “Boyhood”. E, quando o projeto começou, foram 39 dias de filmagem, quando conseguiam conciliar as agendas de Patricia Arquette, a mãe, Ethan Hawke, o ator fetiche de Linklater que faz o pai de Mason (Ellar Coltrane) e Samantha (Lorelei Linklater, filha do diretor). De 2002 a 2013 eles se reuniam, discutiam o texto escrito pelo diretor e filmavam 3 ou 4 dias. E iam mudando, amadurecendo, envelhecendo.

E, dessa intimidade anual com Ethan Hawke foi que surgiu a ideia de filmar os dois outros filmes da trilogia famosa, “Antes do Por-do-Sol – Before Sunset” de 2004 e “Antes da Meia Noite – Before Midnight” de 2013, sempre com o mesmo casal, um “Boyhood” sobre a relação amorosa.

Richard Linklater, 54 anos, escolheu a trilha sonora para marcar também a passagem do tempo. Assim, ouvimos desde Cold Play, Lady Gaga, Foo Fighters, Bob Dylan, Paul McCartney até três canções do nosso Moreno Veloso.

“Boyhood”, que ganhou o Urso de Prata em Berlim pela melhor direção, é um filme que já nasceu “cult”.

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Relatos Selvagens

“Relatos Selvagens”- “Relatos Salvajes” - Argentina, Espanha, 2014

Direção: Damián Szifrón

 

Freud disse um dia: “O humor é um dom precioso e raro”. O pai da psicanálise mostra o seu humor sarcástico numa história real, acontecida em 1938, quando teve que deixar a Áustria, depois que sua filha Ana foi presa e interrogada pelos nazistas.

Ele foi obrigado a assinar um documento, dizendo que não sofrera maus tratos e, com ironia fina digna do humor negro, acrescentou com sua própria letra:“Posso recomendar altamente a Gestapo a todos.”

Ou seja, fazer humor é saber lidar com o sofrimento através de palavras que fazem rir. É transformar a tragédia em algo risível e assim, triunfar sobre a dor.

Um excelente exemplo desse modo de falar sobre as limitações e os desastres da vida humana é o filme “Relatos Selvagens”, que tem Agustín e Pedro Almodóvar como produtores.

Em seus seis episódios, todos ótimos, rimos da maneira como pessoas como nós mesmos, perdem as estribeiras quando tudo dá errado.

Os episódios, escritos e dirigidos por Damián Szifrón, 39 anos, que também participou da montagem, mostram um humor negro com o qual nos identificamos. Rimos porque nos vemos no papel daquele ser humano que, contrariado em seus desejos, vinga-se com uma graça nada politicamente correta.

Porque bem lá dentro, todo mundo é bastante malvado. E, com o filme rimos, ao invés de atuar essa maldade, que, por um curto espaço de tempo é permitida e incentivada.

“Relatos Selvagens” é imperdível. Não só como catarse mas para apreciar a inteligência de quem imaginou e escreveu histórias tão universais, que estão fazendo sucesso por onde passam.

As fotos de animais da África nos créditos iniciais já brincam com o título do filme. Vocês vão ver quem é selvagem aqui.

Tudo começa com contundência e impacto no episódio do avião, continua com uma mulher que toma as dores da outra, depois na estrada uma rixa deriva para um combate, enquanto que a burocracia leva Ricardo Darín às raias da loucura, num dos episódios mais latino-americanos do filme e um pai se desespera com o filho, para tudo acabar num casamento onde a noiva estressada, a ótima Erica Rivas, derrama sangue e lágrimas, fechando o filme com uma nota de bom coração.

Não dá para não gostar de “Relatos Selvagens”, que concorre pela Argentina a uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Vá ver correndo e solte suas feras, rindo muito com tudo que acontece na tela.

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