Labirinto de Mentiras

“Labirinto de Mentiras”- “Im Labyrinth des Schweigens”, Alemanha, 2015

Direção: Giulio Ricciarelli

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Nosso personagem herdou do pai o lema “Veritas” e tornou-o seu. Lutou contra forças extraordinárias, tudo em nome de descobrir uma verdade que quase todos queriam esconder.

O jovem promotor Johann Radmann (o único personagem fictício do filme, um composto de três promotores que lideraram a história que vai ser contada), começa sua carreira em Frankfurt em 1958, em plena reconstrução da Alemanha, que, dividida em duas, quer se esquecer da guerra da qual saiu derrotada e olhar para o futuro.

Ele está no início de sua carreira, e tem que se ocupar com pequenas questões burocráticas, como infrações de trânsito, mas sonha com grandes causas.

Quase sem querer, depara-se com Auschwitz:

“- A maior catástrofe da humanidade, esquecida e silenciada!”

No corredor da promotoria, grita um jornalista, indignado pelo fato de um professor ter sido reconhecido como um dos nazistas que trabalharam no campo de concentração.

Todos os que escutam seus protestos violentos ficam constrangidos mas desinteressados. Só Johann Radmann se sensibiliza pelo caso.

Na verdade, o jovem promotor vai se deparar com um muro de silêncio em torno ao assunto dos nazistas e os crimes cometidos durante a Segunda Guerra. Todos haviam prescrito, menos o de homicídio. Mas como conseguir provas?

Os próprios americanos não estavam nem de longe preocupados com isso. E tentavam tirar a ideia da cabeça do promotor:

“- Mas já houve o Julgamento de Nuremberg…”, diziam para ele.

“- Foi um julgamento conduzido pelos Aliados. Eu quero que a justiça alemã condene os criminosos que trabalharam em Auschwitz”, repete Radmann, incansável.

E tinham sido 8.000 alemães, todos suspeitos de executar ou mandar executar centenas de milhares de judeus no campo na Polonia.

Radmann tem o apoio do Procurador-geral Fritz Bauer, judeu, que o encarrega do caso. Esse personagem-chave é interpretado com talento por Gert Voss, que morreu antes da estreia do filme, a quem ele é dedicado.

Vemos o promotor enfrentar a tudo e a todos, na esperança até de capturar, em Buenos Aires e trazer para ser julgado na Alemanha, o próprio Josef Mengele, o “Anjo da Morte”, médico que praticara atrocidades em Auschwitz, especialmente com gêmeos que ele levava para seu laboratório de experiências perversas.

Essa história real, contada em “Labirinto de Mentiras”, que mexe com a consciência de culpa e o uso coletivo de um mecanismo de negação da realidade vivido por uma nação, foi o filme escolhido para representar a Alemanha no Oscar 2016.

Primeiro longa do italiano Giulio Ricciarelli, o filme busca a sobriedade e foge do sensacionalismo. Num acerto, os depoimentos das vítimas de Auschwitz, em 1963, não são ouvidos mas uma música de timbre judaico, com violinos tristes, nos sensibiliza para o que adivinhamos que está sendo dito.

“- Senhores, hoje estamos fazendo História”, diz o Procurador-geral ao promotor Radmann e a todos que o cercam, pouco antes de entrarem no tribunal.

O Julgamento de Frankfurt marcou uma virada na justiça alemã, que julgou e condenou os criminosos nazistas culpados de homicídios em Auschwitz.

Um filme que, sem ser uma mega produção, chama a atenção para algo importante que não pode ser esquecido pela humanidade: cuidado, porque o homem é o lobo do homem.

Nunca deve ser esquecido que todos somos iguais e temos os mesmos direitos à vida. Isso é sagrado.

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