A Juventude

“A Juventude”- “Youth”, Itália, França, Reino Unido, Suíça, 2015

Direção: Paolo Sorrentino

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Todo ano, pessoas ricas do mundo inteiro reúnem-se na Suíça, em hotéis-spa dedicados a tratamentos de rejuvenescimento.

É um desses templos de luxo, calma e busca de saúde que vamos compartilhar, por um tempo, com Michael Caine, um famoso maestro e compositor, Fred Ballinger, seu amigo da vida toda, Mick Bayle (Harvey Keitel), a filha dele e assistente, Lena Ballinger (Rachel Weiz) e o ator de Los Angeles, Jimmy Tree (Paul Dano).

Nem todos são velhos, há jovens também por lá, como Lena e Jimmy, mas há uma coisa em comum: não estão bem de espírito. Acreditam que cuidando intensamente do corpo, com todo tipo de massagens, saunas, banhos termais, checkups médicos e alimentação bem cuidada, vão se livrar de um peso, tanto físico como da alma.

Outros ainda, são movidos também por desejos de realizar um projeto importante.

Assim, o ator, que sempre é lembrado por um papel de robô, quer preparar-se para interpretar um personagem em seu próximo filme e por isso observa os hóspedes e procura detalhes no comportamento deles.

O cineasta Mick precisa acabar de escrever o roteiro de seu filme “O Último Dia da Vida” e para isso levou sua equipe de colaboradores para um “brainstorm” nas montanhas. Sua estrela fetiche, interpretada numa ponta bem aproveitada por Jane Fonda, selará o sucesso do filme, seu testamento cinematográfico, pensa ele.

Um monge budista, que vem há 20 anos para esse lugar, quer levitar no jardim.

Um ídolo do futebol, gordo e fora de forma, caminha apoiado numa bengala, está longe de seus dias de atleta mas ainda dá autógrafos para uma pequena multidão de admiradores. Qualquer semelhança com Maradona é mera coincidência?

E a bela Miss Universo ( a romena Madalena Diana Ghenea) desfila nua, para a surpresa e o encanto dos dois amigos envelhecidos, que só podem contemplá-la embevecidos, enquanto ela usufrui do prêmio do concurso, uma semana no palácio da Suíça. De quebra, ela responde à altura às ironias do ator americano. Belíssima e inteligente. É a juventude do título.

Porque os amigos envelhecidos nem sequer conseguem lembrar-se da própria juventude. Da infância menos ainda. Consolam-se passeando pelos caminhos em meio a campos floridos, montanhas nevadas e vaquinhas com sinos no pescoço. Se ao menos eles pudessem aproveitar o presente, o momento que vivem… Mas estão mais interessados em falar sobre suas próstatas e de uma bela atriz que ambos amaram no passado, Gilda Black.

O maestro sombra numa depressão raivosa toda vez que alude às suas “razões pessoais” para negar-se a dar um concerto com suas “Simple Songs” para a Rainha da Inglaterra.

As repreensões de sua filha, também deprimida porque foi abandonada pelo marido, não ajudam em nada, já que ela não quer ser consolada por ele, que foi um pai ausente. Quer a mãe, mas ela não está mais entre eles.

O filme de Paolo Sorrentino (“A Grande Beleza” ganhou o Oscar de melhor filme de 2014) é interessante pelo assunto escolhido, tem cenários belíssimos, atores estupendos, música de David Lang inspiradora mas é quase como uma colcha de retalhos preciosos. Falta algo?

Vem no final, doce e arrebatador. E Michael Caine, 83 anos e dois Oscars de ator coadjuvante, encerra o filme com uma grande atuação e emociona todo mundo. E quem resiste a Sumi Jo?

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Batman vs Superman: A Origem da Justiça

“Batman vs Superman: A Origem da Justiça”-“Batman vs Superman: Dawn of Justice”, Estados Unidos, 2016

Direção: Zack Snyder

Num mundo violento, as pessoas, além de ficarem paranoicas, precisam acreditar que existe alguém que os protegerá. Um “salvador da pátria”, messiânico, é o perigo que pode surgir e confundir os desprotegidos.

A tentação de aderir fanaticamente a quem promete uma solução para o desamparo pode levar ao engano. E isso serve tanto para as pessoas do nosso mundo, como para as cidades de Metropolis e Gotham, onde vivem  Superman e Batman.

Na verdade, a proclamada luta do título do filme entre os dois tem como base esse perigo ao qual aludi acima.

O confronto entre eles é algo preparado durante todo o filme do diretor Zack Snyder. Vai ser o ápice final?

Na verdade, o personagem principal é Batman (Ben Affleck, arrasando no papel), o vigilante, que começa a ter dúvidas sobre quem é o Superman.

Sabemos que o menino Bruce Wayne perdeu os pais num assalto, quando saiam do cinema. A cena do bandido atirando, em câmara lenta, as pérolas do colar da mãe voando e rolando pela calçada, o pai estendendo a mão para ele, impotente, nunca será esquecida pelo menino traumatizado.

Em meio ao cortejo que levava seus pais para a igreja e o serviço fúnebre, ele não aguenta e sai correndo pelo bosque. Numa queda espetacular, cai na caverna dos morcegos, que serão sua marca no futuro.

Criado pelo mordomo da família, Alfred Pennyworth (Jeremy Irons, secretamente soberbo), seu fiel companheiro e conselheiro de tantas lutas contra criminosos, Bruce Wayne é agora o dono da empresa que leva o seu nome. Maduro, não é mais o “playboy” da juventude. Menos impetuoso, e mais cético, tem pesadelos que substituiram os sonhos da infância, quando os morcegos o levavam para a luz.

Ao presenciar na rua a destruição causada pela luta do Superman contra o vilão Zod, em cenas onde prédios são destruídos e uma nuvem de detritos preenche o ar (fazendo lembrar do 9/11), Bruce Wayne consegue salvar algumas pessoas mas o prédio onde fica sua empresa é atingido e ele começa a pensar sobre o que está acontecendo.

Passam-se 18 meses e um episódio envolvendo o Superman e sua namorada Lois (Amy Adams), que fazia uma reportagem na África, causa morte de civis num tiroteio entre guerrilheiros.

Superman (Henry Cavill, bem apagado e inexpressivo), que era visto como um protetor, passa a ser chamado de vilão pela imprensa e televisão. E as multidões que o adoravam começam a suspeitar que um ser alienígena não pode ser boa coisa mesmo. A xenofobia, citada de passagem e a fé cega que cede à desconfiança fanática, são temas conhecidos no mundo atual. No mundo dos heróis, atinge o Superman.

Tudo isso é fomentado nos bastidores pelo vilão Lex Luthor, interpretado por um Jesse Eisenberg de cabelos revoltos caindo nos olhos, roupas transadas, trejeitos e requebrados estranhos e uma fala de frases entrecortadas. Bem surtado.

E claro, a ação é de doer nos olhos. Tanto na luta dos dois heróis quanto nas cenas finais contra o gigante Apocalipse. Incluída numa ponta, a Mulher Maravilha, a sedutora israelense Gal Gadot, mostra sua beleza e prepara a plateia para seu próximo filme.

“Batman vs Superman: A Origem da Justiça” é o primeiro de uma série que reúne vários heróis na “Liga da Justiça”, que vem para as telas, ainda sem data.

Apesar de muito longo nos seus infindáveis 153 minutos, o filme de Zack Snyder tem cenas atraentes, que não precisavam de 3D e um roteiro que tem ideias boas, nem sempre compreensíveis, entretanto, pelo modo como se desenrola a narrativa.

Mas os fãs vão gostar.

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