Life – Um Retrato de James Dean

“Life – Um Retrato de James Dean”- “Life”, Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Austrália, 2015

Direção: Anton Corbijn

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Ele é uma lenda do cinema.

Morreu jovem (1931-1955), com 24 anos. Não sabemos se o acidente de carro foi um suicídio ou pura fatalidade. Envolveu-se com mulheres mas não viveu nenhum romance duradouro. Houve boatos sobre sua sexualidade.

Na época, ele era a imagem de um rebelde, um jovem desajustado, como o personagem de seu filme “Rebelde sem Causa” de 1955, ano em que morreu e em que foi lançado também “Vidas Amargas”, adaptação do livro de John Steinbeck.

Seu terceiro filme, “Assim Caminha a Humanidade – Giant”, lançado em 1956, depois de sua morte, tornou-o o único ator de sua época a ganhar uma indicação ao Oscar depois de morto.

“Life” não procura saber mais do que já conhecemos um pouco. É um filme que tenta mostrar um episódio de sua vida, antes da fama, quase de bastidores, mas que teve enorme importância na construção do mito em torno de James Dean. E aconteceu por causa da teimosia de outro jovem.

Quando o fotógrafo “freelance” Dennis Stock (Robert Pattinson) oferece à revista “Life”, famosa e respeitada por suas fotos originais e reveladoras da personalidade do fotografado, um ensaio sobre James Dean, estamos testemunhando o começo da lenda em torno ao ator.

Stock, que tinha família para alimentar, não desiste desse projeto, nem quando o mais interessado nele, o próprio James Dean, pouco se importa com as fotos.

Dane DeHaan, é um James Dean que soa mais como um personagem sombrio construído pelo ator, com uma fala extremamente arrastada e hesitante. Sem o charme infantil de Jimmy, como era chamado.

Ben Kingsley, sempre um ator notável, é o único que passa algo vivo e real como Jack Warner, o poderoso dono do estúdio que contrata James Dean, relapso em suas obrigações contratuais.

Há algo muito destrutivo nessa não colaboração com quem dá a ele a oportunidade de tornar-se o ídolo que ele queria ser. Ou não queria?

E o filme do diretor holandês Anton Corbijn parece que não tem, ou não conseguiu, mostrar nada que acrescentasse algo à história de um ator famoso mas que hoje em dia mereceria um filme que destrinchasse mais sua ambiguidade e conflitos.

Talvez os fãs que se lembram de James Dean, que viram seus filmes, gostem de ver esse porque sabem como vai evoluir aquela história

Os outros vão achar o filme lento e ficar com uma impressão errada ou vaga sobre o ator.

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O Botão de Pérola

“O Botão de Pérola”- “El Botón de Nácar”, Chile, França, Espanha, 2015

Direção: Patricio Guzmán

Quando termina seu belo documentário de 2010 “Nostalgia da Luz”, rodado no deserto do Atacama, o diretor chileno Patricio Guzmán se pergunta onde mais poderiam estar os corpos de vítimas da ditadura Pinochet, os desaparecidos que as famílias procuram em vão no deserto.

Encontrados vestígios de covas coletivas de onde teriam sido removidos os corpos assassinados pela ditadura que durou 16 anos, onde estariam?

Parece que um botão de madrepérola encontrado no oceano é um elo que fala de dois crimes contra a humanidade ocorridos no Chile. Um no século XX, outro no século XIX.

Mas para contar essa história, Patricio Guzmán começa sua narrativa falando das estrelas, vasculhadas pelos telescópios do deserto do Atacama, o lugar mais seco do planeta.

Isso o leva a pensar no cometa que teria trazido a água para a Terra, que toma grande parte do espaço onde vivemos. Essencial para a vida, a água é mostrada em imagens que vão do micro ao macro. Gotas de água de chuva, geleiras, mar e rios.

E aproveita então para falar dos povos aborígenes e nômades que viviam no sul do Chile há já 10.000 anos atrás. Foram os espanhóis que deram o nome de Patagônia a esse lugar onde encontraram indivíduos de pés grandes, os “patagônicos”.

Antes do homem branco lá chegar, esses povos que tinham cinco tribos, viviam da água. Em canoas pequenas moviam-se entre os fiordes, de ilha em ilha e singravam os mares, muitas vezes bravio daquelas paragens.

“Conheciam o idioma das águas”, diz Guzmán. Foram os primeiros navegadores do Chile e tinham uma intimidade com a água, depois perdida pelos chilenos.

Pintavam seus corpos de forma criativa, ilustrando em si mesmos, sua crença de que seus mortos viravam estrelas.

Quando o capitão inglês Fitzroy, no começo do século XIX chegou à Patagônia com a incumbência de mapear a região, levou para a Inglaterra Jemmy Botton, um homem que pertencia ao povo das águas, seduzindo-o com um botão de madrepérola para que o seguisse.

Guzmán diz que ele “navegou da Idade da Pedra para a Revolução industrial” e, depois, fez o percurso inverso.

Quando voltou para os seus, havia perdido sua identidade e não era mais o mesmo que partira.

Em 1883, os mapas de Fitzroy abriram as portas da Patagônia para os fazendeiros de gado e missionários católicos. “Foi a eclipse do mundo dos indígenas”,narra  tristemente Guzmán. Hoje restam apenas vinte descendentes que ainda falam a língua fadada ao desaparecimento.

Guzmán diz então que foi Salvador Allende que libertou vozes que nunca tinham sido escutadas. Foi ele, como presidente do Chile, que começou a devolução das terras dos povos indígenas.

Mas durou pouco essa liberdade, destruída por um golpe militar que torturou e matou milhares de pessoas.

Quando a corrente Humboldt devolveu à praia um corpo de mulher, começaram a suspeitar que o oceano era um cemitério. E Guzmán narra então a triste história dos mortos sem sepultura, outros desaparecidos.

“Não há limite para a crueldade”, resume o poeta Raul Zurita.

“O Botão de Pérola” ganhou o Urso de Prata de melhor roteiro no Festival de Berlim de 2015.

Imagens de sonho e lirismo nas frases ditas em “off” pelo próprio diretor, tornam esse documentário algo precioso para aqueles que prezam a verdade e a beleza.

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