Amor e Amizade

“Amor e Amizade”- “Love & Friendship”, Irlanda, Holanda, França, Estados Unidos, Reino Unido, 2016

Direção: Whit Stillman

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Incrível pensar que o livro que foi adaptado para o filme foi escrito por uma Jane Austen (1775-1817) de apenas 18 anos,  publicado em 1871, bem depois de sua morte.

Há aqui uma observadora irônica e crítica dos costumes e da moral vigente na aristocracia inglesa do fim do século XVIII. E bom humor.

A personagem principal, que dá título ao filme, é “Lady Susan”, em torno da qual viravolteiam homens e mulheres que ela seduz e engana com a maior facilidade. Diria mesmo que Lady Susan é temida pelas mulheres que a conhecem melhor. Uma delas chega a chamá-la de “a serpente do jardim do Éden”.

Os falatórios a perseguem mas ela não dá a mínima. Sempre se sai bem, colocando a culpa nos ciúmes das outras e dos outros.

Homens ricos são o alvo dessa viúva, ainda jovem e belíssima, que tem uma filha adolescente, que ela precisa casar com um bom partido. Ela também precisa. Por que não?

Como não tem dinheiro, só pose, visita os amigos e parentes por longas temporadas, até acabar sendo descoberta em suas manipulações, das quais sabe tirar proveito, com percebemos na frase inicial do filme:

“- Se não fosse Langford, nunca teríamos sido felizes”, diz Lady Susan (Kate Beckinsale, perfeita) à filha Frederica (Morfydd Clark).

E, claro, para chegar aos seus objetivos, ela usa de todo o poder de sua beleza sobre os homens e de sua mente que fabrica estratégias dignas de um general com o peito cheio de medalhas.

Os diálogos são finos e educados, ela sempre linda, com os cachos castanho-dourados em coques meio soltos, a pele perfeita e a silhueta desejável desfilando um vestido único, no início da história e vários outros depois, de muito bom gosto, quando começa o saque ao dinheiro do marido de uma outra.

A amiga americana (Chloe Sevigny) é a confidente que se deslumbra com a astúcia dela. Casada com um homem mais velho, Alicia Johnson, que é ameaçada de ser devolvida a Connecticut por causa dessa amizade com a mal falada Lady Susan, escuta dela a reprimenda divertida por ter se casado com um aristocrata “velho demais para ser governável e jovem demais para morrer”.

“- Espero que o próximo ataque de gota que ele tiver, seja terrível” diz a amiga petulante, provocando risos na provável futura viúva.

Os diálogos são rápidos e cheios de truques e podem deixar o espectador, de início, meio perplexo. Mas, calma. Mais do que aquilo que se diz, o melhor mesmo é observar Kate Beckinsale e seu jeito maroto e arrogante de enganar, que é a cereja do bolo de “Amor e Amizade”.

Sem dúvida, uma bela e charmosa “cara de pau”.

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Jason Bourne

“Jason Bourne”- Idem, Estados Unidos, 2016

Direção: Paul Greengrass

Confesso que não sou fã de filmes de ação. Mas não perco nenhum James Bond e adorei “Mad Max – Estrada da Fúria”.

E agora entendi porque as pessoas gostam de Matt Damon fazendo o personagem Jason Bourne. E também porque esse filme de ação é fascinante.

A história é contemporânea. Envolve “hackers”, lançamento de novas plataformas digitais por um jovem milionário, invasão de privacidade e ingerência de instâncias do governo, a CIA no caso. Mas é o tom e o ritmo frenético do filme, montagem das cenas, o jeito de filmar, os cortes e os atores, que fazem dele um produto do século XXI.

O que mais fascina é o herói. Ele é caladão, ganha a vida lutando com homens musculosos, mal- encarados e tatuados, numa longínqua fronteira da Macedonia com a Grécia e acaba quase tudo com um só e certeiro soco.

É inteligente e esperto. Rei das táticas de sobrevivência, ele está sempre muitos passos à frente de quem o persegue e sabe, de antemão, qual será o meio de escapar. Sabe usar as circunstâncias a seu favor.

Ex-agente da CIA, foi voluntário por patriotismo. É uma máquina de matar mas há um enorme engano envolvendo tudo isso. Por que será que a CIA quer eliminá-lo? Há muita coisa a ser esclarecida.

Ao mesmo tempo, nosso herói inspira simpatia. Torcemos imediatamente por ele, mesmo se não sabemos exatamente do que ele se lembra. Ou pensa que se lembra. Porque a primeira fala do filme, com a tela ainda escura, são as palavras dele:

“- Eu me lembro de tudo.”

Leva um tempo para o espectador perceber quem é quem e quais conspirações são verdadeiras. Porque o que parece amigo pode ser o inimigo.

Jason Bourne ou David Webb, ou outros nomes que constam em seus vários passaportes, tem um drama em sua vida, que envolve a figura do pai. A cena é repetida algumas vezes de ângulos diferentes e parece que o pai dele caiu em uma armadilha. Antes de morrer procura prevenir o filho de algo que ele precisa saber. Mas isso foi anos atrás. E é a chave do segredo do passado que ele busca decifrar.

O maldoso diretor da CIA (Tommy Lee Jones, ótimo) é quem o caça pelo mundo através de um agente de maus bofes (Vincent Cassel).

E aqui está mais uma explicação  do sucesso do filme: ótimos atores e um diretor criativo que coreografa cenas de violência na multidão que faz uma manifestação política em Atenas, em meio a fumaça das bombas, fogo e tiros e que é o palco para Bourne escapar, mesmo monitorado pelos agentes da CIA, numa moto roubada e na mira do agente assassino.

Ou ainda, em Las Vegas, a louca perseguição em carros jamais vista. De tirar o fôlego.

E quem é que sabe os verdadeiros objetivos de Heather Lee (Alicia Vikander) uma jovem agente da CIA que parece ter uma queda por Bourne e quer trazê-lo de volta para a agência? Ou não? Também quer matá-lo?

A história (roteiro de Paul Greengrass e Christopher Rouse) tem vários buracos por onde vão passar os próximos filmes de Jason Bourne, estrelando Matt Damon e certamente Alicia Vikander.

Pelo menos parece que são essas as intenções.

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