O Mestre dos Gênios

“O Mestre dos Gênios”- “Genius”, Inglaterra, Estados Unidos, 2016

Direção: Michael Grandage

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Talvez escape ao público a importância de um bom editor para o sucesso do livro de um escritor. Esse filme ensina o quanto valeu Max Perkins (1884-1947) para alguns dos mais famosos nomes da literatura americana do século XX.

Discreto, apaixonado pelo seu trabalho e eficiente, Perkins lançou F. Scott Fitzgerald (1896-1940), autor de “O Grande Gatsby”, Ernest Hemingway (1899-1961) de  “O Velho e o Mar” que ganhou o Pulitzer em 1952 e o prêmio Nobel em 1954 e Thomas Wolfe (1900-1938).

Max Perkins foi uma lenda nos meios literários. Entregava-se todo a seus escritores, não apenas lendo e sugerindo cortes ou mesmo mudanças nos textos mas compartilhando suas vidas e ajudando-os até mesmo financeiramente.

Seu casamento com Louise (Laura Linney) lhe deu cinco filhas que ela achava que ele negligenciava.

Na verdade, Max sempre quis ter um filho e ele chegou em sua vida quando Thomas Wolfe, no fim da década de 20, entrou no escritório do mais famoso editor de sua época, com um manuscrito de 1.100 páginas, que ninguém queria publicar.

Vemos Colin Firth, sempre magnífico, com o chapéu na cabeça que Perkins nunca tirava, usar de firmeza e paciência com aquele rapaz narcisista e exagerado (Jude Law, talvez um pouco maníaco demais) e conseguir fazer dele, com menos de trinta anos e em seu primeiro livro, um escritor reconhecido.

“O Lost”, o nome original foi mudado para “Look Homewark, Angel” e misturava dados da vida de Wolfe com ficção, num estilo impressionista e poético. Mas extremamente prolixo. O editor conseguiu enxugar os excessos e transformar o livro num sucesso de vendas. As cenas dessa batalha são as melhores para contrapor a atuação de Colin Firth com a de Jude Law.

O ator britânico que faz Max Perkins dá um show de autoridade e calma, fazendo o contraponto ao excessivo e endemoniado Jude Law, tomado pelo espírito agitado do escritor que viveu apenas 38 anos.

O diretor estreante no cinema, Michael Grandage, veio do teatro inglês e contou a história do ponto de vista da parceria brilhante que lançou o  nome de Wolfe como um dos melhores de sua geração.

Mas isso enfraqueceu os outros personagens como F. Scott Fitzgerald vivido por Guy Pearce e Ernest Hemingway por Dominic West. Mesmo a mulher de Perkins na pele de Laura Linney e Aline Bernstein, a amante de Wolfe, bem interpretada no pouco que aparece por Nicole Kidman, são figuras esboçadas, mal aproveitadas pelo roteiro de John Logan.

Adaptado do livro de A.Scott Berg, “Max Perkins – um editor de gênios” de 1978, o filme tem o mérito de reunir um elenco oscarizado para contar a história desse homem por trás de seus escritores/gênios, que foi amigo e até figura paterna de um rapaz extravagante, deixando-se permanecer na sombra, como força vital e artística, posta inteiramente a serviço da melhor literatura americana.

 

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Kóblic

“Kóblic”- Idem, Espanha, Argentina, 2016

Direção: Sebastián Borenztein

Clima sombrio. Um homem, com ar pesado, olha por uma janela. Alguém o chama e ele caminha a passos largos para um hangar. Pessoas assustadas são levadas para um avião. O homem sobe à cabina. É o piloto. Para onde serão levadas aquelas pessoas?

Muitos filmes já foram feitos sobre a ditadura militar argentina que governou o país entre 1966 e 1973 e depois de um curto período, de 1976 a 1983, com mão de ferro e sem nenhuma piedade para com os opositores. Nesses filmes, há como que uma digestão lenta desse período amargo da História do país.

Ricardo Darín, 59 anos, o mais famoso ator de língua espanhola, protagonizou um dos mais comentados, “O Segredo dos Seus Olhos”, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009. Ele sempre escolhe muito bem os papéis que representa com sinceridade e talento.

Em “Kóblic”, Darín volta a ser dirigido por Sebastián Borenztein de “Um Conto Chinês” de 2011.

Estamos em 1977 e seu personagem é um homem que se debate para fugir de um passado do qual não se orgulha.

Tomás Kóblic, um homem que não sorri, fala pouco e usa uma máscara severa para olhar o mundo, está em permanente pesadelo. Atormentado por cenas assustadoras, tanto quando dorme como quando está acordado, ele não tem repouso.

Quando o vemos, está num vilarejo pobre e perdido, San Antonio de Areco no campo argentino, rebatizado de Colonia Elena no filme. Despede-se de uma mulher. Sem carinho. Ela parte de ônibus.

Guiando seu carro por uma estrada de terra, chega a um hangar onde vemos um aviãozinho de dois lugares, daqueles usados na pulverização das plantações locais. O horizonte é amplo nesse lugar plano, com nuvens espessas que não deixam ver o céu.

“- Sou amigo de dom Alberto. Espero aqui por ele”, diz Kóblic a Luis (Marcos Cartoy Diaz) o rapaz que trabalha no hangar.

Quando pousa um outro aviãozinho, o piloto corre para abraçar Kóblic:

“- Polaco querido! Que surpresa!”

Conversam e o amigo coloca o hangar à disposição de Tomás. Há roupa, comida e uma caminhonete para ele usar sem chamar a atenção com seu próprio carro. O principal é que é um esconderijo seguro. O amigo vai viajar por uns dias.

De noite, em meio a sonhos maus, escuta um barulho. De pronto, pega uma arma na cabeceira. Chove. Trovões e relâmpagos iluminam um cachorro ferido.

E vamos conhecer um Kóblic compassivo, que ama animais e não maltrata seus semelhantes. Fugiu de Buenos Aires porque não conseguia cumprir tarefas que iam além de seus limites éticos.

Mas Kóblic também não vai conseguir fugir do clima de terror da ditadura porque ele está presente em outros personagens no vilarejo, principalmente no odioso delegado Velarde (Oscar Martinez).

Vai haver o conflito que ele evitava.

E vai acontecer o amor, na pele da bela atriz espanhola Inma Cuesta, porque Kóblic anseia por liberdade e calor humano.

O final é antológico.

Outro ótimo filme de Ricardo Darín.

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