O Último Tango

“O Último Tango”- Un Tango Más”, Argentina, Alemanha, 2015

Direção: German Kral

Oferecimento Arezzo

Ao som do bandoneón, o tango envolve os pares que dançam com agilidade e graça. A história de amor que vai ser contada nesse documentário de German  Kral, argentino que mora na Alemanha, é a do par mais famoso dessa dança, que brilhou em espetáculos na Argentina e até na Broadway e no Japão.

Maria Nieves e Juan Carlos Capes vão recordar a vida deles, contada pelos dois, cada um a seu modo, através de suas lembranças, fotos e filmes da época, de seus arquivos pessoais.

No início, lembra Maria, nenhum dos dois sabia dançar. Ela tinha 16 anos e ia ao Clube Maldonado para ver o baile. Até que se olharam e ele, com menos de 20 anos, tornou-se o centro da vida de Maria.

Ao ver o par jovem dançar, como se fossem ele dois no começo, ela repara:

“- É lindo o que vocês fazem. Mas eu dançava mais colada e fazia menos passos. E você não olhou para ela”, diz para o rapaz, “o olhar dos dois é muito importante”.

Hoje, aos 81 anos, ela diz:

“- Na vida, só há uma única vez em que nos apaixonamos por alguém. É o primeiro amor.”

E ele, aos 84 anos recorda:

“- Ela era linda, tinha 16, 17 anos e era o que eu buscava. Quando dancei com ela, percebi que eu tinha encontrado o meu Stradivarius.”

E, realmente, quando os vemos dançando nos filmezinhos da época, como eram belos aqueles dois, que sincronia daquele par que parecia flutuar pelo salão, olhos nos olhos.

No documentário, uma companhia de dança entrevista os dois em separado e tenta entender o que aconteceu com aquele amor, que gerou o par mais famoso do tango argentino.

Produzido por Wim Wenders que dirigiu “Pina” de 2013, inesquecível, eternizando Pina Bausch, o documentário alterna depoimentos de Maria, contando com naturalidade e emoção a vida dos dois, com danças de dois pares que são eles em épocas diferentes. Juan Carlos também é entrevistado, mas ele é menos expansivo que Maria.

Ela relembra com alegria mesclada de tristeza sua infância pobre, a chegada de Juan em sua vida, o sonho realizado de dançar em palcos estrangeiros, onde encantavam as plateias com o estilo Capes, inventado por Juan enlaçando o corpo perfeito de Maria.

Cinquenta anos juntos, dançaram no começo muito apaixonados como se fossem um só e depois, separados, voltaram a dançar numa mistura de paixão pelo tango, amor frustrado e também ódio. E nunca foram tão perfeitos como nesse época, em que não se olhavam nem se falavam, longe do palco.

Vê-los é maravilhar-se com a precisão e a desenvoltura daquele par que competia pelo olhar do público no palco, calados, mas nunca indiferentes um ao outro.

E, claro, muitos tangos na trilha sonora que embala esse caso de amor emocionante.

Ler Mais

Irmã

“Irmã”- “Little Sister”, Estados Unidos, 2016

Direção: Zach Clark

“Não aguenta ver a tragédia? Transforme-a em magia.”

Essa frase aparece na tela antes do filme. É atribuída a Marilyn Manson, o roqueiro que adotou o nome de sua banda, que mistura Marilyn Monroe, a diva do cinema, com Charles Manson, o líder da seita assassina. A banda vendeu, desde o começo dos anos 90 até hoje, 50 milhões de discos. E a frase é a essência de “Irmã”, sexto filme de Zach Clark.

Começa em Nova York, mostrando a noviça Colleen, vivida com uma emoção sincera por Addison Timlin, recebendo um e-mail de sua mãe sobre seu irmão Jacob (Keith Poulson), avisando que ele voltou para casa.

Ela pede emprestado o carro da superiora e vai visitar a família, mais especificamente o irmão, que voltou da guerra do Iraque com o rosto deformado pela explosão de uma bomba.

Por que Colleen quer ser freira? Quando ficamos conhecendo sua família disfuncional, pai acovardado frente a uma mãe perturbada, viciada em drogas, com sérias crises de depressão que a levaram a uma tentativa de suicídio e um relacionamento problemático com a filha, entendemos Colleen.

Talvez haja muito de fuga na escolha que ela fez mas Colleen é virgem e essencialmente doce e generosa. E seu temperamento natural a leva a ajudar os que precisam. E mais. Ela sente-se feliz como freira.

Os filminhos domésticos da infância de Colleen e Jacob são mostrados na tela e vemos duas crianças brincando de monstros, zumbis, dráculas e bonecos assassinos, mas tudo isso vestidos de cor de rosa e alegrinhos.

Era a maneira dessas crianças traduzirem o que viam em casa e sua necessidade de transformar a tragédia em magia, em graça, como recomendava a frase do roqueiro preferido.

E é esse mundo de monstros de brincadeira da infância dos dois que ela quer mostrar novamente para o irmão, que se transformou num monstro de verdade e não quer que ninguém o veja.

Em seu negro quarto gótico de adolescente, ela pinta o cabelo de cor de rosa, coloca batom e esmalte preto e dubla para o irmão “Have you seen me?”, sucesso da banda Gwar, enquanto “assassina” bonecos “ensanguentados” com gelatina de morango. E consegue que Jacob ria com ela.

“Irmã” é um retrato de uma família disfuncional e de como uma freirinha consegue fazer uma “mágica” e transformar a tragédia do irmão em algo mais aceitável por ele.

Já a mãe e o pai…bem… a mágica não funciona com todo mundo.

“Irmã”, sem ser um grande filme, encanta com a fábula da freirinha que mesmo sendo gótica, sempre foi boa, misturando humor e tristeza em doses certas.

 

Ler Mais