Depois da Tempestade

“Depois da Tempestade”- “After the Storm”, Japão, 2016

Direção: Hirokazu Kore-Eda

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Ele é o cineasta dos afetos delicados. Os últimos filmes dele, que vimos por aqui, foram “Pais e Filhos”de 2013, prêmio do Júri em Cannes, “Nossa Irmã Mais Nova”de 2015 e agora, “Depois da Tempestade” que ganhou o prêmio da crítica na 40a Mostra Internacional de Cinema de SP. Todos encantadores, apesar de não pouparem os comentários sobre os defeitos da natureza humana.

Kore-Eda, 54 anos, além de diretor, é também roteirista e montador e seus filmes são quase sempre em torno à família, o microcosmo do mundo humano. E por isso, ele consegue ser universal falando do Japão.

O filme começa com Yoshiko (Kirin Kiki, atriz fabulosa) conversando na pequena cozinha da casa dela com sua filha (Satomi Kobayashi) sobre o tufão que se aproxima:

“- É o 23º desse ano… Muitos para um ano só…”, comenta a senhora. E conta que, antes temia mas agora gosta de tufões, porque antes não se sentia segura na casa que morava, como naquele apartamento. E fala do marido com alguma nostalgia:

“- A senhora parece ter saudades dele…”comenta a filha irritando a mãe.

“- Imagina!” resmunga ela.

“- A mãe precisava arranjar amigos…”sugere a filha.

“- E arranjar mais enterros para ter que ir?”responde a senhora.

Esse é humor que Kore-Eda vai buscar no meio de conversas quotidianas banais entre mãe e filhos. Porque Ryota (Hiroshi Abe) vai aparecer também na casa da mãe, que ainda tem esperanças de que o filho mais velho se torne um grande escritor de sucesso:

“- Dizem que os grandes talentos desabrocham mais tarde”, divaga ela, aguçando os ciúmes da filha.

O tempo todo há menções ao pai deles, marido já falecido de Yoshiko, que ela acha parecido com seu filho Ryota. Até por isso percebemos o afeto que emana da figura dessa mãe que se preocupa com o filho divorciado.

Vemos Ryota no trem e ele é muito alto, mal ajambrado mas bonito. Leva um bloquinho na mão, onde não escreve nada. Está à procura de inspiração para um novo livro. Ele é o autor de um único livro publicado, “Mesa Vazia”. E seu vício é o jogo. Separado da mulher (Yoko Maki) tem direito a ver o filho uma vez por mês , se for pontual no pagamento da pensão, o que nem sempre ocorre. E Ryota morre de ciúmes do namorado dela.

Para conseguir algum dinheiro para a pensão e viver modestamente, Ryota é detetive particular em casos de divórcio, principalmente. Ele e o parceiro seguem os maridos e esposas infiéis para flagrá-los em fotos úteis para o processo do divórcio.

E quando visita a mãe, pede perdão a ela por não conseguir dinheiro para que ela mude para um lugar mais luxuoso:

“- Perdão mãe por ser um filho fracassado…”

Mas não há angústia no que ele diz. Percebemos que tanto ele quanto a mãe gostam da ex-mulher de Ryota e ficariam felizes se ele voltasse para ela. Há uma esperança de que a família de novo reunida dê um rumo novo à vida deles.

E vamos seguindo com interesse os pequenos dramas que acontecem nessa família, os ciúmes entre irmãos, a preocupação com o dinheiro, com o futuro, com a felicidade.

“- É preciso abrir mão de muita coisa para ser feliz”, diz a mãe para o filho numa conversa antes do tufão.

E o vendaval e a chuva desabam sobre eles, mais para uni-los, sem causar estragos. Ao contrário.

Kore-Eda é um mestre do simples e delicado. Comove sempre.

 

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O Plano de Maggie

“O Plano de Maggie”- “Maggie’s Plan”, Estados Unidos, 2016

Direção: Rebecca Miller

Greta Gerwig, atriz adorável e consistente, é Maggie e está naquela idade que a natureza estimula o desejo de ser mãe. Mas, para Maggie, não a qualquer custo. E muito menos tendo que aturar o pai do bebê. Afinal, seus relacionamentos amorosos até então, nunca tinham durado mais de seis meses.

O fato de ter sido criada pela mãe, que engravidou tempos depois de separar-se do pai dela, quando tiveram uma recaída numa festa, deve ter ajudado na criação desse plano. Mamãe e eu soava bem aos ouvidos daquela que fora a filha que ajudava a mãe em tudo. Nada prática, a professora de poesia inglesa do século XIX, deixava tudo nas mãos de Maggie. Quando ela morreu e a filha teve que viver com o pai, foi um fim de adolescência sereno e solitário.

O plano de Maggie para ter o seu bebê incluía a doação de sêmen de um colega da faculdade, Guy (Travis Fimmel), que era o craque da matemática, além de alto e bonitão. A inseminação artificial seria feita por ela mesma.

Perguntado, Guy expressou nenhum desejo de envolvimento com o bebê, já que seu tempo agora era dedicado à sua empresa de pickles, que ia muito bem.

Só que na hora em que Guy doa o esperma e ela está num dia fértil, fazendo a auto-inseminação na banheira, toca a campainha.  E é John Harding que aparece (Ethan Hawke, ótimo). Ela vinha ajudando o antropólogo, que lecionava na mesma faculdade que ela, com seu romance, lendo e discutindo os capítulos, já que a mulher dele, uma professora famosa, não tinha tempo para isso.

Ela abre a porta, mal recomposta da banheira, quando ele se joga a seus pés e declara sua paixão. Está farto do casamento com a brilhante antropóloga.

Maggie, que estava num dia fértil, num impulso, vai para a cama com ele.

Três anos depois e com uma linda filhinha no colo, Maggie começa a se dar conta de que John é muito folgado. Sempre enrolado com aquele livro dele, não tem tempo para cuidar dos filhos do outro casamento, que empurra para Maggie. Adora a bebê, mas só para brincar com ela por pouco tempo. E a cabecinha de Maggie começa a trabalhar.

Sempre muito prestativa, passa a frequentar a casa de Georgette, a ex de John. Julianne Moore está irresistível no papel da professora mandona, com um sotaque dinamarquês e cabelos ruivos. Sentindo-se superior àquela mocinha que tivera o desplante de tirar o marido dela, foi difícil para Maggie conquistá-la. Mas, quando isso acontece, o segundo plano de Maggie vai ser posto em ação.

Rebecca Miller, em seu quinto longa, conta com um elenco resplandecente, que é o ponto alto de seu filme. Estão todos ótimos e dão vida inteligente a um roteiro que tem altos e baixos.

“O Plano de Maggie” é uma comédia romântica que se destaca das outras, principalmente por Greta Gerwig (a inesquecível Frances Ha) e Julianne Moore, a atriz mais polivalente de Hollywood. Vale a pena ver essa dupla charmosa e divertida.

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