A Bela e a Fera

“A Bela e a Fera”- “The Beauty and the Beast”- Estados Unidos, 2016

Direção: Bill Condon

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Que alegria rever “A Bela e a Fera” depois do livro, do musical da Broadway, do desenho animado de 1991, todos com o tema sempre presente no imaginário popular. Desde criança conhecemos essa história e não nos cansamos dela.

O filme da Disney é tanto um presente para as meninas que só viram o desenho quanto para as mulheres maduras que já viram tudo. Porque o conto é universal. Ensina que o amor vê com os olhos do coração.

E o visual do filme é caprichado. Bill Condon, roteirista de “Chicago” de 2002 e diretor de “Dreamgirls” de 2006, entendeu que a história com o tema da beleza e da esquisitice, tinha que ter um visual que prendesse a atenção. Ou seja, tanto Aghata, a fada disfarçada de velhinha que vai amaldiçoar o príncipe por não ser compassivo, quanto a rosa que vai fenecer e trazer medo e castigo, quanto a Bela, diferente das outras moças da aldeia e a Fera que amará a Bela, tem que ter um “look” de chamar a atenção. E acertou. O filme enche nossos olhos.

O castelo amaldiçoado, as pessoas que viraram coisas que cantam, dançam e se lembram dos velhos tempos, são o ponto alto. A Sra Bule e seu filho, xícara travessa, o relógio, o candelabro Sr Lumière, a soprano cômoda e o piano maestro são verdadeiros achados na composição do vestuário e da coreografia.

Emma Watson, como a Bela, tem o poder de transformá-la numa garota menos fútil, mais normal e, ao mesmo tempo, mais sofisticada do que as outras Belas que conhecemos. Ela convence como a mocinha que tem empatia pelo sofrimento de outras pessoas e que não se deixa seduzir só pelos belos olhos e a adulação de um homem. Ela gosta de ler. E quer encontrar alguém que a compreenda. E que seja tão esquisito quanto ela é aos olhos do pessoal careta da aldeia.

Por falar nisso, o amigo do narcísico Gaston, M. Le Fou, pode se dar ao luxo de ser um tanto “gay”. Esse é o  diferencial da história contada aqui. Cada um como Deus o fez.

E as canções que conhecemos, criadas por Alan Menken e Howard Ashman, como as novas que foram criadas para o filme, fazem parte importante do espetáculo. Tem até um momento “Noviça Rebelde”, com a Bela no alto da colina.

Vá ver “A Bela e a Fera” e se encantar, como a menina sentada na minha frente no cinema que exclamou “Maravilhoso!”, quando o filme acabou. Tive vontade de fazer coro com ela!

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Fatima

“Fatima”- Idem, França, 2015

Direção: Philippe Faucon

Existem pessoas invisíveis ao nosso redor. Não as vemos mas são úteis a todos que vivem em sociedades ocidentais. São os que fazem trabalhos que ninguém mais quer fazer.

Aqui entre nós, essas pessoas pertencem a classes sociais inferiores, não tiveram acesso a quase nenhuma educação e fazem trabalhos braçais. O mesmo sucede na Europa, onde se passa o filme “Fatima”, na periferia da cidade de Lyon, na França. Lá os invisíveis são imigrantes vindos de países que antes foram colônias francesas.

Fatima nasceu na Argélia, veste o véu, muçulmana e tem duas filhas nascidas na França. O preconceito as atinge já na abertura do filme quando um apartamento para alugar passa a ser uma dificuldade.

Existem bairros que aceitam esse tipo de pessoas, outros não.

Mas conseguiram um lugar para viver e as filhas de Fatima se sentem mais francesas do que a mãe. Estão na escola, andam com os iguais a elas e também com alguns franceses.

Percebe-se que as meninas amam a mãe que vive em função delas mas se ressentem de Fatima falar apenas algumas frases em francês, apesar de viver há tempos na França, vestir o véu e querer que elas se comportem como se estivessem na aldeia natal. Além disso é separada, o pai vê pouco as filhas e não ajuda em quase nada. Uma conversa num restaurante ou no carro, um presentinho de vez em quando e só. Ele tem uma nova família.

Às vezes não compreendem a própria mãe, o que ela pode estar sentindo. Egoísmo próprio da geração delas.

Nesrine, a mais velha, é séria, estudiosa e prepara-se para entrar na faculdade de medicina. Ela sabe que tem que estudar muito mais que os outros, que serão os preferidos para as vagas e está bastante motivada. Mas pede para a mãe um dinheiro extra para poder compartilhar um outro apartamento com uma colega porque precisa de silêncio e concentração.

Por isso Fatima vai trabalhar como faxineira numa casa francesa. Mas fica pouco tempo lá, porque não se sente respeitada. Por sorte consegue outro trabalho no município. Sai às 6 da manhã de casa e só volta à noitinha quando o segundo turno a espera. Arrumar, lavar, passar, cozinhar.

A filha mais nova, Souad, vai mal na escola, não se esforça e um dia diz para a mãe que cobra dela mais empenho:

“- Você é uma incapaz. Nem sabe ler o francês. Como vai me ajudar nos deveres da escola?”

Essa frase fere Fatima lá no fundo porque é assim mesmo que ela se vê.

“- Vou ao encontro com os professores de minha filha mas não sei falar francês…Só escuto e observo. Eu precisava aprender…”, comenta com a colega faxineira.

As outras mulheres da comunidade que vivem perto delas tem inveja de Fatima porque suas filhas estudam e a mais velha vai ser médica. Elas não tiveram essa escolha e inventam mexericos sobre Nesrine.

Mas a vida de Fatima vai mudar quando ela sofre um acidente e começa a escrever tudo que está trancado em seu coração até aquele momento. A dor física faz com que ela se dê conta de outras dores. E entende que precisa se esforçar para poder pertencer ao lugar onde mora e onde suas filhas vão viver. Fátima quer provar que não é incapaz:

“O medo começou a recuar e reencontro confiança em mim mesma”, escreve ela.

Sua intifada começa. Sem bombas, nem ódio. Fatima vai conquistar seu lugar naquela sociedade que a excluía até então. E entende que a educação é inclusiva.

É preciso compreender a cultura em que se vive para poder participar. E isso não quer dizer virar as costas para a cultura onde se nasceu. Uma convivência saudável tanto com as pessoas, através da língua, como consigo mesma, com sua autoestima aumentada.

Uma vida melhor espera por Fatima.

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