Kiki – Os segredos do desejo

“Kiki – Os segredos do desejo”- “Kiki, el Amor se Hace”, Espanha, 2016

Direção: Paco León

Oferecimento Arezzo

A abertura do filme ilustra, com belas imagens, que o sexo é natural porque os homens e mulheres fazem, leões e leoas também fazem, flores se abrem em frutos, onças procuram seus pares e lobos uivam.

Nelson Rodrigues, o grande autor de teatro brasileiro, dizia que, se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém se cumprimentaria. É uma frase de efeito que aponta para a tara. Mas ele também dizia que o tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.

O roteiro de “Kiki” traz mais nesse sentido, porque às vezes é difícil falar sobre o próprio desejo. Há uma censura interna que nos faz ter vergonha. Certos desejos são então, difíceis de satisfazer.

O filme se passa no quente verão de Madri mostrando histórias de casais que tem esse problema em comum: desejos secretos.

Assim, Ana (a argentina Ana Katz) e Paco (Paco León, o diretor e co-roteirista) vão parar na terapia de casais porque falta algo naquele casamento que eles não conseguem entender. Será que não seria o caso de explorar melhor a sexualidade? E Belén (Belén Cuesta), que é garçonete num bar, onde o sexo rola solto, vai ajudar o casal.

Já Natalia (Natalia de Molina) e Alex (Alex Garcia) namoram e pensam em casamento, até que ela é vítima de um assalto numa loja. A lâmina da faca em sua garganta, o ladrão segurando seu corpo e Natalia sente algo que nunca havia sentido na vida. O namorado fica preocupado.

E o cirurgião plástico (Luis Bermajo), que é rejeitado na cama pela mulher (Maria Paz Sayaso), numa cadeira de rodas depois de um acidente, que descobre um meio de satisfazer seus desejos frustrados usando gotas mágicas? A empregada deles ganha uns peitões para ficar calada.

Outro casal ainda, quer filhos, mas não consegue porque o orgasmo da mulher está intimamente ligado às lágrimas.

Para não falar na bela ruiva (Alexandra Jimenez) que tem uma atração irresistível por seda. O orgasmo dela na estação de trem depois de tocar uma certa camisa é bombástico.

Tudo isso, tratado com muito humor e situações divertidas que mostram que os espanhóis estão se soltando, porque o desejo se impõem. É mais forte que a censura.

Paco León que dirige e atua no filme, fez uma refilmagem de um filme australiano, “The Little Death”, de Josh Lawson, de 2014. Fernando Pérez e o próprio diretor escreveram o roteiro, passando a ação para o verão em Madri, onde personagens dos mais variados, tem desejos eróticos, os mais estranhos, com nomes pomposos: Dacrifilia, Elifilia, Somnofilia, Arpaxofilia, Herbofilia.

“Kiki – Os segredos do desejo” brinca com a dificuldade de realizar o prazer sexual e aponta certamente para a culpa que envolve a sexualidade em nossa cultura ocidental.

Assistindo ao filme, o riso contagia o público e liberta um pouco dos preconceitos as mentes menos abertas para o assunto.

Tolerância para com os desejos humanos que não fazem mal a ninguém, é o lema de “Kiki – Os segredos do desejo”.

Se você não se escandaliza muito facilmente, vá se divertir com essa boa comédia espanhola.

 

Ler Mais

Paris Pode Esperar

“Paris Pode Esperar”- “Paris Can Wait”, Estados Unidos, 2016

Direção: Eleanor Coppola

Fazer cinema, para quem convive com talentos imensos e reconhecidos, deve ser uma experiência tentadora.

Mas Eleanor Coppola, mulher de Francis Ford Coppola e mãe de Sofia e Roman, só experimentou fazer seu primeiro longa de ficção aos 80 anos. Seu documentário sobre o marido, “Francis Ford Coppola – O Apocalipse de um Cineasta” de 1991 foi muito elogiado. Mas e a coragem para fazer ficção? Acho que ela também pensou: mas se não for agora, quando?

E o dinheiro? Quem investe hoje em dia num filme com personagens de mais de 50 anos e sem reviravoltas e brigas na trama? Eleanor confessou em entrevista que teve dificuldades para encontrar financiamento para seu filme. No fim, o marido ajudou.

E o resultado agrada a quem gosta de “road movie” sofisticado. Os que apreciam a região da Provence vão rever lugares visitados e os que não conhecem, mas gostam de viajar de carro e tem afinidade com a cozinha, os queijos e os vinhos franceses, vão poder se inspirar para a sua própria viagem de sonho.

E é interessante saber que o roteiro foi baseado numa experiência pessoal da diretora. Conta ela que o episódio é verdadeiro. Estava no Festival de Cannes com o marido em 2006, quando uma dor de ouvido impediu que voasse para Budapeste e ela foi para Paris, levada por um sócio de Coppola.

A bela e charmosa Diane Lane, 52 anos, é a personagem que faz a diretora. Alec Baldwin, 59, é o marido e Arnaud Viard, 51, é o sócio francês que acompanha a americana casada na viagem para Paris, que durou dois dias ao invés das sete horas previstas.

Pensar que ela buscava uma aventura é algo vulgar. Porque Anne ama o marido, o produtor de cinema famoso que vive trabalhando, envolvido nos filmes rodados nos quatro cantos do mundo. E sobra pouco tempo para ela, que sonha com uma viagem só dos dois.

Então, enquanto não dá para ter o marido, Anne aprecia que Clément comprou remédio para sua dor de ouvido e a leva para um restaurante lindo antes de começar a viagem. Retraída, ela não quer vinho mas quando chega o Chateau Neuf du Pape, o belo “rouge” brilhando nos copos de cristal, ela muda de ideia.

Aos poucos, os viajantes vão ficando mais próximos. Nada como uma bela paisagem e surpresas como um piquenique na grama perto do rio, para aproximar as pessoas.

Ela gosta de fotografar e Clément se interessa pelas fotos e elogia o seu talento para o detalhe.

Ou seja, Anne estava carente disso tudo que faz da vida uma experiência única. Quando ela diz que sua flor preferida é a rosa, no próximo posto de gasolina, enquanto ela compra chocolate, ele vai e volta com o carro cheio de rosas esplêndidas e perfumadas.

No caminho visitam pequenos museus, ruinas romanas românticas e restaurantes escondidos com “chefs” maravilhosos que proporcionam surpresa e delícia para Anne.

Há sutileza e elegância durante todo o trajeto e por isso “Paris pode Esperar” encanta a plateia.

Um filme delicioso, em todos os sentidos. Não perca!

Ler Mais