Columbus

“Columbus”- Idem, Estados Unidos 2017

Direção: Kogonada

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Só vai gostar de “Columbus” quem aprecia arquitetura?

Prefiro pensar que talvez, quem vai apaixonar-se pelo filme de estreia de Kogonada, será quem tem uma queda por experiências estéticas que sejam vividas através das emoções e não da razão.

Ou seja, olhos que conduzem ao coração. Não é coisa só de gente sofisticada e viajada. Não. “Columbus” é para os sensíveis à arte e à complexidade da natureza humana. Porque os personagens principais vivem, em meio à beleza da cidade, uma experiência simples e, ao mesmo tempo marcante, um com o outro.

Jin (John Cho) e Casey (Haley Lu Richardson) encontram-se por acaso em Columbus, cidade americana no estado de Indiana, que possui edifícios assinados por grandes arquitetos modernistas como o finlandês Eliel Saarinen (1873- 1950) e seu filho Eero Saarinen (1923- 1961) e I.M.Pei.

Casey trabalha como guia que leva os turistas a conhecer tais edifícios célebres. E Jin, que é tradutor na Coréia do Sul, teve que viajar para Columbus porque seu pai, famoso professor de Arquitetura, após um desmaio, entrou em coma e está no hospital em Columbus, sem poder viajar de avião de volta para Seul.

Os dois passeiam pela cidade, seus prédios, ruas, parques e jardins e conversam. Dessas trocas, tímidas a princípio, vai surgir uma amizade e um querer bem que irá ajudar aqueles dois a vencer obstáculos em suas vidas atuais.

Jin sempre achou que seu pai não se interessava por ele e que nunca conseguiram conversar. Casey, garota brilhante, passou por um período ruim em sua vida de adolescente quando sua mãe viciou-se em anfetaminas. Ela parou os estudos e trabalha agora como guia e também na biblioteca. Não pode pensar em sair da cidade para fazer uma faculdade de arquitetura, sua paixão, porque não tem dinheiro mas principalmente porque acha que precisa cuidar da mãe (Michelle Forbes).

Casey é quem traz para a conversa com Jin a ideia de que a arquitetura seria “curativa”. Para ela, desde os tempos de menina, a visão de uma certa obra de Saarinen pacificava suas angústias. Essa qualidade “curativa” da arquitetura se aliaria ao abrigo e acolhimento aos seres humanos que as obras modernistas ofereceriam em seus interiores, sejam casa, banco, igreja, ponte, escola ou hospital.

“- Meu pai iria te adorar”, diz Jin que desenvolveu uma defesa afetiva contra a paixão do pai, que parece ir diminuindo com os passeios com Casey.

Cada um deles tem outro amigo mais antigo. Casey gosta da companhia de Gabe (Rory Culkin) que é um aluno com mestrado e é colega dela na biblioteca. Enquanto que Jin tem a antiga aluna e companheira do pai dele, Eleanor (Parker Posey), por quem teve uma paixonite aos 18 anos.

Rogonada, que nasceu na Coréia do Sul mas foi criado nos Estados Unidos, dirigiu, escreveu o roteiro e montou seu primeiro longa. Ele, que era crítico de cinema, estreia como cineasta assinando esse filme independente, belo e original.

A fotografia de Elisha Christian convida à contemplação da beleza dos edifícios e seus ângulos mais inusitados, a descansar a vista nos jardins de gramados manicurados, salgueiros melancólicos e composição de árvores, tanto como interiores com objetos escolhidos a dedo e um surpreendente rio cor de chá.

Mas captura também o instante que vivem os personagens, na pele dos atores, em seus “closes” emoldurados de luzes, refletidos em espelhos e até mesmo desaparecidos na tela e presentes no som de suas vozes. Há sempre uma imagem com detalhes interessantes que nosso olhar quer descobrir.

Aventure-se e vá viver no cinema momentos de emoção e pura contemplação com esse singelo e extraordinário “Columbus”.

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O Jantar

“O Jantar”- “The Dinner”, Estados Unidos, 2017

Direção: Oren Moverman

Numa miscelânea de imagens, que mais tarde vamos entender, pratos sofisticados são preparados, uma bola voa, um saguão de mármore é iluminado por castiçais com velas, um antigo cemitério é mostrado, estátuas remetem a personagens heroicos.

Depois, um rap invade nossos ouvidos e jovens estão numa festa, se divertindo com bebida, drogas e risadas. Três deles saem pela noite e o negro vomita.

Paul Lohman (Steve Coogan) quarenta e tantos, faz um monólogo que ouvimos em “off” sobre gregos antigos e romanos, a idade de ouro de nossa civilização para ele, que é professor de História do ensino médio e fala sozinho para jovens entediados. Personagem com uma forte misantropia, em seu discurso não esconde uma depressão raivosa. Soa como se tivesse perdido todas as batalhas de sua vida.

“- Não vou. Não quero ver essas pessoas. Esses vermes, macacos. Vamos cancelar ”, diz ele para sua mulher (Laura Linney) que continua a se maquiar e não o leva em consideração.

Toda essa negatividade é dirigida ao irmão de Paul, o bonitão e bem sucedido Stan (Richard Gere), que é deputado, em plena campanha para governador. Ele é casado com Kately (Rebecca Hall), sua segunda mulher, uma esposa troféu, nas próprias palavras dela.

Os dois casais vão jantar num restaurante cinco estrelas, caríssimo e pomposo. Numa casa enorme, várias salas recebem clientes elegantes com um batalhão de garçons e um “maitre” que discorre sobre a comida com um linguajar pedante que exulta os produtos diminutos nos pratos, onde quase tudo é decorativo.

Paul e Claire são os primeiros a chegar e, em meio às reclamações do irmão menos dotado, que a mulher trata como se fosse uma criança, chega Stan, o mais velho. Kate senta-se mas o marido dela cumprimenta várias pessoas, em ritmo de campanha política.

“- Irmão, pensei que não ia conseguir atravessar a sala. Pronto. Pode parar de sorrir. Somos só nós aqui ”, diz Paul irônico, quando Stan chega finalmente à mesa.

Em vários “flashbacks” vamos entendendo o relacionamento entre esses dois irmãos, diferentes em tudo, até no carinho da mãe quando eram crianças. Paul parece ter herdado um traço de instabilidade mental, presente na família. Está sempre armado e raivoso. Stan tenta conciliar os ânimos exaltados mas levanta muitas vezes da mesa para atender o telefone e confabular com sua assistente (Adepero Oduye). Esse vai e vem deixa todos nervosos.

Mas por que tinham ido jantar juntos?

O casal Claire/Paul tem um filho adolescente Mike (Jesse Dean Peterson) e Stan/Kate tem Ricky (Seamus Davey-Fitzpatrick) e Beau (Miles J. Harvey), uma criança negra, que tinha sido adotado pela primeira mulher de Stan, Barbara (Chloe Sevigny), que se mudara para a Índia.

Os primos de 16 anos eram aqueles que vimos saindo da festa e eles vão se meter numa encrenca trágica, que é o motivo daquele jantar. Mas demora para que os pais tenham espaço para falar sobre os filhos.

O diretor e roteirista israelense, radicado nos Estados Unidos, Oren Moverman, adaptou o livro best-seller do holandês Herman Kock, mostrando que gosta de deslindar a complexidade da natureza humana. A fotografia caprichada é de Bobby Bukowski que usa o cenário do restaurante para aludir às sombras da mente que vamos ver surgir durante aquela noite.

O elenco é de estrelas e as interpretações são preciosas. O texto tem diálogos inteligentes que mostram claramente que cada adulto naquele jantar só pensa em si mesmo.

Narcisismo, famílias disfuncionais, racismo, poder do dinheiro, horror ao diferente, maldade, educação baseada em superproteção, tudo isso virá à tona.

E como não há julgamento nenhum no roteiro, a reflexão é do espectador. Que vai para casa tendo que pensar sobre o lado podre da nossa civilização.

“O Jantar” é um filme que não tem medo de ser indigesto.

De vez em quando é salutar pensar em ética. Concordam?

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