Maria Madalena

“Maria Madalena”- “Mary Magdalene”, Reino Unido, 2018

Direção: Garth Davis

Oferecimento Arezzo

Intrigante, a primeira imagem é a de um corpo afundando na água sem resistência. Há uma entrega total.

E ouvimos uma voz de mulher perguntar:

“- Como será o reino? ”

E a voz de homem responde:

“- É como uma semente. Um grão de mostarda que uma mulher planta em seu jardim. Germina, cresce e as aves do céu virão fazer ninhos em seus galhos. ”

Através da metáfora e da parábola, nesse diálogo de introdução, sentimos que é com o coração que se deve ouvir as palavras daquele homem que alguns chamam de “o curador”, outros de “profeta” e os mais íntimos de “rabi”, rabino.

Muito poucos vão compreender o que ele diz. Maria Madalena, a jovem da aldeia de pescadores Magdala, parece ser uma dessas pessoas. Porque ela não quer nada, a não ser a proximidades dele. Abandona tudo para segui-lo. Ouvi-lo.

Entrega total.

Os outros estranham. A família dela acha que enlouqueceu de vez. Por que não quer casar com Efraim? Cuidar dos filhos dele e fazer uma família?

Ela não responde mas desde que ele entrou em sua casa para tirar o demônio que diziam estar nela e falou: “Não há nenhum demônio aqui ”, ela anseia pela presença serena dele.

Quando Maria Madalena decidiu seguir aquele homem, sua vida mudou. Adquiriu um sentido. Ele a batizou nas águas do lago e pediu para ela batizar em seu nome. As mulheres tinham medo mas não dela que tudo fazia com doçura e delicadeza.

Os olhos límpidos dela procuravam os dele. Havia um entendimento mútuo e paz quando estavam próximos. Um sentimento profundo os unia.

Quando Maria Madalena encontra a outra Maria, mãe dele, ouve dela:

“Você o ama…prepare-se para perdê-lo…”

Estamos no ano 33 na Judeia. Os romanos que dominavam a região haviam colocado Herodes no poder. Mas o povo estava descontente e sofrendo. E falavam sobre aquele profeta assassinado que dizia que o Messias estava vindo.

O povo via os milagres e acreditava que aquele era o Messias, o Salvador. Mas não entenderam de qual reino ele falava. Sonhavam com um rei poderoso que comandasse exércitos contra os romanos.

Rooney Mara interpreta Maria Madalena com uma força suave. Faz com talento aquela que só foi reconhecida como a “apóstola dos apóstolos” em 2016, a mando do Papa Francisco. Até então era dita a prostituta que fora perdoada por Jesus.

E esse filme é a história vista pelos olhos dela. Judas (Tahar Rahim, excelente) não é o das escrituras mas um homem ingênuo que anseia pela vinda do reino porque quer reencontrar a mulher e a filha mortas pela fome. E Pedro (Chivetel Ejiofor) tem ciúmes da discípula predileta e afasta Maria Madalena depois da morte de Jesus. Fundador da Igreja Católica, nela não há lugar para as mulheres.

E Joachim Phoenix faz um Jesus original. Passa na tela uma força amorosa que emociona mas também sabe brincar e  brigar.

O jovem diretor australiano de “Lion”, pesquisou muito e conversou com estudiosos, padres e rabinos para fazer seu filme. O roteiro é de duas mulheres (Helen Edmundson e Philippa Goslett) e recupera a relação próxima de Maria Madalena e Jesus. Homenageia assim uma mulher injustiçada que já foi tida como prostituta, mulher de Jesus, irmã de Lázaro e outras mil lendas.

Nada melhor e mais propício numa época em que vemos as mulheres ocupando os territórios que tradicionalmente lhe foram negados.

E você não precisa ser religioso nem cristão para gostar desse belo filme.

Ler Mais

A Duquesa

“A Duquesa”- “The Duchess”, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, França, 2008

Direção: Saul Dibb

A seda do vestido verde claro acaricia a grama do seu jardim secular. Giorgiana Spencer (antepassada de Lady Di) brinca com seus amigos e amigas, todos da aristocracia inglesa. Aos 16 anos, ela é alegre, romântica e dona das ideias que divertem seu grupo.

Bela, cabelos ruivos, tez delicada, olhos de gazela, corpo esguio e desejável, ela tem carisma.

Mas sua vida de mocinha está para acabar. Sua mãe (Charlotte Rampling, sempre perfeita) vai casá-la com o Duque de Devonshire, o homem mais importante do reino, que preside o partido Whig e é riquíssimo. Muito mais velho do que ela e solteiro. Ralph Fiennes consegue dar alma ao personagem que, de Giorgiana, só quer um herdeiro.

A história que vai ser contada no filme é real e começa na Inglaterra em 1774. Lady Giorgiana Spencer, futura Duquesa de Devonshire (Keira Knightley, maravilhosa), personagem fascinante, vai se tornar uma das mulheres mais célebres de seu tempo que, deve ser lembrado, dava muito pouco espaço às mulheres.

Apesar do casamento ser um desapontamento para G, como ela é chamada pelos íntimos, já que o marido não é carinhoso na cama, não conversa com ela, preferindo a companhia de seus cães, ela se esforça para agradar.

Trata como filha a menina que vem morar com ela, fruto de uma relação do duque antes do casamento e é mãe de duas meninas adoráveis, que não merecem a atenção do pai.

G é maternal por natureza e é um encanto ver como ela brinca com as meninas.

Além de bela, a duquesa tem bom gosto e não tarda a tornar-se a imperatriz da moda em Londres. O que ela usa hoje, todas vestirão amanhã.

Interessada pelas ideias de liberdade e de um mundo novo, que vinham da Europa e da América, ela empresta sua popularidade ao partido Whig e é a atração dos comícios do jovem Charles Gray (Dominic Cooper), seu amigo de infância que ambiciona tornar-se Primeiro Ministro. Ele vai conquistar o coração de G e ela vai pagar um alto preço por seu amor.

Pior, vai ter que se sujeitar a um casamento a três com Lady Elizabeth Foster (Hayley Atwell).

O filme de Saul Dibb é muito bem cuidado. Reprodução de época, cenários belíssimos no campo inglês, castelos, recriação fantasiosa de chapéus, joias e vestidos, tudo de encher os olhos. É agradável de se ver, apesar de não ter a pretensão de aprofundar o psicológico dos personagens.

Quem gosta de filmes de época não vai ter do que reclamar.

Ler Mais