Ciganos da Ciambra

“Ciganos da Ciambra”- “Ciambra”, Itália, Brasil. Alemanha, França, Suécia, Estados Unidos, 2017

Direção: Jonas Carpignano

Oferecimento Arezzo

Os ciganos são um povo antigo e mítico, espalhados pelo mundo, sem moradia fixa, em suas carroças e cavalos. Pelo menos era assim. O avô de Pio, um jovem cigano, aparece numa cena que inicia o filme, quando era um rapaz, com o seu cavalo, galopando nos campos abertos onde vivia na liberdade, sem patrão. Conta isso ao neto, que não conheceu esse tipo de vida mas que a tem, de alguma forma, na sua memória ancestral.

“- Agora, somos nós contra o mundo. Antes íamos pelas estradas, livres” é o que Pio ouve do avô que mantém uma dignidade visível, apesar das roupas rotas.

Na Comunidade de Gioia Tauro, em um gueto, A Ciambra, é o lugar onde vivem os ciganos romenos na Calábria, sul da Itália, onde dividem o território com os africanos imigrantes e os italianos.

Pio, de 14 anos, é o personagem central dessa história de uma realidade dura, sem tempo para aconchegos. Impera sobre ele a lei do sangue, da família Amato. Deve proteger os seus, custe o que custar.

A câmara segue o garoto, muitas vezes em “close”, em busca de oportunidades para roubar. Carros são os mais lucrativos. O dono paga para ele dizer onde deixou o que roubou. Pio vive assim, de rapinagens. É ele que tem que sustentar a família com o que consegue, já que o pai e o irmão mais velho estão presos.

Não há lugar nem tempo para a infância no lugar onde Pio vive. Aliás as próprias crianças não querem essa infância destituída. Querem crescer, virar gente, de cigarro na boca desde muito cedo, falando grosso como os grandes.

Pio vai conseguir pertencer à tribo dos mais velhos, subir na hierarquia, às custas de trair aquele que mais o apoiava e com quem podia contar. Mas Aviya (Koudous Seihon) é negro, imigrante de Burkina-Fasso. A lei do sangue exclue o estrangeiro, esse africano que não é bem recebido a não ser entre os seus. Os excluídos, por sua vez, também excluem.

Jonas Carpignano, o diretor, já havia tratado desses personagens imigrados da África em “Mediterranea” e feito um curta com o garoto Pio.  Dessa vez, usa novamente só atores não profissionais. Toda a família de Pio, os Amato.

Eles são espontâneos e transmitem não só a vivência da pobreza mas também uma alegria de viver que explode em risos, cantos e brincadeiras que amenizam um pouco o impacto desse mundo sem oportunidades, às margens do nosso.

Com produtores como Martin Scorsese e o brasileiro Rodrigo Teixeira, o filme fez bonito nos festivais por onde passou. Vale seguir a carreira de Jonas Carpignano.

Ler Mais

Em Algum Lugar do Passado

“Em Algum Lugar do Passado”- “Somewhere in Time”, Estados Unidos, 1980

Direção: Jeannot Szwarc

De tempos em tempos esse filme aparece na minha vida e todas as vezes eu assisto e me comovo.

É de 1980, época em que muitos da minha geração ainda sonhavam com o amor à primeira vista e eterno. Éramos muito românticos e o passar dos anos ensinou que o amor é mais difícil do que pensávamos e não cai pronto do céu.

Mas “Em Algum Lugar do Passado” continua a me atrair porque traz de novo aquela que eu fui e a minha esperança de que um pouco dela sobreviva em mim. Afinal, pensar que o amor existe e que pode ultrapassar as barreiras do tempo, é um ensinamento aprendido por quem já perdeu alguém que foi muito amado. Continua vivo em nós, nas lembranças, nos sonhos, nos devaneios. Não importa quanto tempo passe, esse amor permanece.

Pois bem, esse filme que não agradou à crítica da época, é hoje um “cult” e está em cartaz no Netflix. Além de falar de um amor eterno, é possível também fazer leituras interessantes sobre viagem no tempo sem máquinas estranhas, só com a mente e existem mesmo pessoas religiosas que acreditam que ocorreu ali uma prova de que a reencarnação existe.

Para mim, continua a ser um dos filmes mais românticos que eu já vi. Aquele rapaz bonito ( interpretado por Chistopher Reeves, que morreu tragicamente) sabia amar tão intensamente que sempre me leva às lágrimas.

Quando o filme começa em 1972 e o jovem dramaturgo se entusiasma com o sucesso de sua peça, vemos aproximar-se dele uma senhora idosa e elegante que dá a ele um relógio de bolso dizendo:

“- Volte para mim? ”

Quem é aquela desconhecida? Jane Seymour, que interpreta a atriz de sucesso, espera no começo do século que alguém que vai mudar a sua vida apareça.

E a trilha sonora do inspirado John Barry tem o tema do filme, que sempre reconhecemos quando ouvimos, além da “Rapsódia sobre um Tema de Paganini” de Sergei Rachmaninov, uma das mais belas e românticas composições, a preferida de Richard, o jovem dramaturgo, que toca numa caixinha de música e traz lembranças esquecidas.

Certamente vou ver “Em Algum Lugar do Passado” muitas vezes ainda.

Ler Mais