Gauguin – Viagem ao Taiti

“Gauguin - Viagem ao Taiti”- “Gauguin – Voyage de Tahiti”, 2017

Direção: Edouard Deluc

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Quando pensamos que um dos quadros mais famosos de Paul Guauguin (1848-1903), “Nafea Faa Ipoipo” de 1892, época de sua primeira viagem ao Taiti, foi vendido por 300 milhões de dólares em 2015, o filme que conta essa época de sua vida, chama nossa atenção.

E, no entanto, quando o segundo longa de Edouard Deluc começa em Paris, 1891, ninguém se interessava pelas pinturas dele.

Aborrecido, sempre pressionado pela falta de dinheiro, Gauguin sonha com o Taiti. E diz aos amigos:

“- Precisamos partir. No Taiti ninguém precisa de dinheiro. E podemos caçar, pescar e pintar, pintar, pintar. O mais importante. ”

“- Mas a Polinésia Francesa é longe… Viagem arriscada…”

“- Não quero pintar nada daqui. Tudo é sujo e feio ”, retruca ele.

Paul Gauguin, que tinha uns 40 anos, idealizava a terra distante e selvagem, as ilhas cercadas pelo mar de diferentes azuis, como sendo um paraíso terrestre. Mas só ele partilha dessa opinião. Sua mulher não quer acompanhá-lo nessa viagem, nem seus cinco filhos que a mãe quer ver estudando e se formando.

E ele vai só. De certa maneira tinha razão. Lá ele encontra sua musa Tehua (Tuhei Adams, ótima atriz mas mais velha que a personagem real), bela adolescente onipresente nas telas desse período.

Mas também se depara com o seu inferno. Sofre um infarto, adoece com tuberculose, não consegue sobreviver dignamente porque não vende seus quadros (nem os que manda para a Europa), sua esposa Mette pede o divórcio e ele se consome de ciúmes de Tehura, com quem tem um casamento temporário. E tem que trabalhar pesado, descarregando cargas de navios.

Vincent Cassel, ator competente, faz um Gauguin angustiado, sofrido, sempre à procura de algo inatingível. Só parece feliz quando está concentrado pintando Tahua que posa para ele.

Homem de seu tempo, ele trata a “maori” como se fosse sua posse. Quando as telas acabam, ele usa sacos de aniagem.

Tanto em Paris quanto no Taiti, a miséria o persegue. Numa das cartas que escreve para sua mulher Mette ele declara: “Sou uma criança e um selvagem. Sua família não entende o que é ser artista. Sei que sou um grande artista e preciso viver assim. Senão seria uma farsa. Um dia nossos filhos irão se orgulhar do nome que levam. ”

Paul Gauguin teve que ser repatriado como indigente e doente em 1893. Ele voltou ao Taiti mas nunca mais reviu Tehura. Morreu pobre e só em 1903.

Tinha 55 anos.

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A Troca de Rainhas

“Troca de Rainhas”- “L’échange des Princesses”, França, Bélgica, 2017

Direção: Marc Dugain

Estamos em 1721. França e Espanha são reinos exauridos em conflitos por muitos anos. A paz era necessária para que a vida retomasse seu curso.

O regente da França, Philippe D’Orléans (Olivier Gourmet), lança mão de uma ideia que já se mostrara eficaz em outros casos. Sugere o casamento dos herdeiros dos dois reinos, Louis XV (Igor van Dessel) de 11 anos, da França com a princesa Anna Maria Victoria (Juliane Lepoureau) de 4 anos, da Espanha e Luis I (Kacey Mottet Klein) de 14, da Espanha, com a sua própria filha, Louise-Elizabeth (Anamaria Vertolomei) de 12 anos.

Uma troca de princesas, como foi conhecido o fato histórico.

E claro que tudo isso acontece à revelia das crianças reais, que só tinham que obedecer. Afinal, eram criados para isso. Sua nobreza servia ao reino e a vontade própria era algo impensável. Crianças marionetes, num mundo de ambições adultas.

Tudo parece correr bem na Espanha quando o rei Felipe V (Lambert Wilson) dá a notícia a seus filhos. Neto de Louis XIV, parecia natural casar a pequena Anna Maria Victoria, sua filha, com seu primo, o futuro rei Louis XV. A menina tem apenas 4 anos (no filme é interpretada por uma atriz de 6 anos) mas a ela agrada a ideia de um dia vir a ser rainha da França. Mas veremos como Louis XV, adolescente cercado de amigos homens, é influenciável e não presta atenção digna à futura esposa. Não retribui a seu afeto.

Já a filha do regente da França, conhecida como Mademoiselle Montpensier, não parece nada feliz com  seu casamento com o futuro rei da Espanha, já dedicado a ela. Parece detestar o futuro marido.

No filme, vemos a bela noiva de Luis I, que vai ser rainha da Espanha, divertir-se mais com suas damas de companhia do que com a presença do marido. A tragédia vai se incumbir de acabar com o casamento.

A troca de princesas não funcionou como se pensava.

O filme, baseado no livro de Chantal Thomas e dirigido pelo diretor senegalês Marc Dugain, é um prazer para os olhos. A produção de arte soube criar climas de sonho como na noite da troca das princesas, na fronteira da França e Espanha, marcada por um rio, na ilha dos Faisões. Luzes de tochas e velas fazem a noite mais clara do que com a lua cheia. O rio está iluminado e o barco real, que traz uma princesa e leva a outra, ricamente adornado. Nas encostas, lacaios de libré seguram tochas para clarear o caminho das princesas.

Os figurinos são um capítulo à parte. Tanto as princesas como os jovens reis se vestem com ricos tecidos enfeitados com pérolas e ouro.

Em Versalhes, os arranjos de peônias e plumas surpreendem e outros detalhes estéticos dão vontade de ver o filme de novo. Assim, os jardins de Le Nôtre, o espelho d’água com um barco a remo precioso, os cisnes brancos no lago, os bosques no outono combinando com o vestido vermelho e dourado e a monumental escadaria de mármores coloridos de Versalhes.

Tudo é uma festa para os olhos.

Mas o clima é de tristeza e decepção. Os casamentos fracassaram ou por nem ter chegado a acontecer ou pela presença de doenças mortais que encurtavam a vida das pessoas, tanto plebeias como reais. A expectativa de vida naquele tempo não ultrapassava os 35 anos.

“Troca de Rainhas” é um belo filme histórico com ideias e charme.

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