Billy Elliot

“Billy Elliot”- Idem, Reino Unido, Irlanda do Norte, 2000

Direção: Stephen Daldry

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Billy Elliot, um garoto de uns 11 anos, mora em Durham, Inglaterra, cidade pequena cuja principal fonte de trabalho é a mineração de carvão. Em 1984, quando o filme começa, havia uma greve do sindicato dos mineradores contra o governo de Margareth Tatcher. Mineradores e policiais se enfrentavam todos os dias nas ruas da cidade.

Billy mora com o pai, o irmão mais velho Tony, também minerador como o pai e a avó, mãe de sua mãe, que morrera jovem ainda. O pai (Gary Lewis) e o irmão aderiram à greve e por isso a família estava com dificuldades financeiras.

Como todos os meninos, Billy vai à academia onde tenta aprender a lutar boxe, com o incentivo do pai. Os outros esportes não o empolgavam e o boxe também não. Ele então ficava distraído olhando as meninas fazendo aula de balé clássico ao lado do ringue.

Billy tinha a mania de dançar onde quer que estivesse. Até no ringue de boxe e abraçado ao saco de areia. E tão fascinado estava com a aula na barra, que vai se aproximando e alguém empresta sapatilhas para ele.

Perdidíssimo no início, Billy começa a gostar e acertar os passos, com a ajuda da professora (Julie Walters). Ele é o único menino na classe e se sobressai porque é um bailarino natural.

Aos poucos vemos sua postura mudar e ele começa a  sentir prazer em exercitar seu corpo em alongamentos e piruetas.

Claro que a professora percebe o quanto de talento ele tem. Assim, iniciam aulas particulares para que Billy pudesse fazer o teste para a Royal Ballet School em Londres.

O filme é dirigido com arte pelo diretor Stephen Daldry, que sabe dosar a dança de Billy pelas ruas da cidadezinha e a luta dos mineiros contra os companheiros que furavam a greve. Esse foi seu primeiro filme e ele já foi indicado a melhor diretor no Oscar. Depois ele brilhou com “As Horas” 2002, “O Leitor” 2008. “Tão Forte e Tão Perto” 2011 e a série “The Crown” 2016/ 2017.

O filme é também uma história sobre uma relação difícil entre pai e filho, que herdara a sensibilidade da mãe. A avó meio caduca, repetia sempre que ela e a filha adoravam os filmes de Fred Astaire e que dançavam juntas na rua depois de assisti-los:

“- Eu poderia ter sido uma bailarina profissional “, repetia ela.

O preconceito na Inglaterra nos anos 80 era muito forte e foi difícil para o pai de Billy aceitar que o balé não fazia de seu filho um homossexual.

E no final, bem escolhido, vemos um Billy transformado em um grande artista, reconhecido por todos. Lágrimas vão querer molhar o rosto dos mais sensíveis. Eu chorei.

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A Mula

“A Mula”- “The Mule”, Estados Unidos, 2018

Direção: Clint Eastwood

Ele é um mito. Aos 88 anos, quase 89, Clint Eastwood mantém o físico e a cabeça em perfeita ordem. Claro que os olhos turquesa empalideceram, o rosto se vincou ao sol da Califórnia e o corpo está franzino. Mas o ator está presente e é sutil, o diretor atento domina o filme e o compositor é o único que não aparece em “A Mula”.

Mas inspirou o músico Toby Keith a compor uma música para o filme, quando o ator respondeu a uma pergunta dele, durante um jogo de golfe:

“- Como você se mantém em forma? ”

“- Don’t let the old man in (Não deixe o velho entrar)”, diz Eastwood.

E esse é o título de uma das canções da trilha sonora de Arturo Sandoval.

Não sei se a nova geração percebe o valor desse homem que sofreu mudanças físicas mas que mantém a cabeça no lugar. Sempre foi político, não liberal, mas republicano. Não precisamos apoiar, nem celebrar suas opiniões, mas respeitá-lo pela integridade. Por falar nisso, prestem atenção na cara dele quando, em uma cena do filme, ele ajuda uma família de negros a mudar o pneu do carro e calmamente chama eles de “niggers”, o que é considerado uma ofensa. Chamam a atenção dele, dizendo que a palavra que ele usou é um insulto e que é melhor usar “blacks”. Ele ouve tudo sem discutir e segue adiante, impávido. É o jeito dele de ser e não tem nada a ver com o personagem que ele representa.

Aliás, Clint Eastwood voltar a participar como ator de um filme que ele mesmo dirige já é de surpreender. “Gran Torino” de 2008 e “Curvas da Vida” de 2012 pareciam ser suas últimas atuações no cinema. Que nada. Ele volta brilhando em “A Mula”, no papel de Earl Stone, um personagem da vida real, apaixonado por lírios e “bon vivant” que praticamente abandonou a família. Não participava, esquecia ou chegava atrasado em batizados, formaturas ou até no casamento de sua única filha (Alison Eastwood, filha do ator na vida real), com quem não falava há 12 anos quando o filme começa em 2005.

Ele era um bem sucedido produtor de lírios que cultivava com auxiliares latinos e participava com charme e simpatia de todos os congressos e convenções, até que, vencido pelas vendas pela internet que ele desprezava, foi à falência, em 2017.

Seu futuro parecia sombrio já que mesmo a família não o queria por perto. Quebrado, sem casa para morar, pois não podia pagar a hipoteca, eis que surge uma chance de trabalho por acaso. Um velho que nunca fora multado e guiava bem e com cautela, seria o motorista ideal para o cartel mexicano de drogas, porque poderia passar desapercebido pela polícia.

O filme é leve, divertido e agradável de ver. E o elenco tem nomes como o de Dianne Wiest que faz a ex, sempre vista nos filmes de Woody Allen, Bradley Cooper, a quem ele elogiou o trabalho de diretor em “Nasce uma Estrela”, que faz o agente dos narcóticos com Michel Peña, que vão caçar o mula pelas estradas ladeadas de belas paisagens americanas. E Andy Garcia, gordo e coberto de ouro, que é o chefão do cartel e recebe Earl Stone em sua fazenda no México, onde rolam bebidas e sexo à vontade.

O roteiro de Nick Schenk tem alto e baixos mas pode agradar se você souber quem é Clint Eastwood, ganhador de 4 Oscars e inúmeros outros prêmios mundo afora.

O “durão” aqui está mais suave e até faz auto crítica. Sem nunca deixar de ser charmoso e carismático, é claro.

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