Duas Rainhas

“Duas Rainhas”- “Mary Queen of Scots”, Reino Unido, Estados Unidos, 2018

Direção: Josie Rourke

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A Rainha Mary da Escócia foi decapitada em 8 de fevereiro de 1587, tendo sido acusada de tramar pela morte de Elizabeth I da Inglaterra, de quem foi prisioneira por 18 anos, habitando, vigiada e sem direitos, vários castelos ingleses.

Quando o filme “Duas Rainhas” começa, Mary da Escócia tinha tido conhecimento da sentença de morte e passara a noite rezando. Quando subiu ao cadafalso usava um vestido preto de veludo. Despiu-se e ostentou a roupa vermelha que usava por baixo, cor do martírio na religião católica. Mary tinha 44 anos e sempre se disse inocente.

A história dessas duas rainhas é contada no filme da diretora Josie Rourke ora mostrando cenas da vida de Mary, rainha da Escócia, ora da de Elizabeth I, rainha da Inglaterra.

Uma única ilha, duas primas, ambas rainhas. A da Inglaterra era anglicana, religião protestante que não aceitava o Papa, instaurada por seu pai, Henrique VIII. Sua mãe era Ana Bolena. A da Escócia era católica, filha do rei Jaime V da Escócia e Maria de Guize.

Mary, aos seis dias de idade, com a morte do pai, tornou-se rainha da Escócia. Viveu a infância e a juventude na França, enquanto seu trono era ocupado por regentes. Voltou à Escócia e assumiu o trono e mais tarde abdicou em favor do filho Jaime que, no futuro reinaria como Jaime V, rei da Inglaterra e da Escócia, unindo finalmente os dois reinos, depois da morte de Elizabeth I.

Elizabeth I, a rainha virgem, como era conhecida, nunca se casou nem teve filhos. Subiu ao trono com 25 anos e seu reinado durou 45 anos. Foi sucedida pelo filho de Mary.

A Rainha da Escócia era bela e alta, a da Inglaterra era dez anos mais velha e tinha o rosto marcado pela varíola. Elas se enfrentaram pelo direito ao trono da Inglaterra e houve um conflito de sentimentos profundo. Poderiam ter sido aliadas essas inimigas por causa da briga pelo poder?

Mary era a mais livre das duas e Elizabeth temia os homens. Menina, a futura rainha da Inglaterra, aos seis anos de idade viu o pai mandar matar sua mãe, Ana Bolena, que tinha 32 anos, e era a segunda esposa de uma série de oito. Ela pertencia a uma das famílias mais influentes da nobreza inglesa.

Saoirse Ronan faz Mary com vigor e alegria de viver, combativa e calorosa. Margot Robbie interpreta uma Elizabeth mais arredia, tão orgulhosa quanto frágil e ao mesmo tempo implacável contra Mary, de quem assinou a sentença de morte sem ter certeza de sua culpa por alta traição.

Apesar de rainhas, as duas sofreram com os homens que as cercavam e jogavam uma contra a outra, pensando em benefício próprio. Mary casara cm o rei da França muito jovem e com um lorde inglês mas não foi feliz no amor. Elizabeth dizia-se “homem” e se afastava de qualquer ideia de casamento e filhos.

A única cena em que as duas rainhas se encontram só acontece no filme mas define os contrastes entre as duas personalidades.

As atrizes estão magníficas, a produção de arte é cuidadosa e elegante em todos os detalhes, os figurinos esplêndidos e a natureza da ilha é mostrada em toda sua grandeza.

Belo filme.

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Gloria Bell

“Gloria Bell”- Idem, Chile, Estados Unidos, 2018

Direção: Sebastián Lelio

Ela está no bar de um clube noturno que toca músicas dos anos 80, em Los Angeles. Vemos cabelos brancos na pista de dança. Encontra um velho conhecido e ficamos sabendo que é divorciada há 12 anos. Deve ter uns cinquenta e poucos mas Gloria (Julianne Moore) é daquelas mulheres que não aparentam a idade que tem. É bonita. Corpo esbelto, cabelos alourados nos ombros, óculos que não escondem os olhos e dão um charme especial e a pele é suave. Pouca maquiagem. Veste-se com uma elegância discreta.

Seu sorriso é doce, seu riso alegre e gosta de dançar. E há uma procura estampada em seu rosto.

Está naquela idade em que os filhos não precisam o tempo todo da mãe. Vivem suas vidas. Ela os procura mas não é invasiva. Trabalha numa seguradora e vive só em um apartamento pequeno mas jeitoso. Há noites difíceis em que o vizinho de cima surta, grita, xinga a mulher e não a deixa dormir. E tem um gato que, não se sabe como, entra todo dia na casa dela. Delicadamente ela o põe para fora. Mas ele volta porque fareja que ela precisa de companhia tanto quanto ele.

Glória não é uma pessoa deprimida. Toda vez que entra no carro, canta alto as músicas dos anos 80 que escuta e quando limpa a casa dela, também. Sabe todas as letras de cor.

Há nela uma vontade de viver indisfarçável. E esperança de encontrar um companheiro. Mas ela não se mostra aflita, nem aborda quem não conhece.

E numa das noites no clube noturno ela troca olhares com um homem (John Turturro, excelente) e aos poucos começam um namoro.

Divorciado há um ano, Arnold é um ex militar, que parece ainda envolvido, por culpa, com a antiga família.

Gloria vai amar e terá que decidir o que quer para a sua vida.

Julianne Moore faz o papel que foi de Paulina Garcia na primeira versão chilena do filme, premiada como melhor atriz em Berlim em 2013. E o diretor Sebastián Lelio foi convidado pela própria Julianne Moore, que também envolveu-se na produção, para fazer o “remake” em inglês, tendo ela como Gloria.

E ela está divina. Tão expressiva que não precisa falar para comunicar o que sente para o público. Seu belo rosto e seu corpo falam por ela. Somos imediatamente conquistados pela Gloria de Julianne e torcemos para que encontre o que procura.

Este é o segundo filme de Sebastián Lelio em inglês. O primeiro foi “Desobediência” de 2017 com Rachel Weiz. E o diretor ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro 2018 com “Mulher Fantástica”. Ele sabe contar bem  histórias de mulheres.

“Gloria Bell” é um filme com um forte sentimento de procura da sobrevivência amorosa mas nunca às custas de uma falsa liberdade, nem de uma submissão masoquista.

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