As Rainhas da Torcida

“As Rainhas da Torcida”- “Poms”, Estados Unidos, 2019

Direção: Zara Hayes

Oferecimento Arezzo

Martha (Diane Keaton, sempre maravilhosa), cabelos brancos desalinhados, rosto grave, resolve vender tudo que havia na sua loja de objetos de segunda mão e partir. Deixa o apartamento no qual viveu 46 anos e vai. Sem filhos e sem marido, ela não precisa dar satisfações a ninguém. Está doente mas desmarca todas as quimioterapias.

Lá vai ela pensativa no seu carro. Para onde? Um lugar chamado “Sun Springs”, uma comunidade de aposentados. Vivem cada um em sua casa, com gramados bem cuidados.

Mas quando o comitê de recepção vem dar as boas vindas, aquelas senhoras espalhafatosas se assustam com Martha. Perguntada sobre o porquê de vir para “Sun Springs”, escutam a resposta inesperada:

“- Vim para morrer”, diz Martha sem a mínima hesitação.

Bem, talvez ser um pouco mais diplomática ajudasse. Mas ela está naquela fase que se recusa a fazer ou dizer o que não quer. Já basta o que está acontecendo com ela. A proximidade do fim está deprimindo Martha.

Outro não sonoro vai para Sheryl (Jackie Weaver) , a vizinha prestativa, que veio convidar para uma reunião em sua casa.

Mas parece que a vizinha não desanima e quer se aproximar de Martha. Novo convite envolve um almoço, na verdade um funeral onde Sheryl se abastece de boa comida:

“- Aqui morre muita gente e os petiscos do funeral são caprichados!”

Martha fica muito perturbada.

Tanto que não atende mais ao telefone e se tranca em casa, com seus remédios e sua depressão. Chora muito.

Dias depois vem Sheryl ver o que se passa. E encontra Martha mais receptiva. Ao ver um suéter de “cheer leader”, aquelas meninas que agitam pompons para a torcida nos jogos, escuta uma confissão:

“- Foi meu sonho que não se realizou…Minha mãe ficou doente no dia da apresentação e eu tive que cuidar dela. Desisti dos pompons para sempre… ”

Um filme que tem Diane Keaton nunca é um desperdício. Ela constrói sua personagem com apuro nos detalhes. Da postura relaxada que a faz ficar com barriga, ombros caídos e cabeça baixa, vai surgir uma Martha ágil, animada e acolhedora. Ela vai finalmente brigar por seu sonho e, de quebra, reinventa também a vida das suas companheiras.

A jovem diretora britânica, Zara Hayes, que dirigiu a série premiada sobre a cientista protetora dos gorilas da montanha na África e foi assassinada em 1995, “Dian Fossey: Secrets in The  sobre Mist” de 2017, não quer aqui fazer reflexões profundas sobre envelhecimento. Prefere contar a história de um sonho que vai ser realizado depois que a vida parece que terminou.

Ler Mais

Ponto Final – Match Point

“Ponto Final”- “Match Point”, Reino Unido, Estados Unidos, 2005

Direção: Woody Allen

Ao som da bela voz do tenor mais conhecido no mundo da ópera, Enrico Caruso (1875-1931), passam os créditos iniciais, sempre em fundo preto com os nomes em branco,  como em todos os filmes de Woody Allen.

Logo reconhecemos a ária, “Una Furtiva Lacrima” da ópera “Elixir de Amor”. Sinal que “a poção do amor” vai circular por entre os “happy few”, a elite londrina e os que gravitam em torno.

Parece. Porque num clube frequentado pela alta classe inglesa, um ex tenista profissional, agora professor de tênis para os que pagam bem, é entrevistado e contratado. Boa pinta, já jogou com os melhores profissionais mas cansou-se das viagens e deu aulas em clubes chics como Nice, Marbella e Sardenha. Pelo menos é o que ele conta.

Jonathan Rys-Meyers, o ator irlandês, é Chris Wilton. Ouvimos ele contar em “off” no início do filme qual é a sua filosofia de vida:

“Um homem que diz preferir ter sorte do que ser bom, está certo. Entendeu a vida. As pessoas tem medo de pensar que a sorte determina muita coisa na vida. Não podemos controlar tudo que acontece. Por exemplo, num “match point” do jogo de tênis. É o momento final. Se a bola bate no topo da rede, com sorte, pode cair para o lado do adversário e você ganha o jogo. Ou não, se cair, por falta de sorte, do seu lado.”

Chris parece que tem uma ideia na cabeça que vai por em prática. Está lendo o livro de Dostoievski, “Crime e Castigo”.

Quando é apresentado a Tom Hewett (Mattew Goode),  filho de uma família rica, conquista sua simpatia e é convidado para a ópera daquela noite. Ele aceita encantado e vai conhecer a irmã de Tom, Chloe ( Emily Mortimer). Foi dado o passo inicial para se casar com ela, e com isso frequentar o que há de melhor em Londres, usufruir dos fins de semana na magnífica propriedade dos Hewett e cair nas graças do pai e da mãe de Chloe, que já o veem como um filho. Querem um neto.

Tudo vai indo muito bem até que Chris conhece uma americana linda e sexy e noiva de Tom, seu futuro cunhado.

Chris, que acredita na sorte e é muito narcisista, não hesita em transar com Nola (Scarlet Johansson) na primeira oportunidade. No meio das gramas altas de um campo na chuva. Muito romântico e impulsivo.

Se ficasse só nisso tudo bem. Mas o noivado é desfeito e Chris encontra Nola na New Tate, uma famosa galeria de arte contemporânea. Sai com o número de telefone no bolso e dá início a um jogo perigoso. Os dois vivem um romance tórrido. Mas logo começam as cobranças da candidata a atriz sem talento.

“Talento e sorte determinam o destino de um homem”, escreveu Freud em um de seus livros. Parece que, no caso de Chris, devido à sorte que tem na vida e sua personalidade narcísica, esqueceu do talento. A sorte irá sorrir sempre para ele?

Woody Allen escreveu o roteiro original de “Match Point” com grande inspiração. Não foi premiado com o Oscar mas foi indicado.

“Ponto Final – Match Point” é um filme inteligente, com atores excelentes e roteirista e diretor genial.

Ler Mais