Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas

“Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”- “Big Fish”, Estados Unidos, 2003

Direção: Tim Burton

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A tão importante relação pai e filho nem sempre corre às mil maravilhas. Mas a história que esse filme conta é peculiar.

Quando criança, Edward adorava as histórias que seu pai contava antes dele dormir. Muitas e muitas vezes ele pedia a seu pai, Edward Bloom (Albert Finney), que repetisse suas preferidas.

E ele ouvia encantado a história da bruxa (Helena Bonham Carter) que tinha um olho de vidro e quem olhasse dentro dele saberia como iria ser sua morte. Outra ainda sobre a cidade de Spectro e seus habitantes que viviam descalços, dançando e cantando. E a do dono do circo (Danny DeVito) que contou tudo sobre a mocinha de vestido azul por quem ele se apaixonara à primeira vista. E outras mais como a do gigante, a das irmãs siamesas coreanas e a do campo de narcisos amarelos. Sem esquecer a da mulher nua no rio. Além, é claro, do peixe grande, que não se deixava pescar porque era muito especial.

Entretanto, quando o menino cresce (Billy Crudup) e torna-se jornalista, ele reclama com a mãe que tudo que seu pai contava eram mentiras:

“- É impossível separar o homem do mito quando se trata de meu pai.”

No dia do seu casamento em Paris com Joséphine (Marion Cotillard), pai e filho brigaram feio por causa de uma bobagem que o pai dissera em seu discurso. E não se falaram mais até aquele telefonema de sua mãe contando que o pai estava muito doente.

Edward decide então voltar para a cidadezinha onde nascera e crescera, na tentativa de descobrir o que havia de verdade nas histórias que o pai contava para ele sobre a sua vida. E Joséphine, grávida do primeiro filho do casal, vai com ele.

Era como se ele, sabendo que perdia o pai, quisesse finalmente, saber a verdade sobre ele. Temia essa verdade. Edward Bloom era vendedor itinerante e raramente estava em casa. O filho imaginava que ele teria outra família e sentia-se traído. Nunca superara esses ciúmes infantís.

Tim Burton, que dirigiu o filme, adaptado do livro de Daniel Wallace, “Big Fish: A Novel of Mythic Proportions”, criou um mundo de fantasia como ele gosta. Ninguém melhor do que ele para encenar as histórias fantásticas de Edward Bloom. Havia até um motivo afetivo para fazer esse filme porque o diretor perdera seus pais há pouco tempo.

Então a maior descoberta do filho de Edward Bloom, quando se reconciliaram, foi descobrir que o pai e ele eram muito parecidos. O pai contava histórias, ele as escrevia. Por isso não iria perde-lo jamais. Porque suas histórias estariam vivas para sempre em sua memória. Eram sua maior herança.

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Yesterday

“Yesterday”- Idem, Reino Unido, 2019

Direção: Danny Boyle

Ninguém prestava muita atenção a Jack Malek (Himesh Patel) quando ele cantava nas ruas da cidadezinha à beira mar, Clocton-on-sea, na Inglaterra ou no restaurante pequeno onde todos falavam alto, não importa qual música ele cantasse.

A única que via talento nele era sua antiga colega de escola, Ellie (Lily James, a gracinha que foi “Cinderela”). Desde sempre apaixonada por Jack, não nutria muitas esperanças de um romance entre eles porque ele a tratava como amiga.

E tudo corria sempre igual, Jake trabalhando na loja de alimentos e cantando nas horas vagas, sem estímulo, até aquela noite mágica. Jack voltava para casa de bicicleta quando aconteceu um blackout mundial que durou segundos, mas tempo suficiente para que ele fosse atropelado por um ônibus.

Todo quebrado no hospital e sem dois dentes, Jack parecia mais miserável do que nunca. Foi aí que ele fez uma piada para Ellie que o visitava:

“- Will you feed me when I’m sixty four?” e ela não entendeu.

“ – Por que 64?”

Ele achou estranho. Como não reconhecer um verso de uma música tão conhecida?

Mas quando cantou para ela e os amigos mais íntimos, no violão que Ellie tinha dado de presente para ele, “Yesterday”, é que ele começou a entender o que estava acontecendo.

“- Que linda essa música! Você compôs?”

“- Claro que não! É “Yesterday” dos Beatles.”

E a cara dos amigos mostrou que era a primeira vez que ouviam essa canção. Parece que algo muito estranho acontecera naquela noite do acidente.

Jack procurou na internet e nem sombra de Paul, John, George e Ringo. Só achava besouros.

“Será possível?” pensou ele.

E daí em diante a vida dele começou a mudar.

Danny Boyle dirigiu e Richard Curtis escreveu o roteiro  dessa comédia romântica diferente das outras.

Não é açucarada mas quem viveu os anos 60 fica com um nó na garganta ao ouvir as músicas que encantaram uma geração e todas as que vieram depois dela. Dá muita saudade.

A Beatlemania não acabou quando eles se separaram. Todo mundo sabe disso. Ditaram moda, mexeram com os costumes, eram unanimidade. Vieram para ficar.

“Yesterday”, o filme, talvez pudesse ter um pouco mais de questionamento sobre a desonestidade do roubo das músicas, mas acho melhor ver o filme como uma fábula sobre o sucesso e o amor verdadeiro.

Um conto de fadas. Um sonho de Jack no hospital quando estava muito mal.

Vá se emocionar e quem sabe deixar uma lágrima rolar quando você ouvir “Yesterday” cantado por Himesh Patel, sucesso estrondoso nas lojas de música virtuais. Não é cover. É o garoto de pais indianos que canta bem e é bom ator ainda por cima.

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