Oscar 2020 – Premiações

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Eleonora Rosset

“Parasita” do diretor sul coreano Bong Joon-ho foi o grande sucesso dessa 92ª edição do Oscar. Nada menos que quatro Oscars: melhor roteiro original, melhor filme internacional, melhor diretor e, para culminar a consagração, foi escolhido como o melhor filme do ano.

Concordo. Fico feliz de perceber que a Academia sabe ver quando há qualidade e arte. Sem fronteiras.

Talvez nem todos tenham dado valor à crítica social que o filme faz de maneira sutil. Por uma triste coincidência, a moradia da família pobre do filme é sempre inundada quando chove em Seul. São Paulo também passa pelo mesmo aperto. Enquanto eu assistia ao Oscar aqui em Miami, os céus se preparavam para transformar a cidade onde vivo em um rio lamacento.

Triste São Paulo. Tão maltratada. Pobre natureza, expulsa da cidade que tem 10% do PIB do país. Não há solução? Mais dia menos dia a natureza cobra os maus tratos. Aquecimento global, lixo no rio, na rua, ocupação errada do solo, cimento por todo lado…

Viram como o cinema entra em nossas vidas e nos ensina? Quem não foi ver “Parasita” vá correndo.

A noite da festa foi mais curta e mais simples do que as anteriores. O foco não estava no luxo, apesar dos colares emprestados pelos grandes joalheiros. O que se viu foi a valorização do talento de quem faz cinema de boa qualidade e inspiração.

Assim,”1917” foi o segundo lugar em número de Oscars e levou a melhor mixagem de som, melhor fotografia e melhores efeitos especiais.

“Coringa” premiou Joaquin Phoenix, uma unanimidade e também ganhou o Oscar de melhor trilha sonora original, composta pela talentosa Hildur Gudnadóttir. Aliás o discurso do melhor ator foi delicado, sensível e mostrou a pessoa especial que ele é.

O novo Tarantino deu a Brad Pitt o Oscar de melhor ator coadjuvante, que ele merecia há muito tempo e foi o filme com a melhor produção de arte.

“Ford vs Ferrari” levou prêmios técnicos que valorizaram o filme: melhor edição de som e montagem.

“Jojo Rabbit” que agradou à plateia, sempre aplaudido, ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado pelo diretor Taika Waititi.

Laura Dern foi a melhor atriz coadjuvante em “História de um casamento” e Renée Zellweger ganhou o Oscar de melhor atriz por “Judy”. As duas levaram todos os prêmios da categoria a que foram indicadas. Unanimidade.

Elton John cantou a melhor canção do filme autobiográfico, “Rocketman” e “Escândalo” foi premiado pelo cabelo e maquiagem que transformaram o rosto de Charlize Theron.

No mais umas piadinhas americanas e uma tentativa de envolver a plateia, sem muito êxito. Só ficou de pé com emoção para valer com o prêmio de melhor filme do ano para “Parasita”, algo que a maioria não acreditava que pudesse acontecer.

Jane Fonda entregando o Oscar final estava elegante e bela, aos 80 anos, num vestido divino, vermelho, cabelo curto e pouca maquiagem. Uma dama!

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Jojo Rabbit

“Jojo Rabbit”- Idem, Estados Unidos, 2019

Direção: Taika Waititi

Quem não sabe nada sobre o filme leva algum tempo para entender o que se passa. Como? Um menino de 10 anos, fardado, que jura lealdade a Adolf Hitler? E o que é aquilo? O próprio Hitler está no quarto do menino? Conversa com ele e o incentiva?

Claro que é uma comédia. Aliás é mais uma sátira. Mas não como as outras que já vimos. Ao som dos Beatles cantando “I Wanna Hold Your Hand” em alemão, passam na tela cenas reais de multidão e jovens com o uniforme do exército da juventude, o Jungvolk, fazendo a saudação fanática.

O garoto vai ao campo de treinamento nazista, comandado pelo Capitão (Sam Rockwell), um sujeito que esconde insegurança atrás da arrogância. Tem também uma gorda agressiva, Fraulein Rahm (Rebel Wilson) que promete ensinar as meninas a fazer bebês para Hitler e descreve os judeus como tendo chifres e escamas de peixe pelo corpo. À noite, a diversão é queimar livros na fogueira.

Mas de onde vem esse apelido Jojo Rabbit ? Os outros meninos riem e chamam Johannes Betzler assim. Só entendemos quando vemos a cena onde ele se recusa a matar um coelhinho com suas próprias mãos.

Daí em diante compreendemos melhor o objetivo do diretor Waikiki, que faz o amigo invisível de Jojo (Roman Griffin Davies). Ele não pretende só ouvir risos na plateia. Quer fazer pensar como uma criança de 10 anos pode ser levada a acreditar em inverdades tolas, assim como o resto do país:

“- Os judeus são assustadores. Eu mataria um se o visse na minha frente”, diz Jojo a seu único amigo, Yorki (Archie Yates).

“- E como você vai saber que é um judeu? Eles são como nós”.

“- Esqueceu dos chifres que escondem com o chapéu?”

E Jojo precisa da companhia de seu amigo invisível, o próprio Hitler (personagem do próprio diretor Waititi), visto pelo olhar infantil, maneiroso, exagerado, bufão. Sente falta do pai. Ninguém sabe onde ele está. Nem a mãe (doce Scarlett Johansson). Ou assim pensa Jojo.

Nada é o que parece na vida de Jojo. Mas ele vai descobrindo e amadurecendo aos poucos. Leva algum tempo para entender porque a mãe dele abriga Elsa (Thomasin McKenzie), uma judia, escondida no sótão.

Jojo ficou ferido no rosto e na perna, durante um exercício na floresta. Com o amigo invisível tenta jogar uma granada e ela explode em cima dele.

Agora, sentido-se mais inseguro ainda, fica mais tempo em casa. E é aí que vai ocorrer um fato inédito na vida de Jojo. Uma amiga de verdade, apesar de ser uma judia.

Esse contato real com o diferente e o imaginado monstruoso, como tinham ensinado a Jojo, é o que vai fazer a diferença. Elsa é de carne e osso, sem chifres, mais velha do que ele, bonita e inteligente. Ele vai se apaixonar, como a mãe havia dito a ele.

Os momentos mais emocionantes do filme são os que marcam as descobertas das verdades. Ele passa da infância à puberdade durante a Segunda Guerra, da qual foi poupado para viver uma vida com liberdade para dançar, como prega o poeta Rilke que Elsa apresenta para ele.

O filme é uma adaptação do livro de Cristine Leunens, “Caging Skies”, pelo diretor neozelandês, que se diz “o judeu da Polinésia”, e está na lista dos indicados ao melhor filme de 2019, além de mais outras 5 indicações.

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