Os 7 de Chicago
“Os 7 de Chicago”- “The Trial of Chicago 7”, Estados Unidos, 2020
Direção: Aaron Sorkin
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A maioria sabe o que foi a Guerra do Vietnam. Um morticínio. Jovens americanos e vietnamitas do norte, com o país dividido, envolvidos numa batalha cruel que se estendeu ao Laos e ao Cambodja e durou de 1955 e 1975.
Essa foi a causa principal que uniu jovens de todos os Estados Unidos numa manifestação gigante em 1968, todos protestando contra a guerra, por ocasião da Convenção do Partido Democrata em Chicago.
A causa que defendia o fim da guerra era ouvida nas vozes de Martin Luther King, Panteras Negras, Robert Kennedy, políticos e jovens interessados em política e contracultura, universitários e muitos americanos que tinham perdido seus filhos nessa guerra inglória.
Foi com esse clima que aconteceu a Convenção em Chicago. Houve confrontos da polícia com os manifestantes e alguém tinha que pagar por isso. E porque a imprensa nacional e internacional divulgou fartamente esses acontecimentos, havia um lema: “o mundo inteiro está assistindo”.
O julgamento começou em 26 de setembro de 1969 e no banco dos réus estavam os acusados de ter organizado a manifestação e incitado a multidão contra a polícia. Eram eles os yippies fundadores do Partido Internacional da Juventude, Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), Tom Hayden (Eddie Redmayne), fundador do Estudantes por uma Sociedade Democrática, Rennie Davies ( Alex Sharp), David Dellinger (John Carrol Lynch) pacifista, Fred Hampton (Kelvin Harrison Jr) e Lee Weiner (Noah Robbins).
Durante grande parte do julgamento havia um oitavo acusado, Bobby Seale (Yaha Abdul- Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras, que não tinha advogado, que estava hospitalizado e não conhecia nenhum dos outros 7 acusados.
O juiz que conduziu o julgamento, Julius Hoffman (Frank Langella), era arrogante e claramente tomava o partido de acusar os réus. Não era um juiz imparcial.
E essa parcialidade do juiz é claramente mostrada na maneira como trata o advogado de defesa, William Kunstler (Mark Rylance) e como se desvencilha do depoimento importante de Ramsey Clark (Michael Keaton), ex procurador geral, que depõe a favor dos réus, não permitindo que fosse transcrito nos autos.
Aaron Sorkin, mais conhecido como roteirista e dramaturgo, em seu segundo filme como diretor, mostra de forma didática o que aconteceu naquele tribunal, inclusive embates divertidos do acusado Abbe, que também é Hoffman como o juiz, apupos e palmas da plateia, violência dos seguranças contra o único réu negro e Abbie e Jerry fantasiados com toga de juiz e uniforme de policial.
Cada um dos acusados tem cenas que mostram a diferença que havia entre eles, ou seja, a maneira de se conduzir tanto na manifestação no dia da Convenção, como o modo de se portar na frente de um juiz, que dizia respeito ao que cada um acreditava como o Estado deveria se comportar com seus cidadãos.
O filme é conduzido com inteligência e com cortes que mostram cenas do tribunal entremeadas com as da véspera e do dia da Convenção. Demonstra que quando o Estado não escuta a maioria do povo, em países democráticos, isso gera sempre desordem.
Os ecos de1968 ainda soam altos. É só prestarmos atenção.
“Os 7 de Chicago” foi indicado a 6 Oscars: melhor filme, melhor ator coadjuvante (Sacha Baron Cohen), melhor canção original, melhor roteiro original, melhor fotografia e melhor edição.