Ya No Estoy Aqui

“I’m No Longer Here”- “Ya No Estoy Aqui”, México, 2019

Direção: Fernando Frias

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Ulises, um garoto que vive no norte do México em  Monterrey, tem 17 anos e vai viver sua “Odisseia”, uma longa viagem da qual voltará a pé, cansado, mas certo de que voltar é o seu destino.

Tudo começa quando ele vai para os Estados Unidos, fugido por causa de um mal entendido. Leva no bolso sua única bagagem, um MP3 com todas as músicas preferidas.

Sua bela figura lembra os relevos dos antigos maias, donos daquela região há milênios. Roupas largas, de cores e estampas vibrantes, um corpo forte, não muito alto. Seu cabelo é sua maior originalidade. Raspado na nuca, eriçado no alto da cabeça com pontas coloridas de amarelo ouro, cai sobre a testa numa franja castanha e, dos lados duas mechas longas e largas, também coloridas nas pontas.

Quando ele dança a cumbia, formoso como um pássaro que bate as asas para voar, seu corpo todo se envolve em passos e gingados que encantam. Braços ao alto, usa os dedos para fazer a estrela que é o símbolo dos “Terkos”, os obstinados, grupo ao qual pertence.

Ele é o melhor dançarino. A cumbia é a sua vida. São momentos em que mostra quem é, brilhando. Mas nada é fácil para ele, assim como para todos que vivem na periferia de Monterrey.

Mas esses garotos, com suas roupas originais, são jovens alegres que enfrentam a feiúra e a pobreza desse lugar onde vivem, dançando e cantando. São travessos, briguentos mas não são marginais, não usam armas e não são violentos. Há alguma relação com o tráfico, coisa normal em Monterrey.

Mas Ulises vai sofrer ainda mais nos Estados Unidos. Se não fosse pela neta de um chinês, não sabemos o que seria dele. Ela se aproxima de Ulises e quer ajudar. Mas nenhum fala a língua do outro. Começam a se entender por um sentimento de Lin (Angelina Chen) que quer proteger o mexicano de olhos doces.

O sonho de Ulises é poder cantar no metrô e ganhar algum dinheiro. Mas americanos desconfiam daquele rapaz diferente. É insultado e perseguido.

Vemos Ulises afundando. O sonho transformou-se em pesadelo. Entra num torpor melancólico e é levado pela polícia. A imigração manda ele de volta para o México.

E a viagem desse Ulises termina com uma visão de pesadelo.

O filme dirigido por Fernando Frias com grande empatia por seus personagens, é sublime. Atuações naturais, já que todos não são atores, roteiro poético e contemporâneo do próprio diretor, que às vezes até confunde a cronologia dos acontecimentos. Porque o roteiro quer mesmo confundir, mostrar os contrastes, o preconceito com o diferente, a ambiguidade entre mexicanos e americanos quando se trata de drogas e armas.

A fotografia é espantosamente bela. Pinta quadros. A música é de uma tristeza envolvente.

Juan Daniel Garcia “Derek” é um talento raro para a dança e um ator expressivo. De pronto ficamos intrigados com ele, que conquista logo também nossa simpatia.

Nosso Ulises mexicano volta à sua terra, mas não tem uma Penélope o esperando…Vai cumprir o seu destino.

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Sleepers – A Vingança Adormecida

“ Sleepers – A Vingança Adormecida”, Estados Unidos, 1996

Direção: Barry Levinson

Vingança é um prato que se come frio, diz o ditado popular. Mas será que uma vingança alivia a autoestima de quem foi vítima de muitas maldades?

Essa é uma história que mostra as consequências de uma vingança, feita muitos anos depois do acontecido com quatro garotos que moravam em Hell’s Kitchen, bairro de imigrantes em Nova York, no início dos anos 60.

Eram meninos de 12, 13 anos, em férias nas ruas do bairro, onde todo mundo se conhecia. Alegres, inventavam o que fazer naqueles dias quentes de verão. Mas um acidente vai mudar a vida de todos eles, para sempre.

Por causa de uma brincadeira com o vendedor de cachorro quente, um homem quase morreu e os meninos foram parar no Reformatório Wilkinson. Era um prédio imponente que poderia passar por uma universidade. Bonito por fora, lá dentro um inferno.

Os quatro garotos pegaram penas leves, ao redor de um ano, mas naquele lugar todos os dias e, principalmente as noites, custavam a passar.

Os guardas, que deviam encarregar-se da segurança e disciplina dos garotos, faziam tudo que podiam para atormentar aquelas crianças. Eram de uma perversidade sem igual.

Ao menor sinal de rebeldia, usavam de força bruta, batendo com seus cassetetes até ver sangue. Murros e pontapés eram desferidos sem dó nem piedade. Esses homens grandes divertiam-se em humilhar os assustados adolescentes indefesos.

Mas o pior mesmo eram as noites. As visitas noturnas às celas envolviam torturas e abuso sexual. Sadismo em altas doses.

Assim, quando saíram do reformatório, eles não eram mais os mesmos meninos, alunos do padre Bobby (Robert De Niro numa atuação brilhante), que era como um pai e amigo dessas crianças. Ele tentava protegê-las do ambiente hostil e do mau exemplo ao redor delas.

Há uma passagem de tempo e vamos aos anos 80, quando explodirá a vingança, tanto tempo adormecida nos corações daqueles quatro amigos.

O filme é de 1996, dirigido por Barry Levinson, que também escreveu o roteiro, adaptado de um livro de Lorenzo Carcaterra, que diz que seu livro conta a pura verdade e que só os nomes foram trocados.

O elenco é perfeito e, além dos já citados, podemos lembrar de Kevin Bacon, o líder dos guardas sádicos, Brad Pitt como um dos garotos que viraram homens, Minnie Driver, a única menina aceita pela turma do quatro, Vittorio Gassman, fazendo com gosto o mafioso local e Dustin Hoffman brilhando como o advogado sem jeito.

“Sleppers – A Vingança Adormecida” é a história bem contada de uma vingança que nos envolve, nos colocando uma questão de difícil resposta.

Um roteiro como não se vê mais em nossos dias.

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