A Cozinheira de Castamar

“A Cozinheira de Castamar”- “La Cocinera de Castamar”, Espanha, 2021

Direção: Norberto Lopes Amado

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Essa série da NETFLIX, em 12 capítulos, traz um melodrama espanhol passado no século XVIII e está encantando aos fãs de filmes de época.

No enredo, segredos, sexo, traições, assassinatos, inveja, ciúmes, racismo, maldade, homofobia mas também amizade, bondade e generosidade, são algumas da qualidades e defeitos da natureza humana que enriquecem a história que se passa no luxuoso castelo de Castamar, onde moram o Duque, sua mãe e seu irmão adotivo Gabriel.

Tudo começa com a trágica morte de Alba, a Condessa (Xania Tostado), que sofre uma queda fatal quando cavalgava com o seu marido pelas terras da propriedade. Diego, o Conde (Roberto Enriquez), está de luto e se isola. Perdera a mulher que amava, grávida do seu herdeiro.

Cobiçado como bom partido, ele se torna alvo de pessoas interesseiras que se aproximam com más intenções.

Enquanto o Duque se fecha para o mundo, algo similar acontece na cozinha. Traumatizada pela morte do pai, acusado de assassinato e perda de todos os seus bens, Clara Belmonte (Michelle Jenner), se refugia no castelo como a nova cozinheira.

Ela não veio do mesmo meio social do que os outros serviçais mas é bondosa, doce e não hesita em ajudar quem precisa. Seus pratos são apreciados por todos. Encantam ao paladar e aos olhos.

A série é uma adaptação do livro de mesmo nome de Fernando J. Múnez e funciona muito bem na tela, com uma produção impecável e escolha de cenários autênticos tanto na arquitetura do século XVIII quanto na natureza viçosa de campos e florestas.

Os figurinos são uma atração à parte. Em cada cena os personagens exibem trajes que chamam a atenção. Tecidos, adereços e materiais atraem nossos olhares porque tanto os personagens como a decoração dos ambientes parecem nos transportar para um mundo muito diferente do nosso. Um mundo imaginário e belo, construído com bom gosto.

Claro que a série exibe clichês. O que não importa e é até esperado numa história de amor dramática. Assim, tudo que pode acontecer, acontece. E de uma maneira bem pensada, diálogos bem escritos e uma narradora, a própria Clara, que faz uma ponte entre o que acontece na culinária e dentro de nós mesmos.

Todos os temperos que estão à disposição numa cozinha devem ser usados com equilíbrio e boa medida para que uma receita saia perfeita. Isso é o mesmo que deveria acontecer na vida da gente. Autoconhecimento e equilíbrio interno são necessários para tomar decisões acertadas.

Mas, prepare-se também para surpresas e erros, tanto na cozinha como na vida, avisa a bela e sábia Clara, “A Cozinheira de Castamar”, porque eles acontecem.

Saboreiem essa série. Ela merece.

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Antonia – Uma Sinfonia

“Antonia - Uma Sinfonia”- “De Dirigent”- “The Conductor”, Holanda, Bélgica, 2018

Direção: Maria Peter

Antonia Brico nasceu em 1902 na Holanda e morreu em 1989, aos 87 anos, em Denver, Estados Unidos. O filme vai contar a vida dessa mulher extraordinária e sua devoção à música.

Apesar de merecer destaque por suas atuações como maestrina de grandes orquestras, ela nunca foi reconhecida como tal. Aliás não foi a única. Nenhuma mulher figura na lista dos grandes maestros.

O filme conta a história dela a partir de 1926 em Nova York, quando ainda se chamava Willy Walters (Cristanne de Brujin, ótima atriz) e era encarregada de acompanhar as pessoas aos seus lugares nos concertos.

Mas, por incrível que pareça, não permitiam que ela permanecesse na sala para ouvir o concerto.  Nesse dia, com espanto, as pessoas veem aquela mocinha trazer uma cadeira e sentar-se bem atrás do maestro, que sorri para ela. Seus olhos brilham.

Porém, a alegria durou pouco. Ela é retirada à força e demitida do teatro.

E lá se vai o dinheiro do seu salário com o que a mãe contava para pagar despesas. Vemos como trata a filha com secura.

Mas uma surpresa acontece no destino daquela mocinha que tocava piano num pano, com as teclas pintadas. O pai era lixeiro e não podia comprar um piano para ela.

Tudo muda em sua vida quando conhece Robin Jones (Scott Turner Schofield), também pianista, dono de um cabaré onde atuava Miss Denise (Michael Watson Gray) que cantava e fazia graças com a plateia.

Esses dois desenvolvem um grande amizade com a mocinha pianista. E o filme lida com o tema da homossexualidade com cuidado e respeito.

Levada pelo amigo Robin a um jantar na casa de milionários que apoiavam as artes, ela conhece Frank Tomien (Benjamin Wainwraight), filho dos donos daquela mansão. Ele foi seu primeiro amor. E ela teve que fazer uma escolha difícil. O machismo queria as mulheres em casa cuidando dos filhos.

A pianista descobre algo que a faz deixar a casa daqueles que ela considerava serem seus pais. Ela fora adotada com 2 anos de idade. Passa então a usar seu nome verdadeiro, Antonia Brico.

Ela era uma mulher valente, talentosa e persistente.

Estudou regência em Berlim e foi a primeira mulher americana a reger uma orquestra na Europa, a Filarmônica de Berlim.

Na América, com a aprovação da primeira dama, Eleanor Roosevelt, montou uma orquestra só de mulheres e fez sucesso. Regeu também a Orquestra Filarmônica de Nova York e muitas outras.

Se você nunca ouviu falar dela, não se espante. O território da regência é reservado aos homens. Por que? Um deles afirma no filme que as mulheres não tem poder de liderança para assumir o lugar de maestro. Até agora foi assim. Isso vai mudar nos próximos anos?

Veremos.

Claro que o filme reserva para os amantes da música uma escolha de trechos belíssimos regidos pela maestrina incansável. Um espetáculo.

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