Te Amarei para Sempre

“Te Amarei para Sempre”- “The Traveler’s Wife”, Estados Unidos, 2009

Direção: Robert Schwentke

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O tempo nos faz prisioneiros de uma dimensão que chamamos vida. Curta ou longa, tem sempre uma duração desconhecida e uma ordem cronológica de acontecimentos. E isso pode tornar-se uma das maiores angústias para o ser humano.

Talvez por isso, quando em 1895 foi publicado o livro de H.G. Wells, “A Máquina do Tempo”, ele tornou-se um grande sucesso. Adaptado ao cinema em 1960 lotou plateias mundo a fora. A ideia de dominar o tempo com uma máquina sempre foi sedutora e trazia a realização de um sonho, ser eterno, viver para sempre e enganar a morte.

Mas nesse filme de 2009, o personagem Henry (Eric Bana), devido a um problema genético, é obrigado a se ver, de repente, sem roupa, em um lugar diferente de onde estava antes e com sua idade variando. Henry não podia controlar nada disso. Não escolhia nem onde, nem quando, nem para onde ia, futuro ou passado.

Vemos ele ainda criança, escapando de um acidente de carro que sua mãe guiava, por causa de um desses “ataques”, semelhantes a um surto que o tirava de uma realidade e o colocava sem roupas em outra. Henry é um viajante do tempo, descontrolado.

Mas o filme, apesar de ideias ligadas à ficção científica, é um romance de amor. Numa dessas “viagens”, Henry encontra Clare (Rachel McAdams), com 6 anos de idade, num belo campo onde ela brincava. Ele pede que vá buscar roupas de seu pai e ela ouve que será a mulher desse homem no futuro. Clare não entende ainda do que ele fala mas sente uma forte ligação com Henry.

Claro que o roteiro não está interessado em ser lógico ou explicável. Usa a ideia de “viagem no tempo” para contar uma história de amor. Comovente e envolvente. E até engraçada quando ficamos sabendo que Clare providenciava sempre roupas, onde quer que ela estivesse, porque sabia que ele iria voltar e precisar delas.

A pesar de todas as dificuldades que o casal passa, dependendo de algo incontrolável, o amor deles resiste e conquista os românticos que assistem ao filme. Além disso, Eric Bana é um homem bonito, com ou sem roupas e Rachel McAdams empresta sempre a todos os seus personagens sua graça e talento.

A música ajuda no clima de beijos longos e os cenários naturais e os interiores são encantadores e bem produzidos. A fotografia lida muito bem com os desafios da história e os efeitos especiais.

“Te Amarei para Sempre” é um filme para sonhar mas também lembrar da nossa finitude. O tempo que passa implacável não pode ser o culpado da nossa falta de iniciativa e tem que ser bem aproveitado. Nem que haja somente passagens rápidas da felicidade.

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Um Ninho para Dois

“Um Ninho para Dois”- “The Starling”, Estados Unidos, 2021

Direção: Theodore Melfi

Como é difícil superar a morte de um filho. Isso contraria as leis da natureza. Os pais devem ir antes que os filhos. Quando acontece o inverso é uma crueldade.

No caso de Lilly (Melissa McCarthy) e Jack (Chris O’David) a morte súbita e sem aviso da bebezinha Katie, em seu berço, sem explicações, destruiu os dois.  Não tinham idade para ter mais filhos e nem queriam pensar nisso.

Jack era o mais problemático do casal e não aguentou. Melissa chegou a tempo na garagem onde Jack queria morrer. Os médicos o hospitalizaram para que o cuidassem com remédios e assistência 24 horas por dia.

Ele não falava. Do fundo de sua depressão, culpava-se pela morte da filhinha. Não adiantavam para nada os argumentos contrários.

E Lilly pegava o carro uma vez por semana, uma hora ir e outra para voltar, para ver o marido e levar o doce que ele gostava desde criança. Mas Jack não se ajudava. Não tomava os remédios, bem escondidos no quarto e não socializava com os outros pacientes. Também se calava na terapia e o pouco que dizia eram ironias.

Lilly lutava com todas as suas forças para manter a sanidade. Uma amiga recomendara um terapeuta e ela foi procurá-lo. Pensou num engano porque o médico que encontrou era veterinário e tinha um hospital para cães e gatos. Mas, por alguma razão misteriosa, o Dr Larry Fine (Kevin Kline) aceita ser o terapeuta de Lilly quando ela conta sua história. Não que ela tivesse alguma esperança de melhorar da grande tristeza que tinha no peito. Mas seria bom conversar com alguém.

E quando começaram a voltar suas forças vitais, ela foi trabalhar no jardim da casa. Planejava uma horta. Mas qual não foi sua surpresa, quando um pássaro pequenino atacou sua cabeça, fazendo um corte na testa de Lilly que ficou furiosa.

Dr Kline elucida sua paciente. Tratava-se provavelmente de um estorninho, pequeno mas muito territorialista. E era a Primavera. Deveria haver um ninho com filhotes. O pássaro macho atacara Lilly para proteger o ninho.

O fato é que ela não podia sair da casa. O que fazer? Do alto da árvore frondosa, o pequeno a vigiava pronto para o ataque.

Esse filme despretensioso não prega moral. Os personagens lutam contra a vontade de morrer e de matar, fazendo assim o ciclo difícil do luto.

Até que as lembranças se tornem mais doces, sem despertar angústia, Lilly e Jack terão a possibilidade de salvar seu casamento e aceitar o inevitável, vivendo o que se pode viver da melhor maneira possível.

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