Nureyev

“Nureyev”- Idem, Estados Unidos, 2018

Direção: Jacqui Morris e David Morris

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Um documentário imperdível. Conta e mostra, através das vozes de seus amigos, a vida de um dos mais célebres, senão o mais famoso bailarino clássico da história, Rudolf Nureyev (1938- 1993).

E o mais genial é que o vemos em trechos inéditos de sua dança, quando ainda muito jovem, na qual ele já flutua, com um corpo perfeito, de músculos fortes e flexíveis e um talento para desprender-se da lei da gravidade, sem igual.

Belo, rosto de traços marcados, boca cheia e cabelos esvoaçantes, ele era também ator, conseguindo despertar emoções nas plateias, com seu temperamento selvagem. Era ovacionado.

Ele nasceu numa família pobre, no norte da Rússia, em 1938, num trem no qual sua mãe estava indo ao encontro do marido que trabalhava na Manchúria. Sua família era de tártaros muçulmanos, guerreiros do Império Otomano. Mas ele foi criado num ambiente maternal, entre as mulheres, a mãe e irmãs. Enquanto sua mãe incentivava sua dança, o pai não o aoiava. Para ele, dançar era coisa de afeminados.

E o “Corvo Branco”, apelido de infância, porque ele era diferente de todos, fugia de casa e ia dançar com os bailarinos folclóricos locais.

Adolescente, sua família o mandou para Leningrado. O percurso de trem levou quatro dias até Moscou e 16 horas até seu ponto de chegada. E ele foi estudar na escola Vaganova.

Dalí para o lugar de solista do Kirov, parafraseando um verso de Keats, que aparece na tela do documentário, foi: “Nasce uma beleza terrível”.

Em plena Guerra Fria, com 23 anos, Nureyev vai para Paris com o Kirov e, desobedecendo aos guardas da KGB, descobre as noites parisienses. Ele, que fora mandado para fazer propaganda da União Soviética, em 16 de julho de1961, deserta e toma a decisão de não voltar, sabendo que não poderia ver mais a família. Foi uma escolha dilacerante e vemos na tela como foi difícil.

Uma das ideias mais brilhantes do documentário foi a montagem de um palco onde o cenário conta, através da dança e de objetos marcantes, os episódios da vida de Rudolf Nureyev, narrados pela voz dos que conviveram com ele.

Mas mesmo que se conheça a vida dele, é imperativo ver o documentário e nos deliciarmos com ele e Margot Fonteyn ou como quando é entrevistado na televisão no ”Dick Cavett Show”, vestido com jaqueta e botas de “lézard”. Elegante, gracioso, irônico, leve e genial.

Em 1964 o bailarino que transformara o papel masculino na dança clássica para equiparar-se às bailarinas solistas, é fotografado por Richard Avedon que disse palavras que o descrevem de maneira integral: “Todo o seu corpo responde a uma espécie de maravilhamento frente a si mesmo. Uma espécie de orgia narcísica. Uma orgia de um só.”

Nunca houve ninguém como Rudolf Nureyev.

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Seus Olhos Dizem

“Seus Olhos Dizem”- “Kimi No Me As Toika Heteru”, Japão, 2020

Direção: Takahiro Miki

O amor é um sentimento que une pessoas de forma inesperada. É o que acontece com dois jovens em Tóquio, capital do Japão, onde por acaso se encontram numa noite.

Antonio Rui Shinozaki (Yokohama Ryusei) e Akari (Yuriko Yushitaka) vão viver um grande amor mas ainda não sabem. Ele saiu da prisão há pouco tempo e ela vem trazer o jantar que costumava fazer especialmente para o senhor que ocupava o posto de vigia no estacionamento, agora lugar de Rui.

Muito simpática e falante, Akari desembrulha os pratos que preparara com carinho para o seu amigo, sem perceber que não era ele, mas Rui que agora estava lá.

Acontece que ela é cega. Um acidente grave tirara a visão da jovem, que levava os pais num passeio noturno de carro pela cidade. Um homem em chamas cai de um prédio levando os carros que passavam a graves colisões.

Rui não sabia dessa história mas, calado, percebe a cegueira de Akari. Ele é tímido, não toma a iniciativa de conversar com a moça e, quando ela tropeça na saída, perigosamente no meio da rua, Rui corre para salvá-la.

Nunca mais se separaram. O sentimento cresce nos dois corações e é comovente ver como se aproximam cada vez mais.

Mas o passado de Rui vai voltar e ele, que se envolvera com a máfia como cobrador de dívidas, vai ser ameaçado a largar sua carreira de kickboxer, que ele retomara para poder casar com Akari e deixar que ela se entregasse completamente à cerâmica, sua paixão.

A história é envolvente e tem toques de tragédia mas o amor triunfa, unindo os dois, nascidos um para o outro.

A fotografia é linda, usando luzes e cores nas cenas que se passam tanto em Tóquio como na praia. Os dois atores são belos e delicados, apesar de Rui mostrar sua força e agressividade nas lutas, exibindo um belo corpo preparado.

Entre encontros e desencontros, culpa e arrependimento. “Seus Olhos Dizem”, um remake de um filme sul coreano, “Always”, agradará aos românticos e aos que apreciam os filmes japoneses, sempre bem cuidados e mostrando uma cultura tão especial.

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