Um Crime de Mestre

“Um Crime de Mestre”- “Fracture”, Estados Unidos, 2007

Direção: Gregory Hoblit

Oferecimento Arezzo

Enquanto uma mão de homem acaricia um corpo de mulher, outra mão masculina coloca uma bola prateada numa engrenagem daquelas em que a ação de um objeto, no caso a bola percorrendo um trilho, faz outra entrar em ação e assim por diante, até todo o mecanismo funcionar sozinho.

Todo o filme se encaixa nessas primeiras imagens mas vamos ter que pensar um bocado para entender o que está na mente de Ted Crawford (Anthony Hopkins), engenheiro especialista em detectar microscópicas fraturas nos sistemas aeronáuticos. Ele é capaz de descobrir uma rachadura da espessura de um fio de cabelo numa casca de ovo. Aprendeu a separar ovos bons dos ruins quando era criança, trabalhando com o pai.

Crawford gosta de inventar complicações. Dessa vez vai colocar o jovem promotor Willy Beachun (Ryan Gosling) frente a frente com um enigma aparentemente sem solução.

Sim, o casal do início do filme, que ele espiona na piscina do motel, tem a ver com ele, Ted Crawfod. A mulher, que ele diz amar, não vai ser perdoada pela traição. Vai levar um tiro no rosto da arma que está nas mãos do marido.

Ele mesmo chama a polícia e vem até a casa, um policial, o que estava na piscina. É o amante da mulher dele.

“- Sua mulher está bem?” pergunta.

“- Acho que não. Atirei na cabeça dela.”

Os dois se atracam e rolam no chão. Chegam os bombeiros e mais policiais.

Uma ambulância leva a mulher de Crawford para o hospital. Detectaram pulso. Está viva. Mas em coma.

Esse é só o começo. Vamos assistir a uma disputa de gato e rato, na qual cada movimento gera o próximo, numa cadeia de ações.

Dois grandes egos se batem na arena da imaginação e conhecimento. O suspense é gerado pelos personagens nessa engrenagem complicada.

Mas nem o projeto amoroso com uma bela Rosamund Pike vai distrair o jovem promotor desse duelo de inteligências e esperteza.

“Um Crime de Mestre” tem atores talentosos num duelo de mentes. Quem gosta de suspense e filmes de tribunal vai adorar.

Um excelente entretenimento.

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Gloria

“Gloria”- Idem, Chile, 2013

Direção: Sebastián Lelio

Ela tem 58 anos mas parece menos. Divorciada há 10, tem dois filhos criados e um bom emprego. Ainda guarda um porte leve e adora dançar.

Não todas as noites, mas quando tem vontade, vai a uma boate frequentada por gente de sua idade. E a vemos, de óculos e colar de pérolas encontrar um velho conhecido na pista de dança. Mas não é esse tipo de homem que ela quer.

Volta à casa e lá está ele, o gato do vizinho, que escolheu morar com Gloria, apesar de ser devolvido ao corredor toda vez que ela o encontra. O dono dele é um cara surtado, vizinho do andar de cima, que grita e fala alto durante a noite.

Dia seguinte, Gloria canta junto a música romântica que vem do som do carro. Ela é uma pessoa assim. Alimenta a esperança de encontrar alguém, um companheiro que também queira alguém.

E, ao que parece, de noite na boate, pode ser que seja ele, aquele que flertou com ela e veio sentar a seu lado perguntando:

“- Você é sempre tão alegre?”

Ele dança bem e mantém olhos nos olhos nas músicas românticas. Está divorciado há um ano. Seus corpos maduros criam uma química boa, uma satisfação que ambos buscam.

Mas Gloria, que tem uma convivência nada invasiva com seus filhos, um rapaz que é pai solteiro e uma moça que dá aulas de ioga e apresenta o namorado sueco para a mãe, vai se surpreender com Rodolfo e a dependência que ele demonstra cada vez que o celular toca e são suas duas filhas ou a ex que ele sustenta. Tudo isso durante o jantar com Glória, que ele ainda não apresentou para as filhas, para evitar complicações.

Paciente, ela ouve as explicações de Rodolfo, mal formuladas e indicativas da fragilidade dele e da mútua dependência que mantém com a família.

Gloria não merece, nem quer um segundo lugar na vida de um homem. Quanto mais com alguém tão confuso e inseguro.

Mas ela dá uma nova chance a ele depois de um rompimento.

Paulina Garcia ganhou o Urso de Prata de melhor atriz em Berlim, onde “Gloria” era o representante chileno. Merecido. A atriz de teatro, cinema e televisão, é quem ilumina a tela nesse filme escrito pelo diretor Sebastián Lelio, do ponto de vista da personagem Gloria.

Determinada e afetuosa ela não é o tipo que fica chorando num canto quando se decepciona. Segue em frente.

“Gloria” é um filme que mostra uma mulher que sabe que ninguém é de ninguém e que ficar sozinha pode ser melhor do que uma companhia parasita, que não dá nada em troca de sua alegria.

O grande final só podia mesmo ser a música “Gloria” de Umberto Tozzi que, nos anos 70, levava todo mundo para dançar na pista.

Belo final.

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