The Falls

“The Falls”- “Pu bu”, Taiwan, 2021

Direção: Chung Mong-Hong

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A mãe bate na porta do quarto da filha e a chama para ir para a escola. Ambas estão atrasadas.

As duas vivem num apartamento espaçoso e bem decorado, de um jeito feminino. Situado num bairro caro da cidade, tem a fachada em reforma.

Observamos nas primeiras cenas que Pi-wen, a mãe (Alyssia Chia) e a jovem adolescente Xiao Jing (Gingle Wang) não tem uma relação fácil. Respondem uma à outra com quase rispidez.

Pi-wen é mãe solteira independente, bem cuidada e trabalha num posto importante numa multinacional.

Mas tudo vai mudar.

É o início da pandemia de coronavírus e todos usam máscara tanto no trabalho da mãe como na escola da filha. Infelizmente o vírus causa muitas mudanças, como sabemos e uma delas vai mexer com a estabilidade emocional da mãe. Inesperadamente, tem uma queda no seu salário e a vemos bastante nervosa. Parece que existem dívidas não pagas por causa de investimentos que não deram certo. O dinheiro está curto.

Como se não bastasse, a filha é mandada para casa porque surgiu um caso positivo na sala de aula. Uma menina que sentava atrás da filha. Ao saberem disso em seu trabalho, a mãe é aconselhada a guardar a quarentena com a filha em casa.

Tudo parece desmoronar com esses acontecimentos. A animosidade entre as duas, convivendo na quarentena, torna o clima quase insuportável.

A mãe resolve chamar o pai da adolescente para ajudá-la com a filha. Mas parece que o motivo foi outro. Ainda está envolvida com seu ex, homem casado com um mulher mais jovem sendo que os dois tem um filho.

O pai, que nunca esteve presente, faz ver que a família dele tem que ser respeitada. Isso afunda ainda mais a autoestima da mãe, que tem um surto e sai sozinha na noite de tempestade à procura da filha. É encontrada bastante desorientada e levada para o hospital.

Quando ela volta, um incêndio quase destrói o apartamento e ameaça o sossego dos outros condôminos. Mãe e filha vão ter que enfrentar uma crise ainda maior. Novo surto da mãe. Aparentemente um acidente na cozinha dela foi a causa do fogo. Ela agora é internada na ala psiquiátrica o hospital.

O diretor Chung Monj-hong, conhecido também pelo pseudônimo Nagao Nakashima, é co-roteirista e diretor de fotografia desse filme que coloca em evidência a pandemia e o quanto as pessoas se sentem fragilizadas, principalmente quando as coisas já não corriam bem. Tudo emerge com força das águas profundas.

A troca de papéis mãe/filha com o amadurecimento forçado pelo qual passa a filha, é muito comovente. E o final do filme alude ao amor, paciência e compreensão necessários quando desastres afetam o estado emocional de alguém na família.

“The Falls” é um filme intimista, feito de pequenos acidentes que aproximam mãe e filha, utilizando as máscaras da pandemia para que os olhos falem mais sobre o sentimentos calados.

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Anne Frank, Minha Melhor Amiga

“Anne Frank, Minha Melhor Amiga”- “Anne Frank, My Best Friend”, Holanda, 2021

Direção: Ben Sombogaart

Anne e Hannah tinham a mesma idade, 13 anos e moravam em Amsterdã em 1942. A Segunda Guerra avançava na Europa mas ainda não tinha chegado muito perto das meninas. Bem, é verdade que usavam uma estrela amarela no braço porque eram judias. Mas isso não amedrontava tanto aquelas duas.

Elas eram as melhores amigas apesar de temperamentos diferentes. Anne, a mais extrovertida, e Hannah a mais tímida e inocente. Anne queria ser artista de cinema em Hollywood ou escritora famosa e Hannah, enfermeira como Florence Nightingale.

Anne Frank realizou seu sonho depois de sua morte, com a publicação de seu diário, onde conta como se sentia durante o tempo em que ficou num sótão com os pais, escondida dos nazistas. E como sofreu com o isolamento, ela que era tão divertida e gostava de estar com os amigos.

O filme se baseia nas lembranças de Hannah Goslar e conta sobre sua amizade com Anne, episódios vividos pelas duas. Como por exemplo na cena que abre o filme com um “five o’clock tea”, o chá dos ingleses, com as duas sentadas no tapete, bebendo em suas xícaras e uma Anne, frívola e feliz, pede champanhe. Tudo de mentirinha.

Mas logo Hannah tem um choque profundo de realidade. Aquela que jurara nunca a abandonar, partira para a Suiça deixando ela para trás. Mal sabia que a amiga estava escondida, sem poder sair de um estreito sótão.

Hannah, interpretada por Josephine Arendsen, é o centro da história e vai ser levada para o campo de Bergen-Belsen, com o pai e a irmã pequena, Gabi. A mãe grávida morrera dando a luz a um bebê prematuro. Esse luto mal teve tempo de ser chorado porque horrores esperavam a família no campo de concentração.

Para lá foram levados, brutalmente arrancados da casa onde viviam, para ocupar um galpão sujo e gelado, onde dormiam em beliches apertados.

E a cada dia suportavam com fome e frio os maus tratos dos soldados nazistas que tinham o direito de matar e humilhar a todos os prisioneiros como e quando bem quisessem.

O encontro inesperado das duas amigas, nesse lugar terrível, é um momento emocionante e triste, Principalmente para quem conhece a história de Anne Frank. Seria o ultimo encontro delas, vivido com intensidade e reafirmando que a amizade delas era realmente sólida.

Hannah enfrenta perigos com uma coragem espantosa para levar comida e pequenos presentes significativos para Anne.

O diretor do filme, Ben Sombogaart, conversou várias vezes com Hannah Goslar que vive em Israel com mais de noventa anos. Apesar da pandemia do Covid 19 ter atrapalhado as filmagens, o filme ficou pronto a tempo de ser mostrado para Hannah Goslar e sua família, que adoraram ver a história da amizade das duas meninas, tão importante na vida delas.

E para nós, fica a reflexão sobre esse período triste da história da humanidade, agora que o antisemitismo parece querer fazer um retorno.

Não permitiremos.

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