Belfast

“Belfast”- Idem, Reino Unido, 2021

Direção: Kenneth Branagh

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Estamos no dia 15 de agosto de 1969. Era verão e as crianças brincavam nas ruas do bairro de Belfast na Irlanda do Norte.

De repente, Buddy, de 9 anos, vê uma turba de lenços escondendo as caras, invadir o espaço tranquilo das casas de trabalhadores, arremessando coquetéis Molotov. Gritaria. Fogo. Bombeiros.

Onde havia calma, gritos de crianças e as mães chamando os filhos para almoço ou jantar, instalam-se barricadas.  O alvo da raiva e do ódio são os católicos, mais numerosos em Belfast. Logo o exército presente nas ruas invade as casas e faz prisões.

Buddy (Jude Hill), olhos muito claros e assustados, presencia aquele tumulto sem entender o porquê. Ouve os pais discutindo, percebe a tensão e o medo:

“- Mas somos amigos dos católicos e nós, protestantes, nunca fizemos essa distinção entre nós e eles… Esse absurdo vai acabar logo ”, diz o pai de Buddy, que trabalhava em Londres e visitava a família de tempos em tempos.

Kenneth Branagh, diretor e roteirista desse filme rodado num preto e branco brilhante, traz cenas que são vistas pelos olhos de Buddy, ele mesmo menino.

E é isso que faz toda a emoção que vamos sentindo ao longo do filme. A criança não pode entender como tudo mudou. Mas, enquanto aquela menina de cabelos louros olhar com olhos doces para ele na escola, tudo vai bem. Os dos revezam-se nos lugares de honra da classe. São bons alunos e religião nunca atrapalhou o que há entre eles. Buddy diz ao pai (Jamie Dorman) que vai casar-se com ela quando crescer.

Apesar de toda a família do menino ser protestante, eles não estavam imunes às divergências nas ruas. Não concordavam com os protestantes raivosos mas a solução seria mudar-se para a Inglaterra. Ou Canadá.

Isso corta o coração de Buddy que não quer ir para longe da avó (maravilhosa Judi Dench) e do avô (Ciarán Hinds), nem abrir mão da menina que ele ama.

Sua mãe (Caitriona Balfe) também não quer largar sua casa e amigas de toda uma vida.

E Branagh termina seu filme escrevendo na tela:

“Para aqueles que ficaram. Para aqueles que se foram. E para todos aqueles que perdemos”.

Emoção na elegia a uma paz que demora a chegar, destruindo lares e ligações afetivas. Mais ainda, roubando vidas sempre preciosas.

O filme “Belfast” foi indicado a 7 Oscars: melhor filme, melhor diretor, melhor atriz coadjuvante (Judi Dench), melhor ator coadjuvante (Ciarán Hinds), melhor roteiro original, melhor som, melhor música original (Van Morrison “Down to Joy).

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O Violino do Meu Pai

“O Violino do Meu Pai”- “Babamin Kemani”, Turquia, 2022

Direção: Andaç Haznedaoglu

Os filmes turcos estão agradando muitos que assinam a NETFLIX. São leves, mesmo quando há elementos trágicos na história, os atores são competentes e geralmente a fotografia é bela e os cenários naturais interessantes. Os enredos são previsíveis mas, mesmo assim, os espectadores mais sensíveis ficam com os olho marejados. A certeza é a de que os finais são felizes.

Em “O Violino de Meu Pai” a tudo isso somamos uma ótima trilha sonora com violinos e uma menina de 8 anos, que se destaca porque é engraçada, tem longos cabelos ruivos e dança com prazer e entusiasmo. Logo estamos torcendo por ela (Gulizar Nisa Uray).

A história acontece em Istambul, capital da Turquia, uma cidade que é dividida pelo estreito de Bósforo. De um lado da ponte que atravessa o rio é Europa, do outro a Ásia. A cena inicial mostra a Mesquita Azul e a Agia Sophia, antiga catedral e depois museu, hoje também mesquita, cercadas pelo casario de telhados ocres e construções de pedra.

É noite e dois homens protagonizam uma conversa na porta de um teatro onde acabara de acontecer um concerto. Um deles (Engin Altan Duziatan) alto, bem apessoado e com roupas elegantes é o “virtuoso”, violinista, aplaudido há pouco pela plateia em pé. O outro (Selim Erdogan), pálido e mal vestido, é interpelado pelo musicista:

“- O que faz aqui? ” pedindo à sua mulher que o acompanhava para seguir na frente. Pega uma foto que o outro lhe entrega. Dois meninos sorriem para a câmera.

“-Já tive uma foto como essa. Rasguei. O que vem fazer aqui depois de 32 anos? “ diz com frieza.

“- Não consegui falar com você. A Itália é longe. Mas vim te contar que você tem uma sobrinha de 8 anos. Parecida com você. E toca violino. ” Faz uma pausa e continua, “estou morrendo Mehmet. Ela só vai ter você, seu tio, quando eu me for…”

Os dois são irmãos mas diferentes em tudo. E algo aconteceu para o violinista ficar zangado e querer ir embora sem escutar nem uma palavra a mais:

“- Você fugiu Ali. Eu fiz tudo sozinho. “

E vai. Em casa, diz para a mulher Suna (Belçim Bilgin):

“- Ele tem os mesmos olhos do dia em que me abandonou e fugiu. “

Mehmet e Ali Reza tiveram destinos diferentes. A menina vai também mudar de vida. Até a morte do pai vai continuar se apresentando na rua com ele e três amigos que a adoravam. Ozem dançava com alegria e depois recolhia as gorjetas do pessoal em torno a eles.

Muita coisa vai acontecer entre aquela ruivinha extrovertida e seu tio, frio e distante.

“O Violino de Meu Pai” pode ser um bom programa para esquecermos um pouco esses dias terríveis que estamos vivendo, assustados com o que acontece tão longe daqui mas tão perto através das notícias e fotos trágicas que vemos.

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